Dado do lucro líquido consta em relatório de estabilidade financeira divulgado pelo BC nesta quarta. Eventual falência da varejista teria 'impacto relevante' nos compromissos do sistema bancário, avalia entidade.
O lucro líquido dos bancos subiu 1,6% em 2022 e somou R$ 139 bilhões, informou nesta quarta-feira (10) o Banco Central. Em 2021, as instituições financeiras tinham lucrado R$ 136,8 bilhões.
Apesar do aumento na comparação com 2021, o lucro das instituições financeiras registrou queda frente ao patamar registrado no meio do ano passado.
Em doze meses até junho de 2022 (número revisado), o lucro tinha somado R$ 143,3 bilhões. Na ocasião, essa cifra representava um recorde.
De acordo com o BC, as despesas com provisões (valores reservados para eventual inadimplência dos clientes) aumentaram ao longo de 2022 e, relativamente à carteira (de empréstimos), aproximaram-se dos níveis observados durante a pandemia.
"O crescimento do crédito em linhas de maior risco, o aumento do comprometimento de renda das famílias e a redução da capacidade de pagamento de micro e pequenas empresas explicam o aumento ao longo do ano", acrescentou a instituição.
Lojas Americanas e rentabilidade menor
O BC informou ainda que, no quarto trimestre do ano passado, o efeito das lojas Americanas, contribuiu para a elevação significativa das provisões (recursos separados para possível inadimplência) na ordem de 25% na comparação trimestral, e respondeu por "parcela relevante" do recuo da rentabilidade do sistema no ano.
De acordo com o Banco Central, o retorno sobre o patrimônio líquido do sistema financeiro nacional, forma usada para medir a rentabilidade dos bancos, foi de 14,7% em 2022, com queda na comparação com os 15,7% registrado no ano anterior.
As lojas Americanas divulgaram em janeiro ter identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que pode chegar a mais de R$ 40 bilhões, e depois entrou com pedido de recuperação judicial.
A recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo pelo qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça. As dívidas ficam congeladas por 180 dias e a operação é mantida.
Cenário para 2023
O Banco Central avaliou, também, que o cenário para o sistema financeiro em 2023 é de "atividade econômica mais fraca, crescimento do crédito menor, inadimplência e inflação em níveis elevados". "Assim, espera-se que a rentabilidade do sistema continue pressionada no médio prazo", avaliou.
De acordo com a instituição, a percepção de desaceleração da economia e de resiliência do sistema financeiro nacional está em linha com a opinião dos agentes do mercado financeiro.
A projeção dos economistas dos bancos é de que a economia brasileira terá uma expansão de 1% neste ano, contra uma alta de 2,9% em 2022 e de 5% em 2021.
"Essas instituições [financeiras] elevaram a preocupação com os riscos e ressaltaram a incerteza em relação à política fiscal, [alta nos gastos do governo] ao novo arcabouço fiscal [nova regra para as contas públicas] e à sustentabilidade da dívida pública", acrescentou o BC.
Estabilidade dos bancos
Apesar do aumento das provisões e queda da rentabilidade do sistema financeiro por causa do efeito das inconsistências contábeis das lojas Americanas, o Banco Central avaliou, ainda, que "não há risco relevante para a estabilidade financeira".
"Testes de estresse de capital e de liquidez [simulações de piora do cenário] demonstram que o sistema bancário mantém-se resiliente. A capitalização está confortável e as provisões estão adequadas às perdas esperadas", informou.
Em decorrência do caso Americanas, o BC informou que efetuou um teste de estresse específico considerando eventual "default" (quebra) dessa empresa e da rede de fornecedores que dela dependem.
Alexandro Martello, g1, 10/mai