segunda-feira, 30 de abril de 2018
Queda carioca
O mercado imobiliário carioca registrou queda de preços, tanto para venda quanto para locação. Este movimento de retração vem sendo observado deste o início de 2017. É o que verificou o Index Rio de Janeiro, levantamento mensal elaborado pelo Imovelweb. Segundo o estudo, os preços dos apartamentos caíram 3,7% nos últimos doze meses. Contemplando a inflação, a queda é de 6%. No período, o custo médio do metro quadrado de um apartamento na cidade ficou em R$ 6.010. Todas as regiões registraram desvalorização no preço de venda, com destaque para a Grande Tijuca, que já acumula queda de 6,7% no período.
O Globo, Morar Bem, 29/abr
sexta-feira, 27 de abril de 2018
Crise obriga famílias a morarem juntas
A crise econômica foi tão profunda que forçou uma mudança nas condições de moradia da população em 2017. Dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que, com o desemprego e a renda reduzida, a solução foi recorrer à família e aos amigos. Cresceu a quantidade de lares com dois, três ou quatro moradores e aumentou o número de brasileiros que passaram a viver em imóveis cedidos por terceiros, ou seja, de favor. Outro reflexo da recessão foi a redução dos domicílios onde o morador é o proprietário. Na cidade do Rio, a queda foi de 9%. Já o número de famílias cariocas vivendo em imóvel alugado cresceu em 90 mil no ano passado, uma alta de 18% em relação a 2016.
Morar com mais gente e dividir as contas foi a saída encontrada por muitas pessoas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), no ano passado foram mais 861 mil domicílios ocupados por dois a quatro moradores, totalizando 50,3 milhões de unidades. Enquanto isso, houve uma redução de 194 mil, para 10,5 milhões, no número de lares ocupados por só uma pessoa.
- O crescimento do número de pessoas nos domicílios tem a ver com diminuir despesa e juntar renda devido ao desemprego, que atingiu níveis recordes no ano passado. Muitas pessoas não puderam mais pagar aluguel, devolveram seus imóveis e se juntaram a outra família. Quando se está no mesmo domicílio, há economia de escala, porque diminui o número de contas e o pagamento das que sobram é dividido - analisa a economista Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea.
SEIS MILHÕES MORAM DE FAVOR
Ela lembra que, no começo dos anos 2000, houve um movimento semelhante no país, porque o desemprego estava alto entre os jovens e muitos dos que moravam sozinhos voltaram a viver na casa dos pais.
- Morar só é um status de riqueza que se perde em tempos de crise - complementa Marcelo Neri, diretor da FGV Social e ex-presidente do Ipea, lembrando que o número de domicílios com apenas um morador vinha numa crescente desde o fim da década passada.
Voltar para a casa da família foi a alternativa encontrada por Ana Carolina de Sousa, de 21 anos e moradora de Teresina, para reforçar o orçamento. Ela e o marido, que trabalha em um supermercado, saíram da casa onde moravam com os dois filhos e foram viver no sítio dos avós dela, onde cultivam frutas e vendem as polpas processadas para produtores de sucos e sorveterias.
Os avós, Serapião José de Sousa, de 90 anos, e Vitória Cardoso de Melo, de 65 anos, vivem de seus proventos, que somam pouco mais de dois salários mínimos, mas abrigam em casa, em "puxadinhos" construídos recentemente, seis filhos, 20 netos e seis bisnetos, além de quatro noras e genros. Filha do casal, Maria do Socorro, de 40 anos, também voltou para casa dos pais recentemente, depois que o marido ficou desempregado, e eles tiveram que entregar o apartamento onde moraram por 14 anos com os quatro filhos.
- Voltei para a casa de meus pais porque poderia aumentar minha renda com a venda das frutas e ainda criar galinhas e patos no quintal. Além disso, na família, todos se protegem quando alguém está com dificuldades financeiras - comenta Maria, que também trabalha como costureira.
A pesquisa do IBGE divulgada ontem mostrou também que os lares estabelecidos em imóveis emprestados cresceram 7% no ano passado. Seis milhões de pessoas passaram a viver de favor, ficando responsáveis normalmente apenas pelas taxas. São imóveis de parentes ou amigos ou cedidos por empregadores.
O levantamento revelou ainda que os lares em que o imóvel é próprio tiveram um leve recuo, de 51,33 milhões para 51,29 milhões. Também caiu, de 4,11 milhões em 2016 para 3,9 milhões em 2017, o número de domicílios próprios, mas que ainda estão sendo pagos, o que reflete, segundo Neri, as dificuldades dos financiamentos imobiliários, seja pela queda na renda ou pelo acesso ao crédito.
