segunda-feira, 10 de outubro de 2016

AquaRio recebe ajustes finais e se prepara para abrir as portas


Logo à entrada, a sensação é de puro deslumbramento. Cercado de água por todos os lados, como se estivesse de fato submerso, o visitante é recebido por cardumes de olhos-de-cão, pampos, baiacus e tainhas, arraias de diversas espécies e um tubarão galha-branca-de-recife que se movem em um envolvente vaivém, à direita, à esquerda e por cima da cabeça também. Em meio à imensidão azul, rodeado por milhões de litros de água e separado daquele inacreditável mundo subaquático apenas por uma casca transparente - na verdade, uma estrutura tubular de acrílico ultrarresistente -, não há como não se sentir protagonista de filmes como Procurando Nemo, por exemplo. A espetacular experiência se estende por um percurso de 20 metros, sob uma coluna d'água de 5 metros de altura. Trata-se do túnel que corta o chamado Tanque Oceânico, a atração mais vistosa do Aquário Marinho do Rio, o AquaRio, que abre as portas oficialmente em 9 de novembro. O tanque gigantesco é o ápice de uma visita que antes passa por um grande hall decora do com uma ossada de baleia jubarte e percorre um circuito com 28 recintos de observação da vida marinha. Foram criados tanques com espécies do costão rochoso, de regiões arenosas, só com animais perigosos e outros destinados a tubarões-bebês. Há ainda uma sequência de estruturas de acrílico reservadas aos coloridíssimos peixes do Caribe e do ponto em que o Oceano Índico se encontra com o Pacífico, próximo à Indonésia. Todo esse grandioso complexo é a materialização de um sonho que começou há nove anos, enfrentou uma sucessão de percalços e em poucos dias, enfim, poderá ser conhecido pelos cariocas. "Não temos dúvida de que o aquário se tornará um ícone do Rio, junto com o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar", comemora o biólogo marinho Marcelo Szpilman, idealizador e diretor-presidente do AquaRio.     

Depois de sucessivas mudanças no cronograma, e de muitos duvidarem que o AquaRio sairia do papel, o complexo está praticamente pronto. A iluminação que ressalta o ambiente marinho foi aprovada nos testes e a loja de suvenires, por onde as pessoas passarão após o tour, teve sua pintura e marcenaria concluídas. Falta apenas instalar os quiosques de alimentação no lobby e concluir o processo de equilíbrio biológico de alguns tanques. O aquário carioca, que quando inaugurado se tornará o maior da América do Sul, surgiu da vontade ferrenha e obstinada de Szpilman, um apaixonado por tubarões. Em 2007, ele obteve da prefeitura a cessão de uso por cinquenta anos de um prédio da antiga Companhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazem), que já foi um frigorífico, localizado na região portuária. Na ocasião, ninguém imaginava que a construção estaria no epicentro da área que viria a ser conhecida como Porto Maravilha, totalmente remodelada.  

Exemplar solitário de empreendimento cultural erguido sem um tostão de dinheiro público na região do Porto, o projeto estava com abertura prevista para 2010 ao custo de 65 milhões de reais. Passados seis anos do prazo, consumiu o dobro do valor. Durante esse período, patrocinadores retiraram-se da empreitada, as obras tiveram seu ritmo reduzido e os incorporadores, como todo o país, depararam com a recessão econômica avassaladora. Szpilman, em conjunto com Roberto Kreimer, diretor da Kreimer Engenharia, responsável pelas obras e especializada em estruturação de negócios, montou um plano que decolou com o apoio de três parceiros. A atração foi financiada e será gerida pelo Grupo Cataratas, que administra parques como o de Iguaçu, pela Esfeco, que opera os trens do Corcovado, e pela empresa de transporte Bel-Tour. "É uma enorme realização entregar um projeto ousado, autossustentável, de porte internacional e feito totalmente com recursos privados", enfatiza Kreimer.

