segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Casa no Porto


A região portuária do Rio, outrora abandonada, passou por grandes transformações nos últimos anos. Ganhou museu, aquário e é ponto de diversos eventos na cidade. E, a partir da próxima semana, sediará a Casa Cor deste ano.

De 24 de outubro a 30 de novembro, mais de 40 ambientes, entre salas, quartos, espaços comerciais e apartamentos inteiros no estilo loft (apês sem paredes), concebidos por 70 profissionais, estarão abertos ao público destacando as tendências de decoração. As entradas custam a partir de R$ 25 (valor de terça a sexta-feira).

Além de destacar o que está em alta, a edição desta ano quer apresentar propostas de moradia para a região portuária, um desafio ainda a ser vencido. Com a crise, o setor imobiliário esfriou em toda a cidade, ganhando tons especialmente dramáticos naquela área. Mas os investidores acreditam que povoar o Porto é apenas uma questão de tempo.

- O Porto do Rio foi pensado para ser um mix de trabalho, moradia e cultura. Na sua missão de ser o reflexo da ocupação urbana da cidade e estilo de vida de seus moradores, a Casa Cor Rio 2017 valoriza o movimento de revitalização da zona portuária que se iniciou há sete anos, a exemplo do que já aconteceu em grandes metrópoles mundo afora - afirma Patricia Mayer, sócia-diretora da mostra.

PRÉDIO RECÉM-INAUGURADO

A Casa Cor acontece no Aqwa Corporate, da Tishman Speyer, um prédio de 22 andares, inaugurado na última quinta-feira - e é um dos edifícios que começa a dar uma nova cara para a região. Um dos destaques é o espaço "Ilha Alta", do arquiteto Mario Santos. Em um espaço de 140 m², ele construiu um loft dentro de brises de madeira ecológica móveis, para não desperdiçar a vista.

- A ideia foi criar um ambiente acolhedor e ao mesmo tempo que permitisse aproveitar a vista do Rio. Esse loft poderia ser usado por um jovem ou adulto que viesse a trabalho ou passeio, mas também por um carioca. Há uma movimento de migração dentro da própria cidade - diz Santos.

A exposição deste ano apresenta ambientes elegantes e viáveis, trazendo o clima contemporâneo portuário, já conhecido lá fora. Entre ambientes, chama a atenção o "AP. Y", de Monique Pampolha e Hannah Cabral. De toque contemporâneo, a dupla propõe um espaço para a geração Y, independentemente de gênero, em que cores como rosa e cinza prevalecem.

Outro espaço é o de "Gabinete de Curiosidades", de Patricia Fendt, em que o sofá e as banquetas da grande bancada são direcionadas para fora. Há ainda uma luneta, para que os visitantes possam usufruir da vista, que inclui o Pão de Açúcar. Em vários ambientes, atrações à parte são os banheiros.

Em muitos deles, o chuveiro ou banheira fica de frente para a janela, sem cortina. Quem arrisca? Entretanto, um deles se destaca. É o Box 21, de Bernardo Gaudie-Ley e Tânia Braida: fica dentro de uma caixa de vidro canelado. Aocupação habitacional na região portuária ainda é um desafio a ser vencido. Apesar dos investimentos feitos até agora, não há novas construções, apenas projetos licenciados. O cenário é reflexo de uma crise econômica que acometeu o Brasil, em especial o Rio e setores como o mercado imobiliário. Mas, segundo empresários, faz parte também de um processo longo e natural de migração.

A Tishman Speyer, que inaugurou na última quinta-feira o Aqwa Corporate, onde acontece a Casa Cor, é uma das empresas que estão investindo na área portuária, com três grandes empreendimentos. Um deles é o Port Corporate Tower, de R$ 300 milhões de investimento, com 20 andares, já em funcionamento. O segundo é o residencial do grupo, Lumina Rio, porém, ainda não saiu da fase de projeto. O futuro condomínio é suntuoso, com quatro torres, sendo que somente na primeira devem ser 360 unidades entre um e três quartos. Não há previsão para o lançamento.

- Há sete anos, o grande risco era se a infraestrutura aconteceria. Aconteceu e é algo grandioso. Houve uma pausa porque a economia parou, mas isso é geral. É um processo e o desenvolvimento está vindo para a região - crê Daniel Cherman, presidente da Tishman Speyer no Brasil.

E ele completa: - Hoje já vemos sinais de melhoria, que começou no Museu do Amanhã, em direção do Aquário e vai seguir adiante, mas ainda é preciso sinais mais fortes para iniciar as obras - diz ele referindo-se ao Lumina.

CONSTRUÇÕES

O presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp), Antonio Carlos Mendes Barbosa, explica que há planos para a habitação no Porto, mas elas devem acontecer do ano que vem em diante. Um é a construção de casas dentro do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida - a previsão é levantar aproximadamente 1.600 unidades num terreno próximo à Gamboa.

Segundo ele, a prefeitura já tem o espaço para construção, mas é primeiro preciso aguardar a revitalização da área para que o projeto (que será feito em quatro etapas) comece a sair do papel.

Também para os empreendimentos com financiamento privado, a previsão é de só começar a erguer algo partir de 2018.

- As pessoas dizem que há muitos espaços vazios, mas a ocupação é lenta mesmo. Do ano passado para cá já tem muita coisa. Quando começar a ficar pronto, todo mundo vai querer vir para cá - aposta ele, acreditando que a mudança da região portuária do Rio será visível a partir do segundo semestre do ano que vem.



O Globo, Raphaela Ribas, 22/out