- É um sinal de menos financiamentos, até porque as condições não estavam boas, nem de renda nem de crédito. Dados de anos anteriores mostravam que a moradia passava por um boom,
mas a crise teve efeitos sobre os financiamentos - diz Neri.
O número total de famílias expandiu 0,8%, ou mais 550 mil domicílios, para 69,8 milhões em 2017. Deste total, 86,6% viviam em casas e 13,2%, em apartamentos.
RIO NA CONTRAMÃO DE OUTRAS CAPITAIS
Na contramão das principais capitais do país, o número de lares caiu na cidade do Rio no ano passado, em relação a 2016, de 2,51 milhões para 2,49 milhões - recuo de 0,75% ou menos 19 mil moradias. O grupo que mais encolheu foi o de famílias com imóvel próprio. Eram 76,6% do total de domicílios na capital em 2016 e caíram para 71%, redução de 9%.
Já o número de famílias cariocas vivendo em imóvel alugado cresceu em 90 mil no ano passado, alta de 18% em relação a 2016. Representavam 19,3% dos lares cariocas em 2016 e 23,1% em 2017.
Neri avalia, no entanto, que, quando os dados de 2017 são observados por trimestre, o último do ano e o primeiro de 2018 já trazem sinais da retomada.
- As crises brasileiras, em geral, são intensas e de curta duração. Mas essa foi intensa e de longa duração. Já observamos uma estabilidade no número médio de moradores por domicílio e a renda voltou a subir, assim como a massa de rendimentos. São sinais de reversão dessa crise melhores do que os indicados pelo Produto Interno Bruto.
Quanto ao saneamento, a Pnad mostra que o serviço de coleta de esgoto no Brasil mal conseguiu acompanhar o crescimento do número de famílias no ano passado. Apesar de o serviço ter alcançado mais 400 mil lares, no mesmo período o país ganhou um total de 550 mil domicílios. Com isso, a parcela de famílias com o serviço ficou estagnada em 66% do total de lares brasileiros.
- A cobertura de coleta de esgoto está estabilizada numa situação pouco confortável. Há ainda um terço da população sem esse serviço. E o pior é que estar conectado à rede de coleta não significa que há tratamento. Sabemos que uma menor parte do esgoto coletado é tratada - avalia Neri.
A parcela de lares com coleta diária de lixo teve leve expansão, de 82,6% em 2016 para 82,9% do total de domicílios no ano passado. E o número de famílias abastecidas com água canalizada caiu de 87,3% para 86,7%. Segundo o IBGE, essa queda é resultado do racionamento de água que vem ocorrendo no Distrito Federal desde o início do ano passado, devido a fatores como escassez de chuvas e falta de investimentos.
MAIS BRASILEIROS PASSAM A USAR LENHA E CARVÃO
A alta do preço do gás de botijão no ano passado levou mais brasileiros a usarem lenha e carvão para cozinhar. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) divulgada ontem pelo IBGE mostra que mais 1,2 milhão de brasileiros passou a usar mais esse tipo de combustível para cozinhar, atingindo 17,6% dos lares do país.
Esse aumento foi concentrado sobretudo no Nordeste. Na região, mais 400 mil domicílios começaram a usar também a lenha e o carvão para preparar alimentos, num total de 24,1% das residências da região.
No ano passado, o preço do gás subiu 16%, mais que o quíntuplo da inflação registrada. A alta foi provocada principalmente pela nova metodologia de reajuste adotada pela Petrobras, que passou a repassar com mais frequência as variações, para cima ou para baixo, no custo do produto.
No Maranhão, 44,9% das famílias usam carvão ou lenha para cozinhar. No Piauí, essa parcela chega a 32,9%.
O carvão e a lenha, na maioria das vezes, são usados em complemento ao gás de botijão, que, segundo o levantamento, é adotado por 98,4% das famílias brasileiras.
O Globo, Daiana Costa e Efrém Ribeiro, 27/abr
quinta-feira, 26 de abril de 2018
Ipanema ganha shopping feito de contêineres
Quem passa pela Rua Gomes Carneiro, em Ipanema, percebe que algo de diferente chegou para se integrar ao ambiente, trazendo um sopro de inovação para o comércio local. Trata-se do Ipanema Harbor, um centro comercial feito inteiramente a partir de contêineres. Em seus 850 metros quadrados há capacidade para até 60 contêineres expostos ao ar livre que podem virar lojas de roupas, consultórios, escritórios, entre outros empreendimentos, ao gosto do locador.
