Enquanto o setor privado trabalha para a reativação dos negócios na Zona Portuária da cidade, o setor público, que estimulou o projeto Porto Maravilha, não caminha na mesma velocidade. A maior parte das obras, que levou à demolição do Elevado da Perimetral, à criação do Boulevard Olímpico, do Museu do Amanhã, do Museu de Arte do Rio e das linhas de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), não correspondeu às expectativas.
Não é difícil encontrar grandes obras prometidas para a região que ainda estão longe de ser concluídas. Mesmo no setor privado, ainda há grande ociosidade. E nos projetos tocados pelo setor público, alguns aguardam a realização de licitação para uma nova etapa.
Saindo da rodoviária Novo Rio em direção à Praça Mauá, uma estação de VLT improvisada com uma cabine dá o tom de abandono, na Rua General Luís Mendes de Morais, altura do número 254. À frente, uma carcaça de um carro abandonado e totalmente queimado aguarda recolhimento. Não é difícil entender a dinâmica dali. Aquela linha de VLT seria muito útil para os moradores do tão prometido Porto Vida Residencial, seu ponto final.
Único projeto residencial do Porto Maravilha, que ia abrigar sete prédios de 35 andares, num total de 1.333 apartamentos foi suspenso em março de 2014. O investimento, estimado em R$ 500 milhões, seria oferecido, com prioridade, aos servidores públicos municipais. Antes da entrega das chaves, abrigaria a Vila dos Árbitros e os jornalistas não credenciados que viriam cobrir as Olimpíadas de 2016.
Por falta de infraestrutura, sobretudo da área de telecomunicações e condições mínimas de uma área habitacional, o então prefeito Eduardo Paes optou pelo Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, e abandonou o projeto.
O cenário de esvaziamento se concretiza no Hotel Ibis, que fechou por falta de hóspedes. Quando existe demanda, os interessados são encaminhados para o Novotel, que é da mesma rede.
Uma das mais importantes obras públicas da região, anunciada há quase oito anos como a primeira decisão concreta de investimento por parte de uma instituição na Zona Portuária, também parece longe de chegar ao fim. É a construção de um conglomerado Descompasso no Porto Setor privado reativa negócios, mas setor público não caminha na mesma velocidade Com as obras totalmente paradas, único projeto residencial do Porto Maravilha abrigaria sete prédios de 35 andares e seria oferecido, com prioridade, aos servidores públicos municipais Obra do Departamento de Meio Circulante do Banco Central aguarda nova fase de licitação para ser concluída Fotos de Marcos Tristão de distribuição de dinheiro do Banco Central, formado por um grande cofre de três andares; a garagem, com quatro pavimentos e o prédio administrativo, com sete andares. O projeto faz parte de uma estratégia de modernização das instalações da instituição, ampliação da segurança, redução de custos e melhora da logística.
Hoje estabelecido na Avenida Rio Branco, o Departamento de Meio Circulante (Mecir), onde fica todo o dinheiro fabricado no Brasil, seria transferido para a Zona Portuária para facilitar o escoamento das cédulas por vias terrestre, aérea e marítima. A localização é estratégica: perto do Aeroporto Santos Dummont, da Avenida Brasil, da Linha Vermelha.
As obras, iniciadas em 2012, ainda estão em sua primeira etapa, com o custo de R$ 74 milhões, segundo informações do BC.
Ainda de acordo com informações do órgão, a obra deverá ser concluída em cerca de 30 meses após a contratação da próxima etapa. A licitação desta última fase, por sua vez, continua sem previsão.
CONTRASTE
Se de um lado do Porto só se veem blocos de concreto, em outra calçada, um arranha-céu, construído pelo mesmo grupo responsável pelo Porto Vida Residencial - o Porto 2016 Empreendimentos Imobiliários, formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia, chama a atenção pela imponência. Com 30 andares, o prédio espelhado está com seu acabamento todo concluído. Seria um hotel, mas segue completamente vazio. É um dos prédios que mais fascina os moradores do Morro do Pinto, comunidade vizinha.
Segundo informações do consórcio, o projeto passa por uma reformulação e aguarda "um melhor momento para ser lançado no mercado". Um dos estudos que a empresa vem desenvolvendo para a edificação é a possiblidade de transformá-lo em um empreendimento de microunidades residenciais. Ainda sem previsão de lançamento.
Segundo dados do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi-RJ), a taxa de vacância da região ainda é de 80% e está diretamente atrelada à crise econômica do país. "Até 2017, tínhamos um projeto caminhando com o alinhamento dos três poderes, com muito potencial e boa expectativa, mas veio a crise financeira e as construtoras, incorporadoras e o mercado financeiro se retraíram. Isso desanimou os empreendedores, que preferiram esperar um pouco mais", explica Leonardo Scheneider, vice-presidente do Secovi.
"As construtoras que já compraram Cepacs da Caixa Econômica Federal não querem construir agora porque sabem que não vão vender neste momento". Procurada, a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) explicou que, como o projeto de construção do Porto Vida Residencial hoje é privado, não há qualquer participação da Prefeitura do Rio.
Ainda de acordo com informações da Cdurp, o desenvolvimento imobiliário promovido pela operação urbana Porto Maravilha assegurou investimentos em recursos privados dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) que totalizaram R$ 5 bilhões (de 2011 a 2017) dos R$ 10 bilhões orçados para os 15 anos de obras e serviços públicos municipais previstos até 2026.