Maior queda foi da agropecuária (-2,8%), seguida pela Indústria (-0,2%). Serviços cresceram 0,7% e consumo das famílias ficou estagnado. Apesar do resultado frustrante, economia brasileira se manteve no patamar pré-pandemia.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil recuou 0,1% no 2º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, conforme divulgado nesta quarta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números do IBGE mostram que a economia brasileira perdeu fôlego, após ter avançado de 1,2% nos 3 primeiros meses do ano, completando 3 trimestres seguidos de alta.
Apesar do resultado frustrante, o PIB se manteve no patamar entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, período pré-pandemia, segundo o IBGE. Porém, ele está 3,2% abaixo do ponto mais alto da série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
Em valores correntes, o PIB chegou a R$ 2,1 trilhões. Ele é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e durante um certo período e serve como uma espécie de termômetro da evolução da atividade e da capacidade de uma economia gerar riqueza e renda.
O resultado veio mais fraco que o esperado pelos analistas. A expectativa em pesquisa da Reuters era de um crescimento de 0,2% no segundo trimestre, na comparação trimestral.
Principais destaques do PIB no 2º trimestre:
Agropecuária: -2,8%
Indústria: -0,2%
Serviços: 0,7%
Consumo das famílias: zero
Consumo do governo: 0,7%
Investimento (FBCF): -3,6%
Importação: -0,6%
Exportação: 9,4%
Construção: 2,7%
Comércio: 0,5%
Alta de 6,4% no semestre
Frente ao 2º trimestre de 2020, o PIB cresceu 12,4% – maior taxa trimestral de toda a série histórica do PIB, iniciada em 1996.
O IBGE ponderou, no entanto, que este salto se deve à comparação com o trimestre que registrou a taxa negativa mais intensa de toda a série histórica, de -9% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e -10,9% na comparação anual.
No primeiro semestre, o PIB acumulou alta de 6,4% na comparação com os 6 primeiros meses do ano passado. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho, o avanço foi de 1,8%.
Agricultura e indústria em queda
A maior queda foi da agropecuária (-2,8%), afetada por quebra de safras , seguida pela Indústria (-0,2%), que vem sendo abalado pela falta de insumos e custo elevado das matérias-primas.
Por outro lado, os serviços cresceram 0,7% na comparação com o 1º trimestre, diante da reabertura da economia com o alívio nas medidas de contenção da Covid-19.
Entre as atividades industriais, o pior desempenho foi o das indústrias de transformação (-2,2%) e da atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,9%). Por outro lado houve avanço de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção.
Setor de serviços ainda não recuperou patamar pré-pandemia
Dentre os três grandes setores da economia, apenas o de serviços não recuperou o patamar pré-pandemia, operando ainda 0,9% abaixo do 4º trimestre de 2019. Já indústria e agropecuária ficaram, respectivamente, 1,6% e 3,3% acima do patamar observado antes da crise sanitária. “Lembrando que a agropecuária não sofreu quase nenhum efeito da pandemia”, ponderou a gerente da pesquisa.
Sobre o baixo desemprenho dos serviços, a pesquisadora destacou que as atividades listadas como outros serviços ficaram 7,2% abaixo do patamar pré-Covid, enfatizando os efeitos provocados pela crise sanitária sobre a economia.
Os destaques positivos do setor de serviços na composição do PIB do segundo trimestre foram as atividades de informação e comunicação (5,6%), e outras atividades (2,1%), que englobam os serviços prestados às famílias. Comércio (0,5%), atividades imobiliárias (0,4%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,3%) e transporte, armazenagem e correio (0,1%) também avançaram.
Apenas administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social ficou estagnada (0,0%) no trimestre, na comparação com os 3 primeiros meses do ano.
Consumo estagnado
Pela ótica da despesa, consumo das famílias teve variação zero na comparação com o 1º trimestre. Os investimentos tiveram queda de 3,6%. Já o consumo do governo teve alta de 0,7%.
O desemprego elevado e a alta da inflação observada desde o começo do ano tiveram impacto negativo direto sobre a retomada da economia.