- Entendemos que o uso do espaço vai mudar no planeta. Por isso, é necessário pensar em novas formas de utilizá-lo. Sempre buscamos projetos que fogem do convencional. Neste caso, existe um lado de sustentabilidade forte, pois usamos contêineres marítimos que não são mais utilizados - afirma o idealizador do empreendimento, Roberto Kreimer.
Para alugar um espaço no Ipanema Harbor, basta pagar aluguel mensal, sem fiador ou tempo mínimo de contrato. Segundo Kreimer, dessa forma garante-se maior liberdade a quem arrendar um contêiner. O valor varia entre R$ 3 mil e R$ 5 mil mensais, incluindo aluguel, condomínio e IPTU:
- A liberdade de entrar e sair é total. Sem falar que eliminamos o fiador, que é um problema operacional grave nesse processo - diz Kreimer.
Ele explica que os contêineres podem ser usados por grandes marcas ou por quem está começando e não tem como arcar com custos de uma loja em shopping. Ou ainda por quem quer expor algum produto por menos tempo:
- Ou seja, é mais flexível e não exige burocracia. Os contêineres podem ser organizados e empilhados de várias maneiras, e a loja pode ser montada em apenas 24 horas.
Nesse novo formato de negócio, os custos de instalação também são mais baratos em comparação aos de uma loja de shopping, por exemplo. Os contêineres de 15 metros quadrados, cada, podem ser adaptados de acordo com as necessidades do locador: podem ser de vidro ou totalmente fechados. O conceito e o projeto de arquitetura são do arquiteto Vitor Niskier, que está ajudando no trabalho de curadoria.
- Estamos sentindo a demanda, mas apostamos num mix em que a tendência mais forte será a moda, voltada para um público jovem. Já tivemos mostra de arte, mas há espaço para negócios que vão de consultório de psicanálise a studio de tatuagem. O modelo do Ipanema Harbor facilita a interação entre as pessoas. Está sendo um prazer tocar um projeto como esse - diz Niksier.
O Globo-Zona Sul, Patricia Paula, 26/abr
quarta-feira, 25 de abril de 2018
Estudo mostra que a redução da taxa de juros torna poupança mais atrativa
As sucessivas reduções da taxa básica de juros, a Selic, estão tornando o mais tradicional investimento do país, a poupança, mais atrativa. Desde outubro de 2016, a Selic já passou por 12 cortes seguidos e a expectativa é de que volte a ser reduzida do atual patamar de 6,5% ao ano para 6,25% ao ano, em maio. No início do atual ciclo de cortes, a Selic passou 14,25% para 14% ao ano.
A rentabilidade da poupança não sofre incidência de Imposto de Renda (IR) e não há cobrança de taxa de administração, como nos fundos de investimento, por exemplo. Desde maio de 2012, há regras diferentes para o cálculo da poupança de acordo com o nível da Selic. Quando a Selic fica igual ou acima de 8,5% ao ano, a caderneta rende 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), tipo de juro variável. Abaixo de 8,5% ao ano, a caderneta rende 70% da taxa Selic mais variação da TR.
Segundo estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a poupança é melhor opção quando comparada a fundos de renda fixa, que cobram taxas de administração acima de 1% ao ano. Além da taxa de administração, os rendimentos do fundo de investimento sofrem incidência de IR. Quanto menor o prazo de resgate, maior é a tributação, que varia de 15% a 22,5% dos rendimentos.
De acordo com as simulações da Anefac, se um investidor aplicar R$ 10 mil, em 12 meses o rendimento da poupança chegará a 455 (4,55% ao ano), na aplicação seguindo as regras atuais.
Em um fundo de investimento, com taxa de administração de 0,5% ao ano, o ganho ficaria em R$ 491, ou seja, acima do rendimento da poupança. Com a taxa de administração de 1% ao ano, o rendimento acumulado seria de R$ 466. Já com a taxa de administração de 1,5%, o rendimento perde para a poupança, pois chega a R$ 441.
"Mesmo com a queda da Selic, os fundos continuaram cobrando o mesmo percentual de taxa de administração que cobravam anteriormente. Ou seja, quando a Selic estava em 14,25%, as taxas variavam de 1,5% a 3% e agora que a Selic está em 6,5% ao ano, continuam cobrando a mesma taxa", disse o diretor de Economia da Anefac Miguel de Oliveira.
