quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Cidade precisa de política de turismo


O Rio de Janeiro é, sem dúvida alguma, uma vitrine da divulgação do Brasil no exterior. Embora novos portões de entrada tenham sido abertos, e muitos turistas se dirijam diretamente a outras cidades, devemos confessar que notícias negativas da "Cidade Maravilhosa" - veiculadas nos principais países emissores - vão trazer ainda mais problemas para o turismo brasileiro e o receptivo no Rio.

O principal problema do Rio é a falta de uma política específica de turismo, com metas de crescimento e, sobretudo, ações promocionais. Falta promoção, e talvez os recursos gastos pelo bispo Crivella em suas viagens internacionais pudessem ser mais bem dimensionados e utilizados pela Riotur na venda do Rio. Com a concorrência cada vez maior de destinos que se vendem por belezas naturais e população hospitaleira, é necessário estar presente nos grandes eventos internacionais, com ações de fan tours e junto aos correspondentes estrangeiros no Rio.

Não adianta a organização positiva do réveillon e do carnaval no Sambódromo, se a cidade vive um caos por causa da violência urbana em áreas turísticas. E também da completa falta de estrutura dos blocos, que foram crescendo sem a devida atenção do poder público para a implementação de apoio logístico. Além de incomodarem os moradores das áreas onde desfilam, destroem parte da cidade. O período pós-carnaval é um momento único para analisar o próximo, reduzindo blocos, situando-os em áreas geográficas mais adequadas e, sobretudo, avaliando que folias fora de época - como pretendem no Rio, no entorno do Parque Olímpico - não são a solução para a sazonalidade. Aliás, o calendário intempestivo criado não trouxe resultados até o presente momento.

O perfil do turista que nos visita vem mudando: estamos perdendo europeus e americanos, que são qualitativos no sentido do gasto médio per capita, e recebendo sul-americanos, que gastam bem menos. Na verdade, quem nos salvou no carnaval foram os brasileiros, que ajudaram a ocupação hoteleira. O turismo receptivo, com raras exceções, vive uma crise ímpar, e a tendência é mais operadoras fecharem suas portas. O setor não tem se posicionado e exigido mudanças drásticas, o que é ruim para um desenvolvimento efetivo da atividade.

Temos bons exemplos de planos de turismo aqui desenvolvidos, como o Plano Maravilha ou ainda a revisão do mesmo por Rubem Medina, quando secretário de Turismo. Talvez fosse o momento de criar um grande brainstorming com as lideranças, associações de moradores e faculdades, tentando traçar um plano de trabalho. Vamos aproveitar a presença dos consulados aqui no Rio e tentar entender exemplos de sucesso, que tragam benchmarking. Falta pensar o turismo de forma acadêmica, com visão empresarial. Os cargos em comissão não podem continuar sendo preenchidos por cabos eleitorais ou, pior ainda, simpatizantes religiosos.

Não podemos, de maneira nenhuma, deixar o Rio como está. Moramos aqui, trabalhamos aqui e temos um compromisso com o turismo. Vamos exigir mudanças para nossa sobrevivência e profissionais capacitados na condução dos rumos do setor. A intervenção federal não é positiva para a imagem institucional do Rio. Mas tomara que traga resultados positivos para os moradores a curto prazo e permita uma revisão da segurança dos visitantes, criando um batalhão de policiamento turístico com maior contingente e atendendo a toda a cidade e o estado - como foi originalmente criado. E que os processos de capacitação dos policiais sejam retomados, com cursos de média duração e incentivos reais.

Somos cariocas, amamos o Rio, e ele é nossa razão de ser, apesar das incongruências geradas por uma gestão ineficaz. Vamos lutar sempre e buscar um consenso para uma retomada urgente.

Bayard do Coutto Boiteux é vice-presidente executivo da Associação de Embaixadores de Turismo do Rio



O Globo, Opinião, Bayard do Coutto Boiteux, 21/fev