A dragagem e revitalização de todo o complexo lagunar da Barra e de Jacarepaguá; uma ilha-parque com trilhas, quadra de esportes e jardins; e o aumento do quebra-mar em 180 metros, com direito à construção de um restaurante panorâmico. A primeira ideia parece um sonho distante e as duas últimas, mirabolantes? Pois, segundo a Secretaria estadual do Ambiente (SEA), tudo isso está prestes a sair do papel.
- Após dois anos preparando o projeto e três audiências públicas em que foram apresentadas sugestões interessantes, como a mudança de localização da ilha-parque para uma área que tinha mais necessidade de ser recuperada, as obras começarão, finalmente, em meados de outubro - garante o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.
De acordo com ele, os trabalhos de dragagem, a construção da ilha-parque e o aumento do quebra-mar serão realizados simultaneamente. O ponto de partida será a dragagem da embocadura do Canal da Joatinga. Dos sedimentos retirados, parte - cerca de um terço - irá para a área onde será construída a ilha-parque, entre as lagoas do Camorim e Tijuca. O restante será levado, temporariamente, para o Parque de Marapendi e para a área destinada ao Centro Metropolitano, antes de ser transportado para um aterro sanitário.
A previsão é que aproximadamente 5,7 milhões de metros cúbicos de sedimentos poluídos sejam retirados do fundo das lagoas, volume que daria para encher o equivalente a sete Maracanãs. O material a ser dragado é composto por argila, areia e silte (substância cuja partícula é maior que a argila e menor que a areia), além de material orgânico proveniente de esgoto lançados direta ou indiretamente no sistema lagunar. Com a conclusão da dragagem, a profundidade das lagoas vai variar de 1,5m a 3,5 m.
- Um dos pontos levantados durante as audiências públicas foi o mau cheiro (que poderia advir da dragagem). Mas as pessoas não precisam se preocupar. Como vamos usar um tubo direto de sucção e desidratar o material, o impacto neste sentido será mínimo - diz o secretário.
A ilha que será transformada em parque já existe, mas com tamanho bem menor. Após as obras, sua extensão será de 444.700 metros quadrados.
Atividades de lazer e educativas estão previstas para o local. Haverá trilhas, ciclovias e um centro de referência ambiental que funcionará como um núcleo de estudos avançados dedicado a ações de manejo da natureza da região. Este será integrado por especialistas de universidades, da SEA e do Inea.
- Nossa intenção é criar um espaço de interação entre a comunidade e o meio ambiente. Haverá atividades para todas as idades - diz Minc.
O acesso à ilha-parque, conforme Minc, será feito por meio de balsas. O projeto de recuperação do complexo lagunar, que engloba a construção da ilha-parque e a expansão do quebra-mar, está orçado em R$ 602 milhões e faz parte das obrigações do Caderno de Encargos das Olimpíadas de 2016.
A pedidos, 5 estações hidroviárias
Durante as audiências públicas realizadas para discussão sobre a recuperação do complexo lagunar da Barra e de Jacarepaguá, um pedido antigo dos moradores acabou entrando para o projeto: a construção de cinco estações hidroviárias ao longo das quatro lagoas da região
- Marapendi, Tijuca, Camorim e Jacarepaguá.
- Já que vamos fazer a dragagem, o que vai estimular a navegabilidade nas lagoas, realmente é um bom momento para aproveitar e pensar nas linhas hidroviárias - afirma o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Minc.
O presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, garante que há vários anos a população da região cobra a criação destas linhas Para ele, é um sonho que se torna realidade.
- Esta é uma reivindicação antiga da Câmara. Aproveitamos as audiências públicas para mostrar que, já que seria feita a drenagem, o ideal seria aproveitar e fazer tudo de uma vez. O objetivo é que a pessoa possa sair da Península, por exemplo, e ir até a Alvorada pelas lagoas. Nós pedimos isso para evitar que, no futuro, aconteça a mesma desorganização que ocorreu com as vans. Daqui a pouco teremos um monte de barcos irregulares nas lagoas da Barra. O melhor é ordenar logo - opina Dumbrosck.
O projeto das estações hidroviárias está sob responsabilidade da Secretaria municipal de Transportes. Segundo o órgão, os estudos técnicos na região já estão sendo realizados, para, em seguida, ocorrer a apresentação do projeto que será licitado.
Píer com restaurante e Pepê limpa
Na embocadura do Canal da Joatinga, o projeto de recuperação do sistema lagunar vai prolongar o quebra-mar (hoje com 50 metros) em 180 metros, com a utilização de pedras das obras de construção da Linha 4 do metrô. Está prevista, ainda, a construção de um restaurante panorâmico no local, a cargo da iniciativa privada.
O aposentado João Alves Torres, morador de Rio das Pedras, pesca diariamente no quebra-mar. Ele acredita que o projeto vai trazer resultados positivos:
- É importante dragar este ponto e tirar as pedras que atrapalham a entrada e a saída da água. Acho que, com o aumento do quebra-mar, vai ficar melhor para pescar.
O comerciante Antônio Ferreira Cardoso, dono do quiosque Dona Augusta, está receoso, mas torce para que as obras melhorem a região:
- Tenho medo de que a faixa de areia aumente, com o quebra-mar maior, já que a tendência é o acúmulo mudar de lugar. Mas torço para que façam o melhor. Este restaurante que pensam em construir seria uma forma de atrair mais pessoas para cá.
De acordo com o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Minc, Cardoso não tem o que temer: o objetivo da extensão do quebra-mar é potencializar a circulação da água entre o mar e a lagoa, o que evitará o assoreamento no local.
Além disso, o trecho entre o quebra-mar e a Praia do Papê será contemplado pelo projeto Sena Limpa 2, o que também melhorará a balneabilidade.