Os números são divulgados em um cenário de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao alto patamar da taxa básica de juros, a Selic. Inadimplência avança em abril.
O Banco Central informou nesta terça-feira (30) que a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas subiu de 44,5% para 45,1%, de março para abril desse ano.
Esse é o maior patamar desde agosto de 2017, quando a taxa média alcançou 45,6% ao ano. Ou seja, trata-se do maior índice em cerca de cinco anos e meio. A série histórica do BC tem início em março de 2011.
O juro médio, nesse caso, foi calculado com base em recursos livres – ou seja, não inclui os setores habitacional, rural e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
- A taxa média de juros cobrada nas operações com empresas ficou caiu de 24,1% ao ano em março para 23,9% ao ano em abril.
- Já nas operações com pessoas físicas, os juros subiram de 58,6% ao ano em março para 59,7% ao ano em abril - os maiores desde agosto de 2017 (62,3% ao ano).
- No cheque especial das pessoas físicas, a taxa subiu de 130,1% ao ano, em março, para 134% ao ano em abril de 2023 (a mais alta desde fevereiro deste ano, quando somou 134,7% ao ano).
- No cartão de crédito rotativo, a taxa avançou para 447,5% ao ano em abril, o maior patamar em seis anos.
Os números são divulgados em um cenário de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao alto patamar da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano - o maior patamar em seis anos e meio.
Os juros que servem de base para as taxas bancários, entretanto, são aqueles do mercado futuro, pactuados entre as instituições financeiras com base nas expectativas para a economia brasileira.
Pesquisa
De acordo com pesquisa online realizada pela Ipsos, e divulgada nesta terça-feira (30), com 20.570 pessoas entre 24 de março e 7 de abril deste ano, das quais cerca de 1.000 pessoas no Brasil, 78% dos brasileiros entrevistados, ou seja, cerca de 8 em 10 pessoas, acreditam que a taxa de juros contribui para o aumento do custo de vida no país.
O dado foi obtido através da pesquisa "Monitor Global da Inflação", feita pela Ipsos. Das 29 nações que integram o levantamento, o Brasil ocupa a 6ª posição entre os países mais preocupados com a taxa de juros. Apenas Coreia do Sul (86%), África do Sul (83%), Austrália (83%), Suécia (80%) e Cingapura (79%) exibem porcentagens maiores, informou a Ipsos.
Outros motivos também citados pelos brasileiros para aumento do custo de vida no país são o atual estado da economia global (74%), as políticas adotadas pelo governo no país (72%), a invasão da Ucrânia (66%) e a pandemia da Covid-19 (65%). Neste caso, os entrevistados poderiam apontar mais de uma resposta, por isso a somatória dos valores ultrapassa 100%.
Crédito bancário
O volume total do crédito bancário no mercado, segundo o Banco Central, recuou 0,1% em abril, ficando relativamente estável em R$ 5,4 trilhões - mesmo patamar de março.
No mês passado, houve um queda de 0,6% nos empréstimos para as empresas e aumento de 0,2% nas operações de crédito para as pessoas físicas – para R$ 3,3 trilhões, acrescentou a instituição.
Para as pessoas físicas, o BC informou que destacaram-se os aumentos nas operações do crédito pessoal não consignado (+1,8%), crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público (+0,6%) e crédito pessoal consignado para aposentados e pensionistas do INSS (+0,9%), basicamente. Em sentido oposto, observou-se redução na carteira de cartão de crédito à vista (-1,5%).
Segundo o BC, também houve recuo de 1,2% nas novas concessões de empréstimos no mês passado, período em que somaram R$ 484,8 bilhões. Em março, haviam totalizado R$ 490,7 bilhões. Essa foi a terceira queda mensal seguida do indicador.
O cálculo foi feito após ajuste sazonal (uma espécie de "compensação" para comparar períodos diferentes).
Endividamento das famílias e inadimplência
Segundo o BC, o endividamento somou 48,5% da renda acumulada nos 12 meses até março desse ano. A série histórica do BC para este indicador teve início em janeiro de 2005. Com isso, registrou queda marginal na comparação com fevereiro, quando estava em 48,6%.
Em fevereiro de 2020, antes da pandemia da Covid-19, o endividamento das famílias somava 41,8%.
Ao mesmo tempo, a taxa de inadimplência média registrada pelos bancos nas operações de crédito subiu de 3,3% em março para 3,4% em abril deste ano.
- Nas operações com pessoas físicas, a inadimplência subiu de 4% em março para 4,2% em abril.
- Já a inadimplência das empresas avançou de 2,1% em março para 2,3% em abril.
Alexandro Martello, g1, 30/mai