quinta-feira, 19 de maio de 2022

Dinheiro na poupança 'encolhe' há 20 meses seguidos; veja alternativas à caderneta

 

Em abril, rentabilidade no acumulado em 12 meses, descontada a variação do IPCA, ficou negativa em -6,56%. Confira comparativo de investimentos e saiba que cuidados tomar para não trocar '6 por meia-dúzia'.

A poupança completou 20 meses seguidos de perdas para a inflação. Ou seja, quem tem dinheiro na modalidade de investimento mais popular do país está perdendo poder de compra há quase 2 anos.

Mas onde colocar o dinheiro?

Em abril, a rentabilidade da poupança foi de 0,56% em termos nominais, enquanto a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 1,06%, a maior taxa em 26 anos. Com isso, a caderneta teve um retorno negativo de -0,50% no mês.

No acumulado em 12 meses até abril, a poupança teve um rendimento real negativo (descontada a inflação) de 6,58%, perda maior do que a observada nos 12 meses até março (-6,20%), segundo levantamento da provedora de informações financeiras Economatica.

A última vez que a poupança teve ganhos reais no acumulado em 12 meses foi em agosto de 2020 (0,45%). Em outras palavras, o dinheiro aplicado na poupança está encolhendo em vez de crescer em razão do rendimento abaixo da inflação.

Embora a poupança não seja caso único de investimento perdendo para a inflação, com a alta da taxa básica de juros (Selic) há atualmente outras opções de investimento em renda fixa que superam a rentabilidade da poupança e que estão dando retorno de até mais de 1% ao mês, dependendo do prazo da aplicação.

Quanto rende 1 mil na poupança?

Desde o final do ano passado, quando a Selic ultrapassou o percentual de 8,5% ao ano, a rentabilidade da poupança voltou à regra antiga, deixando de pagar 70% da taxa básica de juros e passando a ter rendimento fixo de 6,17% ao ano + TR (ou 0,5% ao mês + TR), o mesmo que já era pago para a chamada "poupança velha" (depósitos feitos até abril de 2012).

Segundo cálculo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), uma aplicação de R$ 1 mil na poupança rende atualmente R$ 74,40 em 12 meses, ou 7,44% ao ano, já incluindo no cálculo a variação da TR e considerando a manutenção da Selic em 12,75%.

Já a inflação oficial do país atingiu 12,13% em ritmo anual em abril, completando 8 meses seguidos acima de dois dígitos, e o mercado financeiro tem projetado um IPCA ainda próximo de 9% em 2022.

Quais são as alternativas?

Mesmo com a alta da taxa básica de juros da economia para 12,75% ao ano, a rentabilidade da poupança segue congelada abaixo da inflação projetada para o ano, enquanto que a de outros rendimentos de renda fixa aumentou, acompanhando a trajetória da Selic.

Simulações do buscador de investimentos Yubb mostram que o retorno projetado para os principais investimentos de renda fixa supera de longe o da inflação, com retorno líquido (rentabilidade descontada a inflação e o imposto de renda) de até 6% para o período de 12 meses.

Entre as alternativas consideradas tão seguras quanto à poupança e mais rentáveis neste momento, merecem destaque os títulos que acompanham a trajetória da Selic, como CDBs (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letras de Crédito Imobiliário), LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e o Tesouro Selic.

Vale lembrar, porém, que na hora de investir é preciso avaliar não só a rentabilidade, mas também os objetivos desse investimento, o tempo que o dinheiro pode ficar aplicado, a necessidade de eventual resgate antes do vencimento e a disposição a assumir mais ou menos risco.

Cuidado com as pegadinhas!

A planejadora financeira alerta, porém, para o risco de trocar "6 por meia-dúzia", uma vez que os bancos e agentes financeiros costumam oferecer aos clientes opções que nem sempre são as mais vantajosas.

A Anefac alerta que, para superar o retorno oferecido pela poupança, um CDB precisa pagar acima de 85% do CDI, uma vez que a caderneta é isenta de imposto de renda, ao passo que CDBs pagam IR de acordo com o prazo de resgate da aplicação.