Para o diretor da Anefac, é "inevitável" que as instituições financeiras lancem fundos de investimentos com taxas de administração mais baixas para não perder clientes. "Os bancos já estão perdendo clientes para poupança e Tesouro Direto, onde eles não ganham nada. Naturalmente, esse quadro vai levar os bancos a reduzir suas taxas de administração", disse Oliveira.
Outra opção para os investidores mais conservadores são os certificados de Depósito Bancário (CDBs), títulos emitidos pelos bancos. Geralmente, os bancos oferecem o CDB pós-fixado, com rentabilidade parecida com a Selic (taxa do CDI - Certificado de Depósito Interbancário). Por isso, Oliveira calcula que para garantir ganho igual ao da poupança, o investidor tem que obter uma taxa de juros de cerca de 85% do CDI. As aplicações em CDB pagam igualmente Imposto de Renda de acordo com o prazo de resgate da aplicação.
Há ainda as aplicações no Tesouro Direto, que também têm incidência de Imposto de Renda sobre os ganhos e cobrança de taxa de custódia. "O Tesouro Direito é uma boa alternativa, ela compete com a poupança. O Tesouro Selic, por exemplo, rende 100% da Selic. Portanto, rende mais que a poupança. A questão é que a poupança é muito mais simples de aplicar, é melhor compreendida. No caso do Tesouro Direto, tem que entrar lá no sistema e escolher o papel, se atentar para o prazo de resgate. Então, há certa dificuldade", disse Oliveira.
Para o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, é preciso ter algum conhecimento sobre o mercado para saber o melhor momento de investir no Tesouro Direto ou resgatar o investimento. "O Tesouro Direto é uma ótima opção, mas não é tão simples como as pessoas fazem parecer. É preciso ter algum conhecimento para saber a hora de vender ou de comprar. Você não vai comprar para somente exercer o seu direito no vencimento. Você vai comprar para exercer o direito em algum momento intermediário. E aí, tanto você pode estar ganhando como perdendo, quando comparado com outros investimentos", afirmou Teixeira.
Perfil do investidor - Oliveira explicou que para decidir onde investir é preciso analisar, inicialmente, o perfil do investidor. "É preciso saber se é um investidor que aceita correr risco ou não. Se não aceita correr risco, não vai se atrever a aplicar em bolsa de valores". Outra observação é quanto ao tempo para resgatar a aplicação. "Se aplicar o dinheiro em um fundo de ações, pode precisar resgatar em um momento em que as ações estejam perdendo valor. O risco é maior", disse.
"Se o investidor é conservador, a melhor alternativa é a poupança, o Tesouro Direto ou CDB de um grande banco. Se aceita correr risco, pode pensar em aplicar, se não todo o dinheiro, mas parte dele, em um fundo de ações", acrescentou Oliveira.
Diário de Pernambuco, Economia, 24/abr
terça-feira, 24 de abril de 2018
Descontrole bilionário
A maior imobiliária do país é do governo federal. Além de ser a maior proprietária de prédios e terrenos em todo o país, a União gasta R$ 1,4 bilhão por ano em aluguel de imóveis. Ninguém sabe exatamente, porém, quais são essas locações, as condições contratuais e os critérios adotados para a negociação. O TCU começou a examinar uma amostra de dez contratos que somam R$ 94,4 milhões, cerca de 6,7% do total que a União gasta anualmente. Já descobriu, por exemplo, que o Ministério da Agricultura paga R$ 1,5 milhão por mês para alugar o prédio da sua Coordenadoria-Geral de Recursos Logísticos. A despesa de três anos daria para comprar o edifício, hoje avaliado em R$ 42 milhões. A conta é ainda maior para outros: o Ministério da Saúde desembolsa R$ 16,8 milhões por ano num único contrato (nº 51/2016) da sua Coordenadoria de Material e Patrimônio, enquanto a Procuradoria da Fazenda paga R$ 14,8 milhões anuais em outro (nº 11/2014). No caso do prédio da Saúde, nem foram localizados os registros da locação.
O Globo, Poder em Jogo, 24/abr
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Construção demitiu
O setor de Construção Civil demitiu 2,3 mil trabalhadores em janeiro e fevereiro. Com isso, a quantidade de pessoas empregadas na área caiu 0,10% para 2,303 milhões. Já no acumulado dos últimos 12 meses, foram cortadas para 94,8 mil vagas. Os dados são da pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo e da FGV.
