segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Cobertura com preço de seis castelos na França


Procura-se comprador para uma luxuosa cobertura com vista para a Praia da Barra e a Lagoa de Marapendi, na Avenida Sernambetiba, em uma das áreas mais nobres do Rio de Janeiro. Quem levar o apartamento de 1.040 metros quadrados poderá guardar até 16 carros na garagem. A cobertura, próxima à Praia da Reserva, é para poucos. A unidade mais cara do Grand Hyatt Residences, com quatro suítes e piscina semiolímpica dentro de casa, custa nada menos do que R$ 55,8 milhões.

A venda pode ser facilitada. O candidato tem a opção de dar uma entrada de R$ 11,1 milhões e continuar pagando mensais de R$ 697,5 mil durante dois anos. Por esse valor, é possível comprar duas suntuosas mansões avaliadas em R$ 20 milhões, como a da modelo Gisele Bundchen em Los Angeles, nos Estados Unidos, ou seis castelos no interior da França. Também daria para adquirir 280 apartamentos de classe média em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, ao custo de R$ 200 mil cada imóvel. 

Há opções 'mais em conta'. A unidade mais barata (91m²) está sendo oferecida por R$ 2,38 milhões. Desde o lançamento, corretores de imóveis estão em polvorosa para ver quem receberá a comissão de quase R$ 1,4 milhão. "Com esse dinheiro eu compraria um apartamento. Mas em outro lugar. No Grand Hyatt, teria que vender muito imóvel para pagar o condomínio, que deve ficar em torno de R$ 6 mil", sonha a corretora Sueli Souza, de 51 anos. 

Até agora não apareceu comprador para a cobertura. Para as demais, a maior parte dos interessados são empresários de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. "O carioca até olha, mas quando vê os valores desiste", diz Sueli. 

O futuro morador da exclusiva Penthouse, apelido dado à cobertura, poderá usufruir todas as comunidades do hotel Hyatt, um cinco estrelas que fará parte do resort localizado em um terreno de 45 mil m². "É para quem deseja o glamour de viver em um hotel cinco estrelas 365 dias por ano", disse o empresário Rubem Vasconcellos, da Patrimóvel, que negocia os apartamentos residenciais. O proprietário terá até uma barca exclusiva para levá-lo ao campo de golfe, que servirá para as competições olímpicas. 

Moradores da Barra da Tijuca temem que o novo empreendimento, com mais de 400 apartamentos, piore ainda mais o trânsito da região. "Se não tiver helicóptero, vai ser um mortal como qualquer um que enfrenta os congestionamentos na Barra", ironiza a engenheira Renata Crespo, 52 anos. Apostador da Mega Sena, o marido, o funcionário público, Gilberto Santana, 59, não se interessou pelo lançamento. "Precisamos de muito pouco para ser feliz. Se ganhasse o prêmio da virada, de R$ 200 milhões, bancaria projetos sociais para reduzir essas desigualdades", diz.

Terreno em área protegida

O terreno onde o resort será erguido já pertenceu à Área de Preservação Ambiental (APA) de Marapendi. A Câmara de Vereadores, no entanto, aprovou, em tempo recorde, projeto de lei retirando o terreno da APA. A nova lei dobrou a área de construção, gerando protestos de moradores. O Grand Hyatt prometeu recuperar 24 mil m² de vegetação nativa, usada pelas empreiteiras no canteiro de obras na duplicação da Sernambetiba. A obra ficará pronta em 2015.

Leblon e Ipanema têm m² mais caro

Sem contar o novo empreendimento na Barra, no luxuoso mercado imobiliário carioca, coberturas em Ipanema e Leblon ocupam o topo do ranking de preços. Em nenhum outro lugar do Brasil, bairros reúnem tantas belezas naturais à beira-mar e o glamour do metro quadrado mais caro do país. Levantamento da Bolsa de Imóveis do Rio revela que os apartamentos mais caros são os do edifício Cap Ferrat, na Vieira Souto. Cada unidade de 600 m² (um por andar) custa R$ 40 milhões. Pelo mesmo valor, pode-se comprar casas de 1.040 m² no Jardim Pernambuco, no Leblon. Em terceiro lugar, os apartamentos mais caros são os do Juan Les Pins, na Delfim Moreira, por R$ 35 milhões. Na Joatinga, as casas com 500m² não saem por menos de R$ 27 milhões.

Privilégio para poucos, os top de linha são chamados pelo mercado de "imóveis gargalhada", pois só quem pode pagar é a classe AAAA. Para especialistas, os valores chegaram à estratosfera devido à escassez de imóveis de alto padrão. "Há muita procura por empresários e funcionários de alto escalão, em função do reaquecimento da economia fluminense" diz Eduardo Pompéia, da Bolsa de Imóveis.



O Dia, Maria Luisa Barros, 17/nov