segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Aplicativos aproximam moradores e oferecem serviços que facilitam a vida nos condomínios


Hoje há aplicativo (apps) para tudo. E grupo de WhatsApp, então, nem se fala. É da família, dos subgrupos da família, dos pais de alunos do maternal, dos velhos amigos do primeiro ano da escola primária, da turma da faculdade, dos pets que frequentam a pracinha, dos primos distantes e por aí vai. Nos condomínios não é diferente. É cada vez mais comum moradores formarem grupos de conversa com vizinhos e usarem aplicativos específicos para agilizar assuntos referentes ao dia a dia dos condomínios.

A iniciativa do uso e o gerenciamento, geralmente, vem dos síndicos ou das administradoras, e os serviços nos apps, em sua maioria, incluem reservas de áreas comuns para festas, controle de entrada na portaria, avisos, extratos de contas e até mesmo reunião virtual ou ronda dos vigias controladas pelo celular.
Com a adesão de moradores à tecnologia, também cresce a quantidade empresas desenvolvendo estas plataformas. Neste ano, por exemplo, foram criados o o Interbind, o CondomínioApp.com e o Nobi - e ainda há mais para chegar nos próximos meses. O custo é sempre do condomínio, enquanto algumas cobranças são fixas e outras por unidade/mês.

No CondomínioApp.com, há oito meses no mercado, por exemplo, as funções mais acessadas são para enviar e ler comunicados e reservar áreas comuns. Entre as outras ferramentas do sistema, o morador também consegue autorizar a entrada de visitas, falar com outros moradores, participar de enquetes e anunciar itens para venda ou vagas de garagem.

Os aplicativos são vendidos tanto para administradoras quanto diretamente para os condomínios e síndicos, e o preço mensal varia de R$ 1,80 a R$ 3,50 por unidade.

- Se acabar a água, até o síndico escrever e enviar uma nota para todos, já haverá morador reclamando. O aplicativo dá uma velocidade muito maior à comunicação - explica Néia Oliveira, gerente de implementação do CondomínioApp.com, ressaltando que o envio de alguns avisos também continua por e-mail e, dependendo do caso e do perfil do prédio, por escrito. Segundo ela, a adesão média é de 40%, mas pode chegar a 90% dos moradores de um mesmo condomínio.

CONEXÃO GESTORES E MORADORES

Salete Salvador e Rui Sebastião começaram a usar o CondomínioApp.com há dois meses, quando o prédio onde ela atua na administração e ele é morador, no Recreio dos Bandeirantes, passou a usar o aplicativo.

- Para mim, está sendo ótimo. Usamos para agendamentos, divulgação de avisos e ata de assembleia. É uma forma melhor de comunicar - afirma Salete.

Sebastião diz que também está gostando e tem até algumas sugestões:

- Uso o aplicativo para reservar o salão e ler os avisos. Ontem mesmo eles avisaram que um conserto pendente no condomínio ficou pronto. Apesar de ser por telefone, é mais pessoal e prático. Eu acho que o que precisa acrescentar é uma agenda comunitária com contato de bombeiros, marceneiro e pintor, por exemplo. Isso seria bom porque tem a referência e compartilhamento - propõe Sebastião.

A Interbind é outro aplicativo também recente. No mercado há três meses e já está em 50 condomínios pelo país, sendo três em teste no Rio. Há dois planos: o ouro, que é gratuito, e o diamante, que custa R$ 10 por unidade para implementação e mais R$ 1,50 por unidade/mês (sendo o mínimo 50 casas). As funções, além das básicas de reserva, incluem, ainda, enquete e reunião virtual de condomínio. Há quatro perfis: moradores, porteiros, síndico e administradora. Virgílio Couto, criador e sócio do Interbind, destaca a as reuniões virtuais:

- O síndico pode marcar um chat e deixálo aberto por uma semana. As pessoas já vão opinando e se inteirando dos assuntos. Depois é só reunir presencialmente para validar. Facilita muito e tem funcionado bem. A votação pode ser online e a ata, digital.

RONDA VIRTUAL

Aplicativos para condomínios costumam ter versões para computador e smartphone, mas nem sempre com as mesmas funções. É o caso do Nobi, criado por Danielle Cohen no Laboratório de Engenharia de Software do Departamento de Informática do CTC/PUC-Rio.

No site há mais serviços (enquetes, calendários, reservas, classificados e outros). Já no smartphone, apenas a opção da ronda eletrônica, em que o vigia deve seguir uma rota e, em determinados pontos, escanear com seu app um QR Code (código de barras digital). Assim, todos os moradores conectados ficam sabendo se a rota foi feita na íntegra e, automaticamente, se está tudo bem.

- Conversando com síndicos veio a ideia de organizar o condomínio virtualmente por meio de um sistema que integrasse tudo, tanto a comunicação quanto os avisos - explica Danielle sobre como surgiu o NOBI.

O serviço está disponível no Android e custa R$ 260 por condomínio, por mês.

Além do sistemas criados por empresas de tecnologia, as administradoras investem em modelos próprios. É o caso da Apsa, que gerencia uma ampla rede de condomínios no país e aposta neste segmento.

Atualmente, a empresa tem dois aplicativos. Um deles é tanto para o público externo, com busca de imóveis para locação e venda, quanto interno, com consulta ao extrato do condomínio e segunda via do boleto.

O outro aplicativo é voltado para a vida interna nos condomínios, o que inclui, entre outras funções, reserva de espaços comuns, avisos e ordens de serviço. Segundo Washington Rodrigues Filho, gerente da área de tecnologia da Apsa, este app é voltado para condomínios grandes, com perfil de clube-residencial.

Apesar de a proposta de oferecer agilidade aos moradores, a adesão aos aplicativos ainda é um desafio, especialmente pela quantidade de apps que cada morador já tem em seu smartphone.

Para mudar isso, a Apsa está reformulando seus sistemas e pretende lançar no início do próximo ano um programa único, integrando os dois que já existem. Além dos aplicativos, uma ferramenta prática hoje usada em muitos condomínios é o grupo no WhatsApp. Indicado para prédios com até 20 unidades (para ninguém ficar louco e se perder com tantas mensagens), o sistema em tempo real permite uma conversa ágil e soluções rápidas de problemas simples, que não exigem assembleia.

- O síndico põe uma questão para ser votada pelo grupo, por exemplo, e as pessoas vão dizendo se querem ou não. Depois, é só formalizar. Com locatários e locadores funciona bem, porque a resposta é rápida e fica registrada - explica Sonia Chalfin, diretora da Precisão Administradora, que tem 60% dos seus condomínios usando grupos de WhatsApp e, ainda neste mês, lança seu aplicativo próprio.

Enquanto os síndicos e administradores usam o app, em sua maioria, para avisos e enquetes, os moradores recorrem ao grupo principalmente para reclamações. Sonia ressalta, entretanto, que as decisões dependem da importância do tema.

- Se for para falar que o elevador está parado, por exemplo, o WhatsApp resolve. Agora, se for a troca deles, que envolve um custo maior, aí tem que ser na assembleia, mesmo. Correntes, imagens fofas de bom dia e discussões polêmicas são o tipo de conteúdo que pode transformar a ferramenta on-line em dor de cabeça.

O síndico profissional Eduardo Ximenes sabe bem o que é isso. Nos condomínios que administra, a maioria tem grupos no WhatsApp, o que geralmente ajuda. Mas há exceções.

- Em um dos condomínios, alguns moradores começaram a trazer opiniões sobre assuntos de fora, a enviar mensagens de bom dia e até a escrever grosserias. Isso desvia o propósito de ter este canal. Por outro lado, já tive casos, neste mesmo prédio, em que uma área comum foi vandalizada e, ao colocar no grupo, os próprios moradores passaram a fiscalizar - conta.

Ximenes destaca que há outras ferramentas úteis que facilitam a comunicação nos condomínios, como o Drive (para compartilhar documentos), aplicativos e e-mail. Nos maiores, diz, é melhor o caminho tradicional, através da portaria, com circular, avisos por escrito e cartas. Vale o que tiver mais adesão geral.

Cami Hadid Nigri, que é síndica profissional há 30 anos, corrobora a posição dos colegas. Para ela, a agilidade da internet é ótima, desde que usada com sabedoria.

- A internet mudou a comunicação e os condomínios não poderiam ficar de fora. As pessoas têm que estar conscientes de que é uma ferramenta e tem um propósito, e não ficar mandando assuntos fora do contexto.



O Globo, Raphaela Ribas, 08/out