quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Alta da gasolina pesa, e inflação oficial fica em 0,87% em agosto, maior taxa para o mês desde 2000

Combustível exerceu o principal impacto de alta sobre o IPCA do mês passado, com alta de 2,80%. No ano, gasolina acumula alta de 31,09% e o etanol, de 40,75%.

A inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, ficou em 0,87% em agosto, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Puxada pelo aumento do preço da gasolina, esta foi a maior taxa para um mês de agosto desde 2000, embora levemente abaixo dos 0,96% registrados em julho.

Com o resultado, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 9,68%, a mais alta desde fevereiro de 2016, quando ficou em 10,36%. No ano, o IPCA acumula alta de 5,67%.

Desde março, o indicador acumulado em 12 meses tem ficado cada vez mais acima do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação deste ano, que é de 5,25%.

O IBGE destacou que, em agosto, o indicador acumulado em 12 meses ficou acima de 10% em 8 das 16 regiões pesquisadas.

Inflação disseminada

A inflação está cada vez mais disseminada, ou seja, atingindo cada vez mais itens de consumo do brasileiro. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE para a composição do IPCA, oito registraram aumento de preços em agosto.

Além disso, o índice de difusão do IPCA - que reflete o espalhamento da alta de preços entre os 377 produtos e serviços pesquisados - passou de 64% em julho para 72% em agosto. Desde dezembro do ano passado esse índice não ultrapassava os 70%.

Veja o resultado para cada um dos grupos pesquisados:

Alimentação e bebidas: 1,39%

Habitação: 0,68%

Artigos de residência: 0,99%

Vestuário: 1,02%

Transportes: 1,46%

Despesas pessoais: 0,64%

Educação: 0,28%

Comunicação: 0,23%

Saúde e cuidados pessoais: -0,04%

Gasolina é a 'vilã' da inflação em agosto

Os combustíveis foram os 'vilões' da inflação em agosto, com destaque para a gasolina. Segundo o IBGE, a alta foi de 2,96%, acima dos 1,24% do mês anterior.

Só a gasolina, com alta de 2,80%, foi responsável por 0,17 ponto percentual da inflação mensal, sendo o item com o maior impacto individual sobre o índice. Etanol (4,50%), gás veicular (2,06%) e óleo diesel (1,79%) também ficaram mais caros no mês.

Almeida destacou que "o dólar, os preços no mercado internacional e o encarecimento dos biocombustíveis são fatores que influenciam os custos, o que acaba sendo repassado ao consumidor final".

No ano, a gasolina acumula alta de 31,09%, o etanol 40,75% e o diesel 28,02%.

Peso dos transportes volta a superar o da alimentação

Puxado pelos combustíveis, o grupo dos transportes teve alta de 1,46% em agosto, exercendo a maior influência sobre o IPCA entre os grupos pesquisados.

Tiveram alta também, aqui, veículos próprios (1,16%), com alta de 1,98% nos automóveis usados, 1,79% nos novos, e 1,01% em motocicletas. Já os transportes públicos tiveram queda média de 1,21%, sob influência de uma queda de 10,69% nos preços das passagens aéreas.

A pressão dos preços dos combustíveis tem sido tamanha que, em agosto, o peso do grupo de transportes voltou a superar o da alimentação na composição do IPCA e, por isso, o de maior impacto no orçamento doméstico.

De acordo com o analista da pesquisa, os transportes tiveram o maior peso entre os nove grupos pesquisados entre outubro de 2019 a maio de 2020. Desde então, a alimentação vinha sendo a de maior impacto na inflação, representando 19,97% do IPCA, enquanto os transportes respondiam por 19,85%.

Em agosto, porém, os transportes passaram a responder por 20,87% do IPCA, enquanto a alimentação, 20,83%.

Alimentos seguem em alta

Os preços dos alimentos não deram trégua para os consumidores em agosto. Com alta de 1,39% (mais que o dobro da alta de 0,60% registrada em julho), o grupo de alimentação e bebidas foi o segundo de maior impacto sobre a inflação do mês.

Veja as principais altas entre os itens:

Batata-inglesa: 19,91%

Café moído: 7,51%

Frango em pedaços: 4,47¨

Frutas: 3,90%

Carnes: 0,63%

Alta da conta de luz perde força, mas ainda pressiona

Vilã da inflação do mês passado, a alta da energia perdeu força em agosto, subindo 1,10% (em julho, a alta foi de 7,88%) – mas seguiu pressionando as contas.

Os preços do gás encanado (2,70%) e do gás de botijão (2,40%) também subiram.

Regiões

A pesquisa mostra ainda que todas as áreas pesquisadas tiveram inflação em agosto.

A maior taxa foi registrada em Brasília, de 1,40%, influenciada pelas altas nos preços da gasolina (7,76%) e da energia elétrica (3,67%). Já a menor foi na região metropolitana de Belo Horizonte (0,43%), por conta da queda nos preços das passagens aéreas (-20,05%) e da taxa de água e esgoto (-13,73%).

Meta de inflação e perspectivas

A meta central do governo para a inflação em 2021 é de 3,75%, e o intervalo de tolerância varia de 2,25% a 5,25%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), que foi elevada no início de agosto para 5,25% ao ano.

As estimativas do mercado financeiro já estão longe das metas do BC: na última pesquisa Focus, que reúne as projeções dos analistas, a inflação esperada para este ano já chegava a 7,58%.

Já a expectativa dos analistas para a taxa Selic no fim do ano está atualmente em 7,63%, o que pressupõe que haverá novas altas nos próximos meses.

Na ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central avaliou que a inflação ao consumidor continua se revelando "persistente", indicando uma nova alta de um ponto percentual no juro básico da economia em sua próxima reunião, marcada para 21 e 22 de setembro.

Para 2022, a inflação também dá mostras de estar fora do esperado: o mercado financeiro estima uma taxa de 3,94%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se oscilar de 2% a 5%.

Daniel Silveira e Laura Naime, G1, 09/set