As favelas do Rio estão na mira do arquiteto japonês Shigeru Ban, conhecido mundialmente por trabalhar com técnicas de construção de casas para vítimas de desastres, como o terremoto que atingiu o Japão em 2011. De passagem pela cidade - para discutir com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, detalhes de um projeto de uso de madeira cortada ilegalmente na Amazônia -, Ban faz planos de, no futuro, conhecer uma comunidade e estudar formas de construção adequadas para erguer casas para vítimas de enchentes.
- Fui convidado pela ministra para o projeto quando estive aqui para a Rio+20, e estou muito entusiasmado porque ele é desafiador. Vou trabalhar com materiais diferentes, para a construção de um centro de visitação na floresta que vai incrementar o ecoturismo. As árvores já estão cortadas, infelizmente. Mas é bom poder levá-las de volta à comunidade com alguma função - explica Ban, que tem projetos em áreas de desastres de Índia, Turquia, China, Haiti, Itália e Sri Lanka, a maior parte com estruturas de tubos de papel reciclado. - Não estou interessado em fazer prédios para ganhar dinheiro, mas em grandes desafios. E espero poder fazer algo no Rio também. Ninguém me convidou ainda. Mas eu gostaria de trabalhar com casas em favelas. Não sei se com papel reciclado.
Preciso estudar a realidade do lugar. Desenvolvi outras estruturas que podem ser usadas, como sanduíches de poliuretano e espuma para isolar o calor. Ban participa hoje de um debate no Museu de Arte do Rio (MAR) sobre planejamento urbano e soluções sustentáveis. Mas não gosta de ser considerado um arquiteto "sustentável".
- Não estou pensando em soluções sustentáveis. Eu comecei a trabalhar com material reciclável em 1986, quando ninguém falava em reciclagem ou sustentabilidade. Estava apenas pensando em reaproveitar as coisas, não jogá-las fora. Não uso ecologia e sustentabilidade como estratégia. É a natureza do meu interesse. Muitos arquitetos, designers e empresas usam isso com objetivo comercial.
Da arquitetura brasileira, Ban conhece mais Oscar Niemeyer, que considera um líder. Mas acha que o país tem grande potencial e lembra que temos um ganhador do prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha. Perguntado sobre que grandes obras deveriam ser feitas para os Jogos de 2016, descarta grandes edifícios:
- O Rio tem que investir em infraestrutura e transporte. Não em edifícios monumentais que só vão ser usados uma vez, como a China fez para mostrar ao mundo do que era capaz.
O Globo, Paula Autran, 13/set