segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Rio, a sexta melhor cidade para empreender


As obras de mobilidade urbana realizadas para as Olimpíadas tornaram o Rio mais atraente aos novos negócios. De acordo com a edição 2017 do Índice de Cidades Empreendedoras (ICE), elaborado pela Endeavor, a capital fluminense foi considerada a sexta melhor para empreender, de uma lista de 32 cidades. Um salto de oito colocações em relação ao relatório do ano passado, quando figurou na 14ª posição. A melhora foi puxada principalmente pelos avanços em infraestrutura, mas a burocracia ainda é gargalo na cidade. O ranking geral é liderado pela terceiro ano seguido por São Paulo, graças principalmente ao dinamismo econômico e à boa conectividade. Na parte de baixo da tabela, Manaus aparece com a pior nota.

O estudo, que será divulgado amanhã, é composto por sete indicadores: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora. O destaque do Rio foi o desempenho em infraestrutura, graças à melhora do trânsito. No ano passado, a cidade recebeu a pior avaliação no quesito fluidez de trânsito. Em 2017, subiu para a 24ª posição. Ainda abaixo da média, mas, na avaliação dos pesquisadores da Endeavor, um avanço.

- Este indicador pega os efeitos dos investimentos em infraestrutura urbana feitos para as Olimpíadas. Mas ainda há muito o que melhorar em mobilidade urbana. As obras foram muito focalizadas. Tivemos melhorias principalmente na ligação entre Barra da Tijuca e Zona Oeste e a Zona Sul - diz Pedro Lipkin, coordenador de pesquisa da Endeavor.

COMPLEXIDADE TRIBUTÁRIA

Sócio da rede de pizzarias Vezpa, Assur Fernandes é um dos que se beneficiaram dos avanços em mobilidade. A entrega em domicílio - obviamente facilitada por um trânsito menos congestionado - representa de 15% a 25% das vendas da empresa. Mais do que isso, o empresário destaca a importância dos investimentos em transporte público. Das 22 lojas espalhadas pela cidade, são as próximas a estações de metrô que faturam mais, por exemplo.

- Quanto mais fácil o acesso e o transporte, melhor para todos - afirma Fernandes.
Embora seu negócio não seja diretamente relacionado ao trânsito, Thoran Rodrigues, fundador da BigData Corp., de processamento de dados, também vê melhora:

- Ficou mais fácil circular pela cidade. Nossa equipe é formada por 32 pessoas de vários bairros. O pessoal chega menos estressado, e podemos atender com mais tranquilidade às demandas.

As duas empresas, no entanto, também sentem no dia a dia os problemas da cidade. Fernandes, da Vezpa, aponta a burocracia como pior gargalo - uma característica captada pela pesquisa. Pelo segundo ano seguido, o Rio teve a pior nota no quesito ambiente regulatório, que leva em consideração itens como complexidade tributária e tempo para abrir um negócio. O tempo para regularização de imóveis, por exemplo, saltou de 210 para 471 dias. A cidade também tem a pior nota em relação a custo de impostos, em um indicador que combina as alíquotas de ICMS, IPTU e ISS e o número de incentivos fiscais.

- Hoje, o gargalo é de legalização do negócio. Cada bairro tem uma regra, há uma confusão de informações, e as orientações mudam dependendo de quem atende. A última loja demorou dois meses do CNPJ ao alvará de funcionamento. Se o processo é feito em menos de um mês, é motivo de celebração - afirma Fernandes.

Já Rodrigues, da BigData Corp., destaca os desafios em conectividade. Segundo o ICE, o percentual de pessoas com acesso à internet de alta velocidade (acima de 12 Mbps) teve avanço discreto, de 10,77% para 10,97%. Mas ainda está abaixo da média nacional, 11,31%.

- Aumentou a quantidade de provedores, principalmente na Barra da Tijuca, por causa dos Jogos. Mas continuamos precisando ter três provedores na empresa, para não paralisar os trabalhos caso algum caia - conta Rodrigues.

AUMENTO DE FINANCIAMENTOS

Segundo o estudo da Endeavor, os desafios em relação à desburocratização são semelhantes em todas as regiões pesquisadas, enquanto as condições de infraestrutura variam de cidade para cidade. Na avaliação de Lipkin, coordenador da pesquisa, a simplificação dos processos é algo que pode ser feito mais rapidamente - caso de Fortaleza, que avançou da 32ª para a 2ª posição no quesito tempo de processos. A melhora está relacionada à adoção do Alvará de Construção On-line, que permite a liberação imediata de alvarás no caso de construção de empreendimentos de até 750 m². A capital cearense é considerada pela Endeavor exemplo a ser seguido por outras cidades.

- Temos problemas de longo prazo, como infraestrutura e educação. As questões de ambiente regulatório podem ser tratadas de forma relativamente rápida. Fortaleza fez seu dever de casa, com um trabalho realizado tanto pela prefeitura como pelo estado - afirma Lipkin.

Enquanto as cidades se preparam para esses desafios, a expectativa é que o dinheiro para abrir negócios volte a circular no período pós-crise. O efeito da recessão foi percebido no quesito acesso a capital. No ano passado, a média de operações de crédito nas cidades analisadas caiu oito pontos percentuais, para 0,53%. Só São Paulo viu o volume de crédito diminuir R$ 100 bilhões no período. Após a euforia do início desta década e a decepção após a recessão, já há sinais de aumento de financiamento, inclusive para cidades fora do eixo Rio-São Paulo.

- Nos próximos anos, a indústria deve se estabilizar e voltar a crescer em números de gestoras - destaca Rafael Bassani, sócio da Spectra Investiments, que cita ainda os juros mais baixos. - O capital que estava parado em juros gordos tende a passar para ativos reais. Os fundos de pensão passam a olhar novamente esse mercado.

O estudo completo estará disponível amanhã, no site da Endeavor. O levantamento contou com o apoio e a coleta de dados das seguintes empresas e instituições: EY, Sedi, Neoway, 99, Anprotec, CNI, Senai, Spectra Investments e Viva Real.



O Globo, Marcello Corrêa, 26/nov