quarta-feira, 10 de maio de 2023

Bancos lucraram R$ 139 bilhões em 2022, com alta de 1,6%; caso Americanas reduziu rentabilidade, diz Banco Central

Dado do lucro líquido consta em relatório de estabilidade financeira divulgado pelo BC nesta quarta. Eventual falência da varejista teria 'impacto relevante' nos compromissos do sistema bancário, avalia entidade.

O lucro líquido dos bancos subiu 1,6% em 2022 e somou R$ 139 bilhões, informou nesta quarta-feira (10) o Banco Central. Em 2021, as instituições financeiras tinham lucrado R$ 136,8 bilhões.

Apesar do aumento na comparação com 2021, o lucro das instituições financeiras registrou queda frente ao patamar registrado no meio do ano passado.

Em doze meses até junho de 2022 (número revisado), o lucro tinha somado R$ 143,3 bilhões. Na ocasião, essa cifra representava um recorde.

De acordo com o BC, as despesas com provisões (valores reservados para eventual inadimplência dos clientes) aumentaram ao longo de 2022 e, relativamente à carteira (de empréstimos), aproximaram-se dos níveis observados durante a pandemia.

"O crescimento do crédito em linhas de maior risco, o aumento do comprometimento de renda das famílias e a redução da capacidade de pagamento de micro e pequenas empresas explicam o aumento ao longo do ano", acrescentou a instituição.

Lojas Americanas e rentabilidade menor

O BC informou ainda que, no quarto trimestre do ano passado, o efeito das lojas Americanas, contribuiu para a elevação significativa das provisões (recursos separados para possível inadimplência) na ordem de 25% na comparação trimestral, e respondeu por "parcela relevante" do recuo da rentabilidade do sistema no ano.

De acordo com o Banco Central, o retorno sobre o patrimônio líquido do sistema financeiro nacional, forma usada para medir a rentabilidade dos bancos, foi de 14,7% em 2022, com queda na comparação com os 15,7% registrado no ano anterior.

As lojas Americanas divulgaram em janeiro ter identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que pode chegar a mais de R$ 40 bilhões, e depois entrou com pedido de recuperação judicial.

A recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo pelo qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça. As dívidas ficam congeladas por 180 dias e a operação é mantida.

Cenário para 2023

O Banco Central avaliou, também, que o cenário para o sistema financeiro em 2023 é de "atividade econômica mais fraca, crescimento do crédito menor, inadimplência e inflação em níveis elevados". "Assim, espera-se que a rentabilidade do sistema continue pressionada no médio prazo", avaliou.

De acordo com a instituição, a percepção de desaceleração da economia e de resiliência do sistema financeiro nacional está em linha com a opinião dos agentes do mercado financeiro.

A projeção dos economistas dos bancos é de que a economia brasileira terá uma expansão de 1% neste ano, contra uma alta de 2,9% em 2022 e de 5% em 2021.

"Essas instituições [financeiras] elevaram a preocupação com os riscos e ressaltaram a incerteza em relação à política fiscal, [alta nos gastos do governo] ao novo arcabouço fiscal [nova regra para as contas públicas] e à sustentabilidade da dívida pública", acrescentou o BC.

Estabilidade dos bancos

Apesar do aumento das provisões e queda da rentabilidade do sistema financeiro por causa do efeito das inconsistências contábeis das lojas Americanas, o Banco Central avaliou, ainda, que "não há risco relevante para a estabilidade financeira".

"Testes de estresse de capital e de liquidez [simulações de piora do cenário] demonstram que o sistema bancário mantém-se resiliente. A capitalização está confortável e as provisões estão adequadas às perdas esperadas", informou.

Em decorrência do caso Americanas, o BC informou que efetuou um teste de estresse específico considerando eventual "default" (quebra) dessa empresa e da rede de fornecedores que dela dependem.

Alexandro Martello, g1, 10/mai