Nível foi registrado após queda de quase US$ 12 bilhões entre 9 de setembro e 10 de outubro. Apesar das perdas, reservas ainda estão em situação confortável, avaliam economistas.
As reservas internacionais do Brasil estão no patamar mais baixo em mais de 11 anos, segundo dados do Banco Central (BC). O colchão de dólares do país entrou, entre o fim de agosto e o início deste mês, na casa dos US$ 326 bilhões, o mesmo registrado em abril de 2011.
Reservas internacionais são valores que um país possui em moeda estrangeira. Funcionam como uma espécie de “seguro” para fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques externos, como crises cambiais — caracterizadas pela desvalorização acentuada da moeda local.
Essas reservas são distribuídas entre títulos (tipo de investimento feito a partir da compra de papéis de dívida de uma entidade emissora, que se compromete a devolver o valor com juros), depósitos em moedas, ouro, entre outros formatos.
Para efeito de comparação, a queda ao longo dos 30 dias imediatamente anteriores foi de quase metade da cifra: US$ 6,2 bilhões, uma redução de 1,8%.
Por que caiu?
Para o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, André Galhardo, as perdas recentes podem ter relação com a volatilidade da moeda brasileira e a atuação do Banco Central para controlar a desvalorização do real diante do dólar norte-americano.
O cenário é diferente quando voltamos mais 30 dias. Entre 8 de julho e 8 de agosto, o país registrou aumento de US$ 3,5 bilhões nas reservas cambiais.
Apesar da alta no meio do ano, as quedas recentes ajudaram a puxar o resultado de 2022 para o negativo. No ano, o montante passou de US$ 361,4 bilhões, em 3 de janeiro, para os atuais US$ 326,2 bilhões, em 10 de outubro, uma perda nominal de US$ 35,1 bilhões – ou 9,7% no período.
Se comparado com o maior nível nominal da história, registrado em 2019, a queda é ainda maior, de US$ 64,2 bilhões. O montante foi reduzido de US$ 390,5 bilhões, no dia 25 de junho daquele ano, para US$ 326,2 bilhões, em 10 de outubro de 2022, um recuo de 16%.
Mas a queda preocupa?
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, não.
Ele também destaca que, como o Brasil tem, atualmente, um nível de reservas muito próximo à dívida externa total, está em um patamar que pode ser considerado confortável.
"A gente tem muito mais recursos no nosso ativo do que no passivo. Então, ele é líquido, ou seja, está sobrando dinheiro para honrar todos os compromissos que o Brasil tem”, diz.
André Galhardo também descarta um cenário preocupante, mas pondera: “diversos estudos mostram que o patamar brasileiro é confortável. Ainda assim, essa diminuição tão rápida nos últimos dias liga um ponto de alerta. Por ter chegado a um nível que não era visto desde 2011, é um ponto de atenção”, afirma.
Cenário global
Alex Agostini explica que o cenário global atual — de aumento nas taxas juros pelas grandes economias — tem gerado impactos diretos sobre as reservas brasileiras.
Isso porque as reservas são formadas a partir da entrada de moeda estrangeira no país. Nesse contexto, a alta taxa de juros de economias como a dos Estados Unidos e de países da Europa se torna um entrave: são muito mais atrativas para os investidores quando comparadas ao Brasil.
O motivo é que são economias consolidadas, com riscos muito menores do que a brasileira, que acaba atraindo menos investidores, mesmo que nosso país tenha a maior taxa de juros real do planeta.
Agostini destaca que há ainda a incerteza diante da política brasileira, em meio às eleições, o que gera cautela por parte do mercado.
Entenda as reservas internacionais
Galhardo resume as reservas como “recursos em moeda estrangeira ou equivalente em títulos financeiros, que o Banco Central guarda para eventuais problemas nas contas externas”.
O gestor desses recursos é o BC. Mas o governo também pode usar as reservas para, por exemplo, abater dívidas externas e para interferir no câmbio.
Alex Agostini explica que essa atuação pode interferir diretamente na inflação do país. “Caso o real tenha muita desvalorização, isso tem impacto nos preços internacionais de commodities. Por sua vez, impacta a inflação. Então, o BC atua justamente dessa forma, para garantir a estabilidade da moeda estrangeira aqui no Brasil.”
Para que servem as reservas internacionais?
O Brasil adota um regime de câmbio flutuante. Isso significa que o valor do dólar flutua livremente sobre o real, de acordo com a oferta e a demanda da moeda pelo mercado. Na prática, quanto mais dólar no país, menos valorizado ele vai estar frente ao real.
Segundo o Banco Central, a “alocação das reservas internacionais (ou seja, onde o dinheiro é investido) é feita de acordo com o tripé segurança, liquidez e rentabilidade, nessa ordem”.
Se um país tem reservas em volume confortável, fica menos sujeito a ataque especulativo e tem menor volatilidade cambial.
“De modo geral, se você tem reservas internacionais, você tem segurança internacional. Os empresários não vão pensar duas vezes antes de fazer um ataque especulativo [retirada volumosa de dinheiro ao mesmo tempo]. Isso esvazia as reservas rapidamente e cria um processo de desvalorização do câmbio", explica Galhardo.
Qual a composição das reservas brasileiras?
Segundo o último relatório de Gestão das Reservas Internacionais do Banco Central, as reservas brasileiras encerraram 2021 distribuídas da seguinte forma, em moedas:
- Dólar norte-americano: 80,34%
- Euro: 5,04%
- Renminbi (China): 4,99%
- Libra esterlina (Reino Unido): 3,47%
- Ouro: 2,25%
- Iene (Japão): 1,93%
- Dólar canadense: 1,01%
- Dólar australiano: 0,97%
Divisão considerando os tipos de investimentos da reserva brasileira:
- Títulos governamentais: 89,26%
- Depósitos em bancos centrais e em organismos supranacionais: 3,61%
- Títulos de agências: 1,64%
- ETFs de índices de ações: 1,13%
- Títulos de organismos supranacionais: 0,63%
- Depósitos em bancos comerciais: 0,47%
- ETFs de Corporates Investment Grade: 0,44%
- Ouro: 2,25%
- Outras classes de ativos, como títulos de governos locais: 0,58%
André Catto, G1, 19/out