segunda-feira, 13 de novembro de 2017

É preciso impedir o naufrágio do projeto do Porto


Não há dúvida de que um dos maiores legados da Rio-2016 é a revitalização da Zona Portuária. Surgida a partir da demolição do Elevado da Perimetral, a nova Orla Luiz Paulo Conde, que se estende por 3,5 quilômetros, do Armazém 8 à Praça Quinze, é a ponta visível de uma parceria público-privada que devolveu à cidade uma área histórica, antes fadada à degradação. A transformação, concretizada em meio a raro consenso entre União, estado e município, compreendeu uma área de cinco milhões de metros quadrados nos bairros de Santo Cristo, Saúde e Gamboa. Pelo plano original, serviços como coleta de lixo, iluminação e operação de trânsito, além da conservação dos logradouros, ficariam a cargo da concessionária Porto Novo.

Por um lado, o projeto Porto Maravilha é um sucesso. Isso ficou comprovado durante os Jogos, quando o Boulevard Olímpico (Orla Conde) reuniu num único dia mais de um milhão de pessoas. Aliás, uma pesquisa mostrou que, na época, a região recebeu mais visitantes que o Cristo, ícone máximo da cidade. O Museu do Amanhã, construído no Píer Mauá a partir do projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, é hoje o mais visitado do país. O Museu de Arte do Rio (MAR) e o AquaRio, outras atrações da nova frente marítima, competem em igualdade de condições com os pontos turísticos tradicionais. Sem falar na facilidade de acesso proporcionada pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o bonde que aliou modernidade e nostalgia à paisagem do Centro do Rio.

Já o modelo de financiamento parece não ter tido fôlego para além da Olimpíada. Por falta de recursos, em julho deste ano a concessionária Porto Novo, que já havia paralisado obras de urbanização, interrompeu também os serviços de manutenção. Em meio à recessão, o fundo da Caixa que adquiriu os Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), emitidos pelo município como forma de viabilizar o projeto, não conseguiu revendê-los e parou de fazer os repasses à concessionária. Em 5 de julho, a prefeitura assumiu a conservação da área, com exceção dos túneis Marcello Alencar e Rio 450 e dos sistemas de drenagem, que continuam a cargo da Porto Novo.

A transferência de gestão, no entanto, parece não ter solucionado o problema. Como mostrou reportagem do GLOBO, os sinais de abandono estão por toda parte. Placas de granito quebradas, buracos, jardins malcuidados, fios expostos, lixo espalhado e camelôs atuando livremente em áreas destinadas aos pedestres. Desalentador.

Não se pode deixar que naufrague o importante projeto do Porto. Se há problemas para manter as condições acordadas, é preciso que prefeitura, Caixa e Porto Novo cheguem a um entendimento sobre o modelo de financiamento, de modo a tornar a parceria sustentável. Mas, enquanto isso não acontece, o município deve ao menos zelar pelo mais novo cartão-postal do Rio. Não só em respeito aos milhares de cariocas e turistas que frequentam o local, mas também porque, quanto maior for o estrago, mas cara será a sua recuperação.



O Globo, Editorial, 12/nov