A presença de mulheres em postos de liderança nas grandes empresas do país continua em expansão e chegou a quase 40% em 2023. No mercado imobiliário, elas também se destacam.
A participação das mulheres em cargos de liderança no ano passado chegou a 39,1% nas grandes empresas do país, segundo o levantamento “Mulheres no Mercado de Trabalho”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O estudo foi feito com base em dados da PNAD Contínua, do IBGE. Há dez anos, a presença feminina nessas posições era de 35,7%.
Na construção civil, 60% das contratações entre janeiro e maio de 2023 foram de pessoas do sexo feminino, conforme relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Segundo o Painel da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho, em 2010, havia 7,8% de trabalhadoras formais no setor. Cerca de uma década depois, em 2021, eram 10,85% da mão de obra, com 207 mil mulheres atuando na construção civil.
Já na corretagem imobiliária, a participação delas foi de 40% no ano passado, contra 34% em 2019, segundo o estudo Pesquisa Raio-X da Corretora 2023, divulgado pelo Data ZAP na 10ª edição do evento Conecta Imobi.
Embora as pesquisas e os relatórios apontem para uma franca expansão da presença feminina nas lideranças empresariais e nos segmentos do mercado imobiliário, ainda há muito a avançar no aspecto comportamental em virtude dos desafios enfrentados por elas no exercício de suas profissões.
Carreiras de sucesso
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, convidamos quatro lideranças femininas que se destacam em suas áreas de atuação para falar sobre suas carreiras bem-sucedidas no mercado imobiliário ou eventuais obstáculos ao exercício da profissão: a arquiteta Fernanda Marques; a VP de Negócios da Mitre Realty, Gabriela Canfora; a corretora de imóveis Graziella Haddad Labate; e a engenheira civil Stephane Domeneghini, da FG Empreendimentos.
Sobre os desafios de conciliar carreira e vida pessoal, Fernanda Marques diz que o principal é gerenciar o tempo, lidar com expectativas sociais e garantir flexibilidade no trabalho. “Resiliência, apoio e estabelecimento de limites são fundamentais para equilibrar essa dupla jornada única”, define ela, que decidiu ser arquiteta ainda na adolescência, abrindo caminho para a filha, Isabella, seguir os mesmos passos.
A arquiteta afirma nunca ter sofrido preconceito no exercício da profissão, mas que, apesar dos avanços importantes nessa seara, ainda há muitos desafios e pressões enfrentados por mulheres no mercado de trabalho. “Nesse rol, podemos incluir desigualdades salariais e necessidade contínua de provar competência em um ambiente muitas vezes dominado por homens”, afirma Fernanda.
A despeito de já ter passado por “situações constrangedoras” ao longo da carreira, como ouvir que estava no lugar certo por comandar uma área que demanda grandes desembolsos para aquisição de terreno, já que “mulher gosta de gastar”, Gabriela Canfora acha que não é preciso levantar a bandeira do feminismo para ser ouvida. “Nossa resposta deve ser com inteligência, resiliência e capacidade”, pontua.
Na Mitre, onde diz nunca ter enfrentado tratamento diferenciado por ser mulher, Gabriela conduz a Vice-Presidência de Negócios da mesma forma com que foi levada a assumir responsabilidades e entregar resultados. “Não abaixo a cabeça diante de qualquer preconceito, mas não reajo com agressividade e extremismo. Há muitas outras armas para promover o empoderamento das mulheres”, argumenta.
Olhar diferenciado
A corretora de imóveis Graziella Haddad Labate chegou à profissão ao cobrir a licença-maternidade da secretária de um empresário de corretagem de alto padrão. Apaixonou-se pela área e começou a sonhar com a comercialização de imóveis para pessoas de sua rede de amizades. Algum tempo depois, fez contato com uma imobiliária recém-fundada para vender um imóvel de seus avós. Acabou sendo contratada e trabalhou na Axpe Imóveis por cinco anos.
Logo depois assumiu a gerência de equipe da Lopes, de onde saiu para um voo solo: criar um blog para vender imóveis. Investiu no negócio e hoje é conhecida como Graziella dos Imóveis. “O olhar feminino me ajudou muito, uso minha criatividade e intuição na relação com colaboradores, clientes e parceiros. Uma empresa comandada por mulheres é diferente até na decoração, meu escritório está sempre florido”, compara.
Uma amante de histórias sobre as antigas civilizações que alimentava o sonho de ser arqueóloga, Stephane Domeneghini tomou outros rumos e acabou estudando Engenharia Civil. Sua estreia na profissão se deu há dez anos, quando começou a trabalhar na área de projetos da FG Empreendimentos, onde está até hoje.
“Ao ler sobre as grandes civilizações e como o homem transformou o mundo que habita, eu pude aprender e aperfeiçoar as habilidades naturais que sempre tive para projetar o futuro e ajudar a criar monumentos que transformam vidas e cidades, que se tornam ícones para toda uma civilização. Em algum momento do futuro, esses projetos serão parte importante da História”, filosofa ela, que é especializada em projetos de arranha-céus.
Valor Econômico, 10/jul