Se confirmada, será a quinta elevação consecutiva da taxa básica de juros. Banco Central tenta conter a propagação das pressões inflacionárias.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta quarta-feira (22) e deve elevar a taxa básica de juros, a Selic, pela quinta vez seguida, de 5,25% para 6,25% ao ano — o maior patamar desde julho de 2019, ou seja, em pouco mais de dois anos.
Essa é a previsão dos analistas do mercado financeiro, em pesquisa efetuada pelo BC na última semana com mais de cem instituições financeiras. A decisão será anunciada após as 18h.
A expectativa dos economistas dos bancos é de que a taxa Selic continue avançando nos próximos meses, e que atinja 8,25% ao ano no fechamento de 2021.
O principal instrumento do Banco Central para conter a propagação da alta de preços é a taxa básica de juros, que é definida com base no sistema de metas de inflação. Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic, e a reduz quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas.
Para 2021, a meta central de inflação é de 3,75%. Pelo sistema vigente no país, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%. Neste momento, o BC já está olhando para a meta de inflação de 2022 para definir os juros. No próximo ano, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, ficou em 0,87%. Esta foi a maior taxa para um mês de agosto desde 2000. Em 12 meses, a inflação atingiu 9,68%, a mais alta desde fevereiro de 2016.
De acordo com levantamento do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV), mais da metade da inflação, neste ano, é resultado da disparada dos combustíveis, energia e carne. Esses estão entre os itens que mais têm pesado no bolso do brasileiro e na inflação.
O mercado financeiro estima que o a inflação medida pelo IPCA somará 8,35% neste ano, mais do que o dobro da meta central (7,5%) e acima do teto de 5,25% do sistema de metas. Para 2022, a previsão de inflação do mercado está em 4,10%, acima da meta central mas ainda dentro do intervalo de tolerância.
Segundo João Beck, economista e sócio da BRA, o objetivo do Banco Central é buscar atingir a meta de inflação em 2022, e, também, resgatar a confiança do mercado e dos investidores.
"É uma sinalização ao governo que precisa contribuir na sua parte para não criar mais situações inseguras para o investidor resultando na alta do dólar e pressionando a inflação", disse.
Ele avaliou que as pressões inflacionárias brasileiras estão acima do registrado em outros países. "Já era esperada uma inflação residual conforme a vacinação e a atividade fossem acelerando. O problema é que o Brasil passou por uma crise hídrica, geadas históricas e, de quebra, por uma crise institucional no governo que deixa o Congresso inoperante", concluiu.
Risco fiscal
Além da disparada da inflação, analistas avaliam que o chamado "risco fiscal", que são as incertezas sobre as contas públicas no futuro, também tem pressionado os juros neste ano, assim como a taxa de câmbio — o que retroalimenta as pressões inflacionárias.
O risco aumentou, segundo economistas, com a proposta do governo para parcelar precatórios. A área econômica tem dito que o objetivo é abrir espaço no teto de gastos para direcionar mais recursos para a ampliação do Bolsa Família.
A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, entretanto, avalia que é possível pagar os precatórios (sentenças judiciais) e fazer uma ampliação, mesmo que mais modesta, do Bolsa Família em 2022 sem necessidade de alterar as regras vigentes.
Felipe Salto, diretor-executivo da IFI, avaliou demanda por alterar as regras dos precatórios e abrir espaço no orçamento "nitidamente, vai muito além de ampliar auxílio ou Bolsa Família".
Segundo ele, entre as preocupações do governo e dos parlamentares, ao propor a mudança nos precatórios, está a abertura de espaço para gastos, em 2022 (ano eleitoral), com emendas de relator — consideradas menos transparentes que as individuais porque a destinação dos recursos é definida por meio de acertos informais entre parlamentares aliados e o governo federal.
Gabriel Leal de Barros, sócio e economista chefe da RPS capital, estimou que o chamado "risco fiscal" responde por cerca de um ponto percentual na taxa básica de juros. Ou seja, sem essas incertezas sobre as contas públicas, o juro estaria um ponto percentual menor do que o nível atual.
Consequências da alta dos juros
De acordo com economistas, o aumento do juro básico da economia, tem vários reflexos na economia. Veja abaixo os principais:
A elevação da taxa de juros, o aumento do juro básico da economia, se confirmado, resultará em taxas bancárias mais elevadas, tendo impacto maior na linha e crédito para aquisição da casa própria (pois os valores buscados são mais altos). Além do juro básico, o aumento do IOF anunciado pelo governo também impacta o custo final dos empréstimos.
O aumento da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos, impactando, assim, o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.
O aumento da taxa básica da economia gera uma despesa adicional com juros da dívida pública. Gabriel Leal de Barros, da RPS Capital, calculou que o ciclo de alta da Selic de 2% ao ano, em março de 2021, para 6,25% ao ano, se confirmada, geraria uma despesa adicional de cerca de R$ 140 bilhões com juros da dívida (se mantida em 12 meses) - valor semelhante ao orçamento da área de Saúde em 2022.
Aplicações financeiras em renda fixa, como a caderneta de poupança, tendem a render um pouco mais. Com o juro básico em 6,25% ao ano mais taxa referencial (TR), por exemplo, a poupança passará a render 4,37% ao ano, contra 3,67% ao ano, mais TR (com taxa Selic em 5,25% ao ano). Mesmo assim, o rendimento da poupança segue perdendo da inflação.
Alexandro Martello, G1, 22/set