quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Selic cai a 4,5% ao ano


Em 2019, a taxa básica de juros (Selic) passou por quatro reduções. Começou o ano em 6,5% e, agora, renovou o piso histórico, a 4,5% ao ano. A rápida redução, no entanto, não se dá na mesma intensidade nos juros de produtos a que os consumidores recorrem quando precisam de crédito, como empréstimo pessoal e cheque especial.

De acordo com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), os juros do cheque especial estavam em 273,6% em novembro. O rotativo do cartão de crédito, por sua vez, estava em 266,8%. Três anos atrás, com a Selic a 14,25% ao ano, os juros do cheque especial chegavam a 296,3%, enquanto o do cartão de crédito estava em 451,4%.

Com taxas tão elevadas, o Banco Central (BC) decidiu impor um teto de 8% ao mês para os juros do cheque especial, com o objetivo de fazer a taxa cair à metade, para cerca de 150% ao ano.

Em um cenário de Selic tão baixa, surge o questionamento: por que, afinal, os juros destes produtos se mantêm tão elevados? A explicação para isso vai além da decisão do Comitê Política Monetária (Copom) do Banco Central, que define a Selic.

A inadimplência, a concentração bancária e os encargos do setor são motivos que, juntos, estão por trás desse cenário, segundo especialistas:

- A primeira, e mais forte, explicação para essa discrepância entre os percentuais é no spread bancário, ou seja, a diferença entre os juros que o banco paga quando o cliente investe dinheiro e os juros que cobram quando as pessoas tomam empréstimos - destaca Virgínia Prestes, professora de Finanças da Faap. - O que mais encarece esta diferença, atualmente, é o alto nível de inadimplência.

Em novembro, de acordo com levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o Brasil tinha 63,1 milhões de brasileiros com o CPF negativado, o que representou uma alta de 6% frente ao mesmo mês de 2018.

Por essa razão, os juros do empréstimo pessoal emitido por bancos estavam em 49,7% ao ano em novembro, bem acima da Selic. Quando o crédito é concedido por meio de financeiras, o percentual médio sobe a 113,3% ao ano. Em agosto de 2016, quando a Selic estava em 14,25%, os juros do empréstimo pelos bancos eram de 72,5%, ao passo que a taxa era de 165,5% nas financeiras.

Concentração bancária

Outro ponto apontado pelos especialistas como um "encarecedor" das opções de crédito são as obrigações e encargos do setor.

- Os bancos alocam parte do dinheiro para emprestar. Por exemplo, um cliente tem direito a R$ 10 mil de cheque especial. Esta quantia fica separada caso o cliente precise, mas o banco não pode mexer nisso. O dinheiro fica ali à espera do cliente, não podendo ser usado para algum outro fim pela instituição - explica Alexandre Espírito Santo, economista da Órama. - Além disso, os impostos sobre o sistema bancário são elevados, o que acaba encarecendo os produtos de crédito.



O Globo online, Gabriel Martins, 11/dez