O Dia, Economia, 20/abr
quinta-feira, 19 de abril de 2018
Valor simbólico
A crise econômica no Rio causa impacto em diversos setores da indústria, dentre eles o mercado imobiliário, um dos que mais enfrentam dificuldades para retomada. Na Barra, uma especificidade faz surgirem efeitos radicais. Em função principalmente da Olimpíada, a região recebeu, nos últimos anos, diversos novos empreendimentos. Mas a alta da oferta hoje se contrapõe à baixa demanda para absorver tantas unidades, especialmente as comerciais. Com isso, há muitos casos em que proprietários oferecem até dois anos de carência, ou seja, de aluguel gratuito, somente para repassarem os custos de condomínio e taxas.
Se a Barra já era o principal destino da expansão imobiliária na cidade, essa tendência foi potencializada no período entre Copa do Mundo e Olimpíada. Mas, até três anos atrás, o ritmo era acompanhado pela demanda, desacelerada com a acentuação da crise econômica no país, que assola o Rio com mais força do que outros estados. No ano passado, construtoras evitaram lançamentos na região, mas ainda assim a vacância de apartamentos e salas comerciais continua grande.
De acordo com os dados do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi Rio), no mês passado havia 723 salas comerciais à venda no bairro. Esse número, no mesmo mês de 2014, ou seja, antes de a crise começar, era de 542. Sendo assim, houve aumento de 33%. Enquanto isso, o valor médio do metro quadrado, que há quatro anos era de R$12.233, hoje é de R$ 9.456, uma queda de 22,7%.
Apesar de a oferta de apartamentos residenciais à venda também ter aumentado, e em grande proporção - 73% -, o valor do metro quadrado não teve queda acentuada. A média geral, na Barra da Tijuca, foi de R$ 9.893 para R$ 9.684. Em relação ao aluguel, a variação é semelhante. Em março deste ano, havia 1.048 salas comerciais ofertadas, contra 736 em 2014, e o valor do metro quadrado teve queda de 41,35%. Entre as unidades residenciais, a oferta aumentou 73%, e o valor do metro quadrado caiu 7,16%, mais que para venda.
Isso mostra que a oferta aumentou e o valor caiu em todos os aspectos, mas o segmento que mais sofre é o comercial. Numa rápida pesquisa no site Zap Imóveis, é possível encontrar diversas ofertas de aluguel de lojas na região a preços simbólicos, como R$ 30 ou R$ 10. Os resultados não são um erro do sistema. Abrindo-se alguns anúncios, inclusive, pode-se ler, entre as condições, que na verdade a proposta é de "aluguel zero". Muitos proprietários, para se livrarem do alto custo de condomínio e IPTU, optam por abrir mão do dinheiro do aluguel, pelo menos nos primeiros 12 ou 24 meses de contrato.
- De um lado, o locatário se beneficia, pois não vai pagar aluguel; do outro, o locador não vai ter o encargo das taxas. Os dois ganham - resume a corretora Andreia Botelho. - Muitos proprietários estão com a corda do pescoço, então eles estão aceitando ouvir todas as propostas. Tive um caso em que a carência era de um ano, mas eu sugeri aumentar para dois. Fica uma oferta praticamente irrecusável para quem vai começar um negócio, pois normalmente o lucro do empreendedor só vem depois de um ano, e ele vai cortar custos no início.
Andreia trabalha por conta própria e tem muitos clientes na Barra. Entre os imóveis comerciais que negocia há unidades nos shoppings Barra Garden e Barra Square, onde tenta encontrar locatário para uma loja desde fevereiro do ano passado. De acordo com ela, as taxas mensais no Barra Square chegam a R$ 3.600 de condomínio e R$ 1.300 de IPTU. Recentemente, a proprietária da loja aceitou conceder dois anos de carência, e está próxima de fechar um acordo.
No Barra Garden, as taxas são um pouco menores, segundo Andreia: R$ 2.200 de condomínio e R$ 750 de IPTU. Por isso, lá as ofertas normalmente são de um ano de carência. Dono da imobiliária que administra o Barra Square e coproprietário do empreendimento, Luiz Antonio Ritzel explica que precisou "fazer ginástica" para os resultados aparecerem.