Com capacidade para abrigar 8 mil animais de 350 espécies, o aquário será aberto, no entanto, com 2 000 seres marinhos de 200 tipos. O intuito é que eles se desenvolvam no bioma artificial e que os reservatórios recebam novos moradores gradativamente. O foco principal é o litoral brasileiro - 90% dos peixes que compõem o plantel são iguais aos capturados na nossa costa e consumidos pela população. Para dar vida, literalmente, à estrutura, foram feitas parcerias com pescadores esportivos e profissionais de todo o estado. Antes de povoarem os tanques, os animais passam por uma quarentena, que vem registrando quase 100% de aproveitamento. VEJA RIO acompanhou, há um ano, a primeira pescaria, no Arquipélago das Cagarras. O xerelete que inaugurou os tanques do local - e cuja captura foi registrada pela reportagem - hoje se encontra em um tanque cilíndrico com um domo, onde o visitante tem a chance de ver um cardume nadar ao redor da sua cabeça. Como em qualquer atração do gênero, os tubarões despertam especial interesse. A expectativa é que o complexo tenha pelo menos quarenta deles, de espécies como mangona, galha-preta-de-recife, lixa, porco e bambu. O primeiro, um galha-branca-de-recife, veio da Indonésia há um mês. Mais dois animais chegarão nos próximos dias. "É preciso desmistificar algumas espécies. À medida que você aproxima as pessoas desse universo extraordinário, o desejo de preservação é despertado", acredita o diretor do aquário.

Com cinco andares, 26 000 metros quadrados de área construída e tanques que somam 4,5 milhões de litros de água salgada - o equivalente a duas piscinas olímpicas cheias -, o AquaRio fica na extremidade da Orla Conde, a dez minutos de caminhada do Museu do Amanhã. Para quem não quer andar, há uma estação do VLT na porta. O espaço funcionará das 10 às 18 horas, sete dias por semana, com capacidade para receber até 1 000 pessoas por hora. Espera-se que já no ano de estreia contabilize 1 milhão de visitantes, e nos seguintes atinja o dobro dessa marca. Os primeiros lotes de passaportes individuais e para a família (dois adultos e dois menores até 17 anos), com acesso ilimitado por um ano, esgotaram-se rapidamente. Nos próximos dias serão disponibilizados para venda pela internet os ingressos para as visitas, cujos preços variam de 40 a 80 reais. "Por todas as suas características, o AquaRio é considerado um equipamento de classe mundial. Não deixa a desejar em nada em relação aos principais aquários lá de fora", diz Fernando Duarte Menezes, diretor de operações do complexo.

Alinhada com os maiores aquários do mundo, a nova atração do Rio não se propõe apenas a deslumbrar o público. Educação, pesquisa e conservação também estão entre as suas prioridades. Ao final do roteiro de visitação, por exemplo, será possível acompanhar por janelões de vidro a rotina de um laboratório. A unidade, em parceria com a Universidade Federal do Rio (UFRJ), fará análises da água do local, pesquisas científicas e reprodução em cativeiro de seres marinhos. Estão em fase de montagem um museu do surfe, uma mostra de conchas e uma exposição sobre projetos como o Tamar, de preservação das tartarugas. Os frequentadores terão acesso ainda a recintos onde se poderá tocar em arraias e tubarões do tipo bentônicos, que ficam rentes ao solo. O tour reserva ainda uma experiência virtual, com grutas interativas. O mergulho com os tubarões e a visita aos bastidores serão disponibilizados numa segunda etapa. Embora guarde características peculiares, o AquaRio foi inspirado nas maiores referências do gênero, entre elas o Oceanário de Lisboa, aberto em 1998 e considerado o melhor da Europa, e o Monterey Bay Aquarium, na Califórnia, inaugurado há trinta anos, e que recebe água direto daquela baía. "Ao longo dos últimos anos vivi uma montanha-russa de emoções. Em certos momentos, estava confiante e, em outros, achava que tudo estava perdido, mas nunca desisti do projeto", completa o biólogo Marcelo Szpilman. O Rio só teve a ganhar.



Veja Rio, Sofia Cerqueira, 09/out