Queda no volume de empréstimos foi de 2,12% no mês passado. Cartão de crédito rotativo tem juro mais alto em quatro anos.
Concessões de empréstimos bancários recuaram no mês passado, de acordo com informações divulgadas pelo Banco Central nesta segunda-feira (27).
A taxa média de juros cobrada pelas instituições financeiras também cresceu no período, em linha com a alta do juro básico da economia, a taxa Selic, fixada pelo BC, e atingiu o maior patamar em 16 meses — enquanto a taxa cobrada no cartão de crédito rotativo foi a maior em quatro anos (leia mais abaixo).
Após baterem recorde em julho, as novas concessões de empréstimos recuaram 2,12% em agosto. O cálculo foi feito após ajuste sazonal, uma espécie de "compensação" para comparar períodos diferentes.
Foi a primeira queda nas novas concessões de crédito dos bancos desde dezembro do ano passado. Apesar disso, o patamar de R$ 416,743 bilhões para concessões, em agosto, ficou acima da média dos oito primeiros meses deste ano (R$ 392,855 bilhões).
De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o relançamento do Pronampe, programa do governo federal de empréstimos para micro e pequenas empresas, ajudou tanto no resultado positivo de julho quanto, agora, na queda em agosto.
"O Pronampe foi relançado em junho, e teve concessões concentradas em julho. Não houve a mesma coisa em agosto. Então, houve um aumento grande [em julho] por conta dessa linha, reduzindo-se no mês seguinte. Dessa forma, na minha avaliação, esse resultado [queda das concessões em agosto] é pontual", acrescentou ele.
Segundo o BC, o volume total do crédito ofertado pelos bancos subiu 1,5% em agosto, para R$ 4,335 trilhões, na comparação com R$ 4,271 trilhões em julho. Houve expansão de 1,9% na carteira de pessoas jurídicas e aumento de 1% na de pessoas físicas.
Para todo este ano, o Banco Central estima uma expansão de 11,1% no crédito bancário. Em 2020, impulsionado por linhas emergenciais de crédito para o combate aos efeitos da pandemia, o crédito bancário teve alta de 15,5%.
Inadimplência e endividamento
A taxa de inadimplência média registrada pelos bancos nas operações de crédito ficou estável em agosto, em 2,3%. Nas operações com pessoas físicas, a inadimplência permaneceu em 2,9% no mês passado e, no caso das empresas, ficou estável em 1,5%.
O Banco Central também divulgou nesta segunda estatísticas sobre o endividamento das famílias com bancos. Neste caso, os novos números são referentes a junho.
Segundo o BC, o endividamento voltou a bater recorde naquele mês ao somar 59,9% da renda acumulada nos doze meses anteriores. A série histórica do BC para este indicador começa em janeiro de 2005.
Em janeiro de 2020, antes da pandemia da Covid-19, o endividamento das famílias estava em 48,9%. Em janeiro deste ano, já havia avançado para 57% e, em maio, somava 59,2%.
“O BC olha e monitora constantemente as condições do crédito do sistema financeiro nacional, o que parece estar evoluindo sem maior risco. Do ponto de vista das famílias, a questão fundamental é que o seu acesso, das pessoas físicas, ao endividamento, seja feito com educação financeira e esclarecimento sobre as condições [prazo e juros]”, declarou Fernando Rocha.
Juros bancários
Os juros bancários médios com recursos livres (sem contar habitacional, rural e BNDES) de pessoas físicas e empresas, subiram de 28,9% ao ano, em julho, para 29,9% ao ano no mês passado.
Esse é o patamar mais alto desde abril do ano passado (31,3% ao ano), ou seja, em 16 meses. O aumento está em linha com o comportamento da taxa Selic, fixada pelo BC.
Em março, na primeira elevação em quase seis anos, a taxa básica da economia foi aumentada pelo BC para 2,75% ao ano. Em maio, o Copom elevou o juro para 3,5% ao ano e, em junho, a taxa avançou para 4,25% ao ano. Em agosto, a taxa subiu para 5,25% ao ano e, na semana passada, foi elevada para 6,25% ao ano.
Nas operações para pessoas físicas, o juro bancário médio passou de 39,8% ao ano, em julho, para para 40,9% ao ano em agosto, a maior desde abril deste ano (41,4% ao ano);
Considerando só as empresas, a taxa média de juros bancários passou de 15,5% ao ano em julho para 16,2% ao ano em agosto, a maior desde março de 2020 (16,6% ao ano) ;
No cheque especial das pessoas físicas, a taxa subiu de 124% ao ano em julho para 124,9% ao ano em agosto, a maior desde junho desse ano (125,6% ao ano). Nessa linha de crédito, o BC adotou um teto para os juros;
Nas operações com cartão de crédito rotativo de pessoas físicas, os juros bancários cobrados das pessoas físicas subiram de 331,5% ao ano, em julho, para 336,1% ao ano em agosto, o maior patamar desde agosto de 2017 (392,3% ao ano), ou sejam em quatro anos. Com isso, a taxa segue em patamar proibitivo.
O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente. Essa é uma das linhas de crédito mais caras do mercado e, segundo analistas, deve ser evitada. A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura mensalmente.
De acordo com o BC, o chamado spread bancário médio com recursos livres ficou estável em 21,7 pontos percentuais em agosto. O spread é a diferença entre quanto os bancos pagam pelos recursos e quanto cobram dos clientes.
O spread bancário composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
Nas operações com pessoas físicas, o spread caiu de 32,2 pontos em julho para 32,4 pontos em agosto. Desta forma, ainda segue em patamar elevado para padrões internacionais.
Alexandro Martello, G1, 27/set