Uma das principais apostas do país, o pré-sal pode mudar o mapa da energia e inserir o Brasil entre os maiores do mundo. E, nesse contexto, o Rio de Janeiro está recebendo grande volume de investimentos: nos últimos três anos, pelo menos R$ 2 bilhões vieram para cá com a construção de 16 novas fábricas para o setor. De acordo com mapeamento feito pela Secretaria de Desenvolvimento do Estado a pedido do GLOBO, foram geradas, no mínimo, 3,3 mil vagas.
Das 16 novas unidades fabris, dez estão no Norte Fluminense, com destaque para São João da Barra, que concentra seis desses investimentos no Porto do Açu. Apesar dos desafios em torno do projeto - que passa por uma reestruturação, com a entrada da empresa de energia americana EIG, que comprou as ações do empresário Eike Batista -, o setor ainda investe no aumento da qualificação, que vai exigir profissionais mais especializados.
Segundo especialistas do setor, o Rio deve atrair novos investimentos ao longo dos próximos anos, quando começarem a ser sentidos os preparativos para a exploração da área de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, que foi leiloado em outubro, e tem reservas estimadas entre oito bilhões e 12 bilhões de barris de petróleo. Em setembro, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o pré-sal brasileiro já produzia cerca de 397 mil barris de petróleo equivalente (boe) por dia em 13 campos, a maior parte na de Santos.
- A área de Libra vai demandar de 12 a 18 plataformas de produção, além de 60 a 90 embarcações de apoio. E, com a política de conteúdo local, que, em média é de 55%, as empresas terão de se organizar, com unidades no Brasil e, sobretudo, no Rio, que hoje responde por 71% da produção de petróleo no Brasil - disse Carlos Eduardo Ribeiro, professor da Uerj, lembrando que a área de Libra fica na altura de Cabo Frio, no Estado do Rio
Caxias ganhará novo polo
Um dos mais importantes investimentos que estão sendo feitos para atender a novas empresas é a construção de um condomínio empresarial, em Duque de Caxias. O local, às margens da Baía de Guanabara, tem dois milhões de metros quadrados e deve receber investimentos de R$ 1,5 bilhão. O objetivo é abrigar empresas do setor de navipeças (setor naval) e de equipamentos submarinos (chamado de subsea). Segundo Alexandre Gurgel, diretor de Política Industrial da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio (Codin), o local está prestes a receber a licença de instalação.
- O foco desse condomínio será a instalação de empresas do setