A construção civil, considerada um termômetro dos investimentos e do mercado de trabalho, começa a apresentar sinais mais robustos de recuperação. O setor registrou expansão de 1,3% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores, contribuindo para o desempenho positivo da economia no período, informou ontem o IBGE. Segundo especialistas, o avanço foi impulsionado pelo corte nos juros, que vem levando a uma expansão no mercado imobiliário, sobretudo em São Paulo.
Foi o segundo crescimento seguido da construção, após 20 trimestres de retração ininterrupta. Nos nove primeiros meses do ano, o segmento acumula expansão de 1,7%.
O desempenho no terceiro trimestre foi também o melhor desde o começo de 2014, quando a construção estava em seu maior patamar. Apesar do resultado positivo no terceiro trimestre, a atividade no segmento ainda está 30% abaixo daquele recorde.
- A queda de juros está levando a um aumento do crédito, e a construção civil é muito sensível a ele - explicou Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC.
A taxa básica de juros, a Selic, está em 5% ao ano, o menor nível já registrado. A expectativa dos economistas é que o Comitê de Política Monetária (Copom) faça novo corte este mês, para 4,5%.
O crescimento do consumo das famílias - cujo avanço foi de 0,8% na comparação com o segundo trimestre - também contribuiu para a retomada da construção.
- Esse consumo tem peso importante no PIB, e a construção civil acaba sendo beneficiada quando ele avança. Está havendo uma procura maior por imóveis residenciais, por exemplo - afirmou Gersan Zurita, vice-presidente sênior da agência de classificação de risco Moody's. - A expectativa é que esse movimento continue e que a construção siga apresentando bons resultados nos próximos trimestres.
Segundo boletim da FGV/ Ibre, a demanda por imóveis residenciais em São Paulo está acima da média do país e acaba influenciando positivamente o resultado consolidado da construção civil. A venda de imóveis naquele estado este ano, até setembro, cresceu 69% na comparação com o mesmo período de 2018 e já supera a média dos últimos 4 anos, de acordo com dados do Secovi-SP, sindicato da habitação.
MELHORA CONCENTRADA
Além de estar concentrada no setor imobiliário, a retomada do segmento está restrita à demanda das classes média e média alta, ponderou José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). No segmento de moradia popular, cujo mercado é maior, faltam recursos e política de habitação definida, observou Martins:
- Tradicionalmente, a recuperação começa por São Paulo e, depois, chega aos demais estados. Por ora, contudo, a retomada na construção está restrita ao segmento residencial do mercado imobiliário, que representa apenas uma pequena fatia do potencial do setor.
Martins lembra que a maior parte dos pilares que sustentam o segmento de construção ainda se encontra distante das condições ideais.
- O governo aposta em grandes PPPs (parcerias público-privadas), mas esses são projetos que demandam maior prazo de maturação e licenciamento até se concretizarem. Nos segmentos voltados para a indústria e para espaços corporativos, ainda há grande capacidade ociosa.
Eles dependem fortemente de investimentos, mas estes só virão com uma recuperação econômica mais forte - disse o presidente da Cbic.
A retomada da construção, que é intensiva em mão de obra, já proporciona reflexos positivos no mercado de trabalho. No terceiro trimestre, o segmento empregava 6,8 milhões de pessoas, 254 mil mais que nos três meses anteriores.