terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Mais despesa com o IPTU


De nada adiantou a aprovação por unanimidade na Câmara dos Vereadores, em primeira discussão, do projeto de lei 170/2016, que proíbe Niterói de cobrar juros sobre o parcelamento do IPTU. Na madrugada da última quarta-feira, quando a matéria voltaria a plenário para votação definitiva, a base do governo conseguiu retirá-la de pauta, empurrando o debate para a próxima legislatura, que começa em fevereiro. Com isso, a incidência de 1% de juros sobre as parcelas do imposto, discriminada nos carnês de 2017, está mantida, uma vez que, mesmo que fosse aprovado na retomada dos trabalhos da Casa, o projeto de lei só teria seus efeitos válidos para 2018. A prefeitura informou que avalia suspender a cobrança a partir do ano que vem.

Responsável pelo requerimento que retirou de pauta o projeto de lei, o líder do governo na Câmara, Milton Cal (PP), justifica que ele era inconstitucional. Garante, contudo, que já havia entrado em acordo com a prefeitura para sustar a cobrança em 2018.

Sete vereadores foram contrários ao adiamento da votação: Paulo Eduardo Gomes (PSOL), Bruno Lessa (PSDB), João Gustavo (PHS), Beto da Pipa (PMDB), Leonardo Giordano (PC do B), Daniel Marques (PV) e Carlos Macedo (PRB). E nove seguiram a orientação do líder da base: Betinho (SDD), Bira Marques (PT), Andrigo (SDD), Emanuel Rocha (SDD), Priscila Nocetti (PMB), Rodrigo Farah (PMDB), Paulo Henrique (PPS), Verônica Lima (PT) e Renato Cariello (PDT).

- Conversei com técnicos do governo, e o Executivo se comprometeu a mandar uma mensagem agora, no início do ano, baseada na indicação feita pelo vereador João Gustavo - diz Cal, que explica a retirada de pauta: - Sou favorável ao projeto, mas o vereador não tem prerrogativa de legislar sobre questões tributárias do município. Retiramos com o compromisso de o governo enviar uma mensagem com o mesmo conteúdo.

Taxa nos carnês é legal, afirma especialista

O advogado Hermano Cabernite, especialista em administração pública, reitera que vereadores não estão aptos a interferir na cobrança ou não de juros:

- Um vereador não pode modificar isso. O Código Tributário Nacional dispõe que, sobre qualquer tributo que não é pago integralmente no seu vencimento, pode incidir juro de 1% ao mês. Neste caso compensatório, em razão do parcelamento.

Diante da retirada de seu projeto de pauta, o vereador João Gustavo fez uma indicação ao Executivo solicitando que o prefeito revogue a cobrança neste ano. Ele entende que a taxa prejudica, sobretudo, a população com menor poder aquisitivo - que tem mais dificuldades de pagar o IPTU à vista.

- Espero que o prefeito se sensibilize e volte atrás. É simples: basta fazer um encaminhamento à rede bancária informando que todas as parcelas terão valor igual ao da primeira - sugere.

Por meio de nota, a prefeitura de Niterói confirmou que vai manter a decisão da Secretaria municipal de Fazenda de aplicar os juros sobre o parcelamento do IPTU 2017. Confirmou, entretanto, que por solicitação da base do governo na Câmara, o prefeito pediu que as equipes econômica e da Procuradoria avaliem o encaminhamento do projeto de lei no primeiro semestre de 2017, com vigência a partir de 2018, para suspender a cobrança.

É a primeira vez que a taxa incide sobre os carnês, embora a Secretaria municipal de Fazenda (SMF) explique que o financiamento sem juros era uma liberalidade praticada pelo município. O órgão justifica que o objetivo da mudança é ajustar as contas diante da crise econômica para garantir investimentos na cidade.

Erro em consulta levou a boato

Para tentar reverter a cobrança dos juros, os vereadores Bruno Lessa e Paulo Eduardo, membros da Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara, protocolaram duas representações junto ao Ministério Público. Para eles, faltou transparência no processo, pois não houve comunicação à sociedade. O resultado foi que os cidadãos ficaram surpresos e indignados quando receberam os carnês.

Na semana passada, contribuintes chegaram a crer que o prefeito Rodrigo Neves voltara atrás na decisão da cobrança devido a uma distorção nas informações geradas no site da Secretaria de Fazenda. Ao requerer a segunda via do carnê de IPTU, o sistema, em uma primeira tela, não mostrava o cálculo dos juros sobre as parcelas, o que deu uma falsa esperança a quem consultava os valores online. Contudo, eles eram corrigidos quando o boleto bancário era gerado.

O valor do IPTU em Niterói foi reajustado em 8,48%, seguindo a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). A atualização é referente ao período de outubro de 2015 a setembro de 2016. O município informa que "imóveis que sofreram alterações além desse percentual passaram por correção de erros encontrados no cadastro. Esses lançamentos complementares foram feitos após fiscalização da SMF".



Extra, Mais São Gonçalo, 03/jan