- Não estamos bombando, mas conseguimos resultados planejados e hoje estamos com 96% de taxa de ocupação. No ano passado, reformamos a praça de alimentação, a fachada e o sistema de ar. Além disso, fazemos eventos de promoção, como shows - explica Ritzel.
Mesmo só começando a receber aluguel depois de muito tempo, os proprietários que optam pela carência não costumam fazer contratos longos com os locatários. O tempo médio é de 30 meses. Ou seja, é possível que ao final ele só tenha garantido seis meses de aluguel.
- Em muitos casos, o proprietário acaba tendo a sensação de estar lucrando só por não precisar desembolsar esse custo de condomínio - explica Leandro Clementino, proprietário da imobiliária Rio Hype Imóveis. - Esse fenômeno do aluguel de graça é impulsionado porque, 80% das vezes, as salas estão no osso, já que as construtoras nem sempre as entregam finalizadas. O proprietário repassa para o inquilino os custos com piso, teto, iluminação e ar-condicionado, que podem chegar a R$ 20 mil, e abre mão do aluguel.
Depois de trabalhar como gerente comercial da RJZ Cyrela por oito anos, Clementino abriu sua imobiliária em 2013. Ele diz que começou a ouvir sobre aluguéis gratuitos ao fim da Olimpíada. E a via onde mais se encontram esses casos, afirma, é na Abelardo Bueno, devido à grande oferta de salas comerciais. Antes dos Jogos, houve absorção considerável dos lançamentos, explica, mas a vacância se acentuou rapidamente já a partir do segundo semestre de 2016.
A avenida hoje tem empreendimentos de grandes construtoras, como o Dimension, da Odebrecht; o Universe, da Cyrela; e o One World Office, da Tegra. Para uma sala de 30 metros quadrados, por exemplo, o condomínio custa em média entre R$ 700 e R$ 900; e o aluguel, se não houver carência, é de mil reais, segundo Clementino.
- Em 2013, quando abri a imobiliária, era impossível encontrar oferta de carência, e os aluguéis eram muito mais altos. Eu me lembro que um aluguel que custava R$ 3 mil no Le Monde hoje está em R$ 1.700 - conta Clementino, que prevê uma melhora no bairro em 2018, mas não para a Abelardo Bueno. - Estamos nos mantendo aos trancos e barrancos, mas tenho recebido mais visitas de interessados em salas comerciais. Já na Abelardo Bueno penso que vai demorar no mínimo mais dois anos até atingirmos 50% de ocupação.
Uma proprietária que sofre para alugar imóveis é Aline Cardoso, gerente na Patrimóvel. Nos últimos dois anos e meio, ela considera que o mercado ficou "achatado". Às vezes, nem o aluguel simbólico é vantajoso, diz.
- Há casos em que o inquilino não paga nem o condomínio nem o IPTU, e a dívida fica com o proprietário - diz Aline, que já sofreu com calote. - Acabei de retomar um apartamento por causa disso. Em um ano, o inquilino não pagou nada. Tive que entrar na Justiça. Ou seja, não só não recebi aluguel como tive custos extras.
Hoje, Aline pede R$1.500 de aluguel por um apartamento mobiliado de dois quartos no Barra Sul. O preço normal, diz, era de R$ 2.200 antes da crise, sendo que na Olimpíada ela chegou a alugá-lo por R$ 2.800. Outra modalidade que se tornou mais frequente foi o aluguel por temporada.
- Tive que baixar o preço em quase 30%, e mesmo assim ouço propostas abaixo desse valor. O mercado de locação está muito prejudicado no Rio. Com o boom da Olimpíada, os investidores acharam que teriam retorno fácil e muita gente comprou imóvel, mas a oferta não foi absorvida - explica Aline, que também enxerga um esboço de melhora. - Já chegamos ao fundo do poço. Pelo menos os preços se estabilizaram, não estão caindo mais. Está muito devagar, mas começando a melhorar. Para vender está um pouco melhor.
A crise faz com que o mercado precise pensar em diferentes soluções para sanar as dificuldades. Com o aumento das "funções" que precisa exercer, o corretor Helladio Blanco define desta forma a mudança no seu trabalho:
- Estamos administrando problema, e não aluguel. E perdendo cada vez mais dinheiro.
Blanco também cita a resistência de clientes a se adequarem à realidade econômica. Ele diz que, hoje, não trabalha com nenhuma oferta de aluguel gratuito, mas que já fez essa sugestão diversas vezes:
- Os preços já estão razoáveis, mas sempre proponho abaixar mais. Eu tento mostrar a necessidade, mas tem gente que fica esperando algum milagre político, como se a situação fosse melhorar da noite para o dia. Apesar dos anúncios, não estamos tendo tanto retorno. A internet é onde consigo mais acordos, mas os clientes mais velhos não compreendem tanto essa possibilidade.
Apesar do contexto desfavorável, muita gente do mercado aposta que a retomada vá começar este ano, primeiro pelos apartamentos residenciais, que estão com absorção melhor do que há dois anos. O maior desafio é, realmente, o segmento comercial. Gerente da imobiliária Sawala, Matheus Pires diz que as vendas e locações estão crescendo, mesmo que devagar.
- A parte de aluguel comercial está aquém do que todo mundo imaginava. Mas acho que 2016 e 2017 foram piores, e o mercado está começando a se reaquecer. O problema é que muitos prédios comerciais concebidos na época do boom, entre 2011 e 2012, só ficaram prontos durante a crise. Como as construtoras têm fluxo de caixa, não ficam tão desesperadas. Os preços mais radicais são oferecidos por proprietários que precisam alugar imóveis de qualquer forma.
O Globo, Lucas Altino, 19/abr
quarta-feira, 18 de abril de 2018
Taxa de incêndio deverá ser quitada até maio
O Corpo de Bombeiros divulgou ontem, o calendário de pagamento da taxa de incêndio de 2018. Os vencimentos, referentes ao exercício de 2017, serão entre os dias 14 e 18 de maio. Os valores do tributo variam entre R$ 30,07 (para casas com até 50 metros quadrados de área construída) e R$ 1.804,29 (imóveis não-residenciais com mais de mil metros quadrados).
São dois tipos de boletos: para pessoas cadastradas na base de dados do Fundo Especial do Corpo de Bombeiros (Funesbom), a cobrança começa com o número 237 e apresenta o CPF ou CNPJ. Esse modelo pode ser pago em qualquer banco ou casas lotéricas. Para imóveis cujos dados não foram atualizados pelo contribuinte no sistema da corporação, o documento começa com o número 856. Nesse caso, o pagamento deve ser só pelo Bradesco.
Quem não receber a cobrança ou quiser antecipar o pagamento, pode imprimir o boleto no site do Funesbom, no www.funesbom.com.br. É preciso ter o número de inscrição predial, que consta do carnê do IPTU. Em seguida, basta informar o município.
De acordo com a corporação, ficam isentos do pagamento da taxa de incêndio os aposentados, pensionistas, pessoas com deficiência, proprietários ou locatários de apenas um imóvel residencial no estado, medindo até 120 (cento e vinte) metros quadrados, e que recebam proventos ou pensão de até 5 salários mínimos, além de igrejas e templos de qualquer culto.
O Dia, Rio de Janeiro, 18/abr
terça-feira, 17 de abril de 2018
Ânimo Renovado
Com a ocupação de prédios comerciais e a perspectiva de um novo grande projeto de lazer na região, o marasmo imobiliário da Zona Portuária parece com os dias contados.
Depois de uma fase de marasmo, uma nova onda de interesse pela Zona Portuária surge no horizonte. O processo de transformação da região, afetado pela crise, ensaia uma retomada com a ocupação de prédios corporativos, o anúncio de um novo empreendimento de lazer próximo ao AquaRio e projetos de incentivo à economia criativa. Uma das principais impulsoras dessa recuperação foi a compra do Edifício Port Corporate, próximo ao Instituto Nacional de TraumatoOrtopedia (Into), pelo grupo Bradesco Seguros. Até o fim deste ano, a previsão é de que a empresa, atualmente no Rio Comprido, comece a instalar sua sede nos 40 mil metros quadrados da construção. Universidades, hospitais, hotéis e shoppings também prospectam negócios no Porto, que ainda convive com o contraste entre áreas revitalizadas e outras degradadas. EDIFÍCIOS INTELIGENTES Na área em plena metamorfose, só a chegada do Bradesco Seguros reduzirá a taxa de vacância (relação entre as áreas disponíveis e a área total construída) dos atuais 77,5% para aproximadamente 64%. A quantidade de metros quadrados desocupados ainda é alta, diz Evie Kempf, gerente de transações da JLL Consultoria Imobiliária. Mas a perspectiva é de que ela diminua gradativamente a curto e médio prazo.
