Há dois meses trabalhando na Barra da Tijuca, a moradora da Taquara Cláudia Domingues pôde esta semana admirar, pela primeira vez, um ângulo do bairro a que poucos cariocas tiveram - ou terão - acesso: a Avenida Ayrton Senna vista do topo de um dos quatro mastros que sustentam os 56 cabos de aço da mais nova ponte estaiada da cidade. De celular em punho, Cláudia, que é técnica de segurança no canteiro de obras da Transcarioca, tratou de fotografar o belo cenário. Tanto para mostrar à família em casa, como para provar aos colegas de trabalho que havia, enfim, vencido o medo de altura.
As fotos da operária, assim como as feitas pela equipe de O GLOBO durante uma visita ao local na terça-feira, foram umas das últimas tiradas lá de cima, a 48 metros de altura. Em outubro, a ponte estaiada da Barra, primeira do BRT Transcarioca, será aberta a carros.
Medindo 209 metros de extensão e com pistas separadas para automóveis e ônibus ligeirões, esta será a segunda ponte suspensa da cidade. A primeira foi a Ponte do Saber, na Ilha do Fundão, aberta em fevereiro de 2012. Até 2014, outras duas, entre elas a que já está em construção na entrada da Ilha do Governador, farão parte da paisagem carioca. Em 2015, serão pelo menos quatro pontes e um viaduto, com este tipo de estética e tecnologia, espalhados pelo Rio.
Em fase de acabamentos
Com a aproximação da abertura da primeira ponte estaiada do BRT Transcarioca, os andaimes e as estruturas de escada que levam até o alto serão desmontados nos próximos dias. No momento, cerca de 400 homens e mulheres vêm cuidando dos detalhes finais: os testes nos cabos (é possível monitorar a força por um sistema computadorizado) e a pavimentação da pista de duas faixas por onde circularão os veículos.
Lá de cima, é possível ver as marcas do crescimento imobiliário da Barra em direção ao Recreio. Logo abaixo da ponte, máquinas e homens trabalham na construção do novo retorno que levará motoristas que circulam pela Ayrton Senna diretamente para as vias atrás do Shopping Via Parque.
- Quando a nova ponte estiver pronta, a prefeitura vai acabar com todos os sinais de trânsito da Ayrton Senna. Hoje, há engarrafamentos por causa do excesso de carros e dos cruzamentos que geram trânsito pesado. Nos horários de pico, com a ponte e sem os sinais, ganharemos aqui, no mínimo, uns 15 minutos - estima o gerente de obras de vias especiais da prefeitura, Eduardo Fagundes Carvalho.
A previsão é que o sistema BRT da Transcarioca (corredor expresso entre a Barra e o Aeroporto Internacional Tom Jobim) comece a operar no primeiro trimestre de 2014. A ponte, que custará R$ 100 milhões e foi projetada pelo arquiteto Mário de Miranda, ligará as avenidas Ayrton Senna e Abelardo Bueno, por cima das lagoas do Camorim e de Jacarepaguá.
Com ares góticos, via será exclusiva para atender ao BRT
Na ponte sobre a Baía de Guanabara (que liga o Fundão à Ilha do Governador), o desenho dos mastros, semelhante a um arco gótico, foi escolhido pelo próprio prefeito Eduardo Paes. Prevista para ser entregue em março de 2014, ela é paralela à ponte de acesso à Ilha do Governador e será exclusiva para o BRT Transcarioca. O projeto executivo é da empresa do engenheiro Catão Francisco Ribeiro. A presença dos arcos, com andaimes esverdeados, já chama atenção de quem passa pelo bairro.
Em comparação com à da Barra, ela é mais leve, pois está sendo construída com estrutura metálica em vez de concreto. E tem dimensões maiores: 400 metros de extensão, sendo 200 metros de vão livres por onde passarão os ligeirões do BRT. Os dois mastros de cerca de 60 metros de altura sustentarão, ao todo, 64 cabos de aço.
Até agora, 65% da obra já foram concluídos na Ilha, e a equipe começou este mês a construção dos tabuleiros (a parte plana por onde circularão os ônibus). As pistas terão cerca de 10 metros de largura. Serão três faixas para o BRT: uma em cada sentido, além de uma terceira que será usada em caso de pane ou de necessidade de se montar uma faixa reversível.
Desafio de construir na Baía
O engenheiro responsável pela obra, Alzamir Araújo, conta que foi preciso contornar imprevistos aéreos e marítimos:
— Inicialmente, o desenho da ponte da Ilha previa um mastro único, semelhante ao da Ponte do Saber, mas ele iria interferir no espaço aéreo do Galeão e tivemos que refazer o desenho — conta, acrescentando ainda o desafio de atender às exigências da Marinha para construir dentro da Baía.
Segundo a Secretaria municipal de Obras, a ponte servirá para o BRT e ônibus comuns.