Segundo a pesquisadora, o consumo das famílias, que pesa mais de 60% do PIB, ainda se encontra 1,6% abaixo do patamar pré-pandemia. “A gente vem observando melhora no mercado de trabalho, com geração de empregos, mas não houve crescimento da massa salarial. E a inflação tem um impacto bastante relevante sobre a renda”, destacou.
Rebeca ressaltou, ainda, que a alta da inflação vinha sendo puxada, desde o final do ano passado, pela alta de preços de alimentos e bebidas e este ano passou a ser muito impactada também pelo encarecimento dos combustíveis.
Exportações têm alta de 9,4%
A balança comercial brasileira teve uma alta de 9,4% nas exportações de bens e serviços no 2 trimestre, a maior variação desde o 1º trimestre de 2010.
Segundo o IBGE, o principal destaque foi a safra de soja estimulada pelos preços favoráveis. Por outro lado, as importações caíram 0,6% na comparação com os 3 primeiros meses do ano.
Investimentos em queda
Os investimentos medidos pela formação bruta de capital fixo (FBCF), que reúnem os gastos das empresas e do governo com máquinas e equipamentos, infraestrutura, construção e inovação, voltaram a cair (-3,6%) após 3 trimestres seguidos de alta.
A taxa de investimento no segundo trimestre de 2021 foi de 18,2% do PIB, contra 15,1% no mesmo período do ano anterior (15,1%), mas ainda distante do patamar de 2013 (20,9%).
A gerente da pesquisa ponderou que os resultados negativos investimentos, assim como das importações, comparados ao primeiro trimestre do ano refletem a incorporação de bens pelo Repetro.
“O Repetro ainda estava impactando esses dois componentes no primeiro trimestre. Agora no segundo trimestre, essa entrada pelo Repetro diminuiu bastante, refletindo negativamente quando se compara as taxas do segundo trimestre contra o primeiro. Com o passar do tempo, essa influência vai diminuindo”, apontou.
Poupança recorde
A taxa de poupança bateu recorde histórico neste segundo trimestre. Ela ficou em 20,9%, ante 15,7% no 2º trimestre de 2020, e foi a maior já registrada na série histórica que, para este indicador, teve início em 2000.
De acordo com a gerente da pesquisa, esse resultado tem relação direta com os efeitos da pandemia sobre o consumo, sobretudo, de serviços, paralisados diante das medidas de restrição à circulação de pessoas.
Os serviços são mais consumidos pelas famílias mais ricas que, segundo a pesquisadora, não o reverteram em consumo de bens, mas em poupança.
O que disse o governo
Em nota, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia avaliou que o resultado negativo do PIB no segundo trimestre ocorreu no período de três meses com maior número de mortes pela Covid-19 e com efeitos setoriais relevantes, acrescentando que o crescimento do PIB acumulado em 4 trimestres mostra "boa posição da economia brasileira".
Piora das expectativas
Apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19 e do fim das medidas de restrição de horários e público em boa parte do país, a inflação persistente, a tensão política e "riscos fiscais" (sustentabilidade das contas públicas) têm elevado nas últimas semanas o nível de incerteza sobre o ritmo da retomada e provocado revisões para baixo das previsões econômicas.
A expectativa do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2021foi reduzida de 5,27% para 5,22%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. Para 2022, a média das projeções está em 2%, mas parte dos analistas já vê um crescimento mais próximo de 1,5%.
Em 2020, no primeiro ano da pandemia, a economia brasileira caiu 4,1%, registrando a maior contração desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996, o que tirou o Brasil da lista das 10 maiores economias do mundo.
Economistas avaliam que o aquecimento do setor de serviços – o que mais emprega no país e com maior peso no PIB – deve ajudar na melhora do mercado de trabalho e garantir que o PIB do terceiro e do quarto trimestre fiquem no azul, mas alertam para o riscos de novos freios para a recuperação, incluindo a perspectiva de novas elevações na taxa básica de juros (Selic), de agravamento da crise hídrica e piora do ambiente político, em razão das reiteradas ameaças do presidente Jair Bolsonaro à ordem democrática.
Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1, 01/set