segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Arquiteto japonês quer levar sua técnica para as favelas cariocas


As favelas do Rio estão na mira do arquiteto japonês Shigeru Ban, conhecido mundialmente por trabalhar com técnicas de construção de casas para vítimas de desastres, como o terremoto que atingiu o Japão em 2011. De passagem pela cidade - para discutir com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, detalhes de um projeto de uso de madeira cortada ilegalmente na Amazônia -, Ban faz planos de, no futuro, conhecer uma comunidade e estudar formas de construção adequadas para erguer casas para vítimas de enchentes.

- Fui convidado pela ministra para o projeto quando estive aqui para a Rio+20, e estou muito entusiasmado porque ele é desafiador. Vou trabalhar com materiais diferentes, para a construção de um centro de visitação na floresta que vai incrementar o ecoturismo. As árvores já estão cortadas, infelizmente. Mas é bom poder levá-las de volta à comunidade com alguma função - explica Ban, que tem projetos em áreas de desastres de Índia, Turquia, China, Haiti, Itália e Sri Lanka, a maior parte com estruturas de tubos de papel reciclado. - Não estou interessado em fazer prédios para ganhar dinheiro, mas em grandes desafios. E espero poder fazer algo no Rio também. Ninguém me convidou ainda. Mas eu gostaria de trabalhar com casas em favelas. Não sei se com papel reciclado. 

Preciso estudar a realidade do lugar. Desenvolvi outras estruturas que podem ser usadas, como sanduíches de poliuretano e espuma para isolar o calor. Ban participa hoje de um debate no Museu de Arte do Rio (MAR) sobre planejamento urbano e soluções sustentáveis. Mas não gosta de ser considerado um arquiteto "sustentável".

- Não estou pensando em soluções sustentáveis. Eu comecei a trabalhar com material reciclável em 1986, quando ninguém falava em reciclagem ou sustentabilidade. Estava apenas pensando em reaproveitar as coisas, não jogá-las fora. Não uso ecologia e sustentabilidade como estratégia. É a natureza do meu interesse. Muitos arquitetos, designers e empresas usam isso com objetivo comercial.

Da arquitetura brasileira, Ban conhece mais Oscar Niemeyer, que considera um líder. Mas acha que o país tem grande potencial e lembra que temos um ganhador do prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha. Perguntado sobre que grandes obras deveriam ser feitas para os Jogos de 2016, descarta grandes edifícios:

- O Rio tem que investir em infraestrutura e transporte. Não em edifícios monumentais que só vão ser usados uma vez, como a China fez para mostrar ao mundo do que era capaz.

O Globo, Paula Autran, 13/set