Uma dica é buscar opções de CDBs fora dos grandes bancos, que oferecem retorno maior. Os CDBs contam com a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) para aplicações de até R$ 250 mil e quando rendem acima de 100% do CDI isso significa, na prática, que estão remunerando mais do que a Selic. Bancos digitais e fintechs também costumam oferecer rendimento de 100% do CDI para o dinheiro depositado nas contas de pagamento.

No caso dos fundos, é preciso sempre ficar de olho nas taxas de administração e no risco de sobe e desce do valor das cotas. A Anefac alerta que mesmo os fundos de renda fixa podem ter rendimento líquido inferior ao que é pago pela poupança quando a taxa cobrada supera 2,5% ao ano.

Para os investidores com foco no médio e longo prazo, a Selic em dois dígitos e a perspectiva de fim do ciclo de alta neste ano pode representar uma oportunidade para a compra de títulos públicos e privados de prazos mais longos, incluindo os pré-fixados e os que pagam a inflação mais um prêmio.

"Para poder manter o poder de compra, é interessante que eu ganhe acima da inflação e os produtos que vão te dar poder de compra são os títulos que pagam inflação mais juros. Todos os bancos e corretores têm, mas não oferecem para o cliente", observa, citando os títulos privados e os do Tesouro Direto.

Brasileiro investe pouco

Mesmo sem oferecer ganhos reais, a caderneta de poupança segue no topo da lista de modalidades de investimento mais utilizadas pelos brasileiros. Pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) mostrou que a caderneta de poupança ainda é o produto financeiro mais utilizado entre os brasileiros em 2021, com 23% das menções.

Já os demais produtos, como fundos de investimento, títulos privados e públicos, ações e ativos digitais, apresentam uma participação baixa na carteira de investimento da população, e uma fatia de 2% respondeu que deixa o dinheiro em casa ou no colchão.

A pesquisa ouviu 5.878 pessoas nas cinco regiões do país entre os dias 9 e 3 de novembro de 2021.

Quanto ao destino das aplicações, realizar o sonho da casa própria é o objetivo apontado por 29% da população. Na sequência, vem o aspecto da segurança, com a garantia de ter dinheiro guardado para emergências, com fatia de 20%. As outras prioridades mais citadas foram comprar carro ou moto, investir em negócio próprio e aposentadoria/uso na velhice, as 3 com 8% cada uma.

O dado mais revelador, entretanto, é que 61% das pessoas não utilizam ou não conhecem nenhum tipo de investimento sequer, sendo que 82% disseram não ter feito nenhum tipo de investimento em 2021, o que mostra não só o desafio da educação financeira do país como também a baixa renda do brasileiro.

Comparativo de investimentos em abril

Apesar de acumular perdas, o retorno da poupança em abril superou o de outras aplicações financeiras de maior risco como ações e criptomoedas.

Veja abaixo levantamento da Economatica sobre o comparativo de rentabilidade nominal no mês:

Dólar Ptax: 3,83%

Ouro: 2,40%

Fundos imobiliários: 1,19%

CDI: 0,83%

Ima-B (títulos públicos indexados ao IPCA): 0,83%

Poupança: 0,56%

Euro: -1,35%

Bitcoin: -8,61%

Ibovespa: -10,10%

Os investimentos em renda variável como ações e criptomoedas estão sendo afetados em 2022 pela alta de juros não só no Brasil, mas em todo o mundo. Juros mais altos nos EUA tornam, por exemplo, os investimentos em títulos do tesouro norte-americano (treasuries) mais rentáveis, o que tem estimulado a migração de capital para ativos considerados mais seguros.

O podcast Educação Financeira pediu dicas ao professor Liao Yu Chieh, do C6 Bank, para mapear as oportunidades, avaliar o cenário econômico e entender como fazer aportes certeiros na hora de começar a investir.

Darlan Alvarenga, G1, 19/mai