- O Porto Maravilha volta aos poucos, embora ainda não na velocidade de que gostaríamos. Há um novo olhar sobre a região, com expectativa de melhora. Está lá a concentração de edifícios mais inteligentes do Rio. Observamos que as startups devem liderar a ocupação desses espaços. Mas também há grandes empresas, algumas já instaladas, como a L'Oréal e o Youtube, num mix de atividades muito interessante - diz Evie.
Nesse início da recuperação, o edifício Aqwa Corporative, com seus 21 andares na Via Binário, em frente à Cidade do Samba, em breve terá 3.800 metros quadrados ocupados pelo escritório de advocacia Tauil & Chequer, enquanto a Fábrica de Startups ficará em outros 3.600 metros quadrados. O prédio da Tishman Speyer abrigou, de outubro a novembro do ano passado, a primeira edição da CasaCor na região. Presidente da Tishman, Daniel Cherman afirma que, nesta etapa, percebe-se que o movimento se dá mais pela realocação de empresas na cidade do que pelo crescimento da economia.
- Após a CasaCor, as empresas começaram a entender a qualidade da infraestrutura na Zona Portuária - diz Cherman, afirmando que um fortalecimento mais robusto da economia propiciará uma nova fase de desenvolvimento da região, com os empreendimentos residenciais.
Além disso, quase ao lado do Aqwa e vizinho ao AquaRio, um terreno de 2,4 mil metros quadrados acabou de ser licitado pelo município. O vencedor do pregão foi o grupo Gramado Parks Investimentos Intermediações Ltda, que administra um parque de neve indoor em Gramado, na Serra Gaúcha. A empresa, no entanto, diz que só se pronunciará sobre o empreendimento após homologada a licitação.
A prefeitura tem ainda um projeto para construção de um polo comercial e gastronômico sob o Elevado do Gasômetro, próximo à Rodoviária Novo Rio, numa área hoje abandonada. E, no último dia 2, a Secretaria municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação apresentou, no Museu do Amanhã, detalhes da Lei do Porto21, para promover o adensamento de uma área de 1,7 milhão de metros quadrados. O projeto - nas mãos agora do prefeito Marcelo Crivella e que, depois, será enviado à Câmara dos Vereadores - propõe estabelecer ISS reduzido de 2%, além de benefícios no IPTU e no ITBI para que empresas e instituições nas áreas de tecnologia, inovação, economia criativa, educação, ciência, pesquisa e cultura optem pela região.
Outra novidade, conforme adiantou a coluna de Marina Caruso, foi o tombamento da antiga Fábrica da Bhering, no Santo Cristo, pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Com a preservação, o imóvel, que passou por uma disputa judicial e chegou quase a ser comprado, poderá ser reformado. Atualmente, o prédio que abriga ateliês variados, está com o elevador sem funcionar e a fachada e grande parte dos vidros das janelas, quebrados e deteriorados.
O Globo, Rafael Galdo, 17/abr
sexta-feira, 13 de abril de 2018
Vendas de imóveis em São Paulo sobem 81,5% em fevereiro
O mercado imobiliário na capital paulista teve crescimento nas vendas e nos lançamentos de novos projetos em fevereiro, de acordo com pesquisa do Sindicato da Habitação (Secovi-SP) divulgada na manhã desta quinta-feira, 12.
As vendas de imóveis residenciais novos atingiram 1.448 unidades, o que representa um aumento de 81,5% em comparação com o mesmo mês do ano passado, quando as vendas ficaram em 798 unidades. No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, as vendas totalizaram 25.349 unidades, crescimento de 60,4% em comparação com os 12 meses anteriores.
Os lançamentos de novos projetos corresponderam a 341 unidades em fevereiro, um aumento de 90,5% frente a igual intervalo do ano passado, quando foram lançadas apenas 179 unidades. Na análise de 12 meses, os lançamentos totalizaram 29.515 unidades, expansão de 61,6%.
O estoque de imóveis (unidades na planta, em obras e recém-construídas) chegou a 19.728 unidades no fim de fevereiro, redução de 12,5% em um ano.
De acordo com o economista-chefe do sindicato, Celso Petrucci, os resultados demonstram bom desempenho do mercado imobiliário, apesar de o mês ser mais curto em função do feriado de carnaval. "Foram registradas quase 1.500 vendas no mês, o melhor resultado dos últimos quatro anos para fevereiro, confirmando a tendência de crescimento apresentada pelo mercado no fim de 2017", afirmou Petrucci.
Infomoney, Imóveis, 13/abr
quinta-feira, 12 de abril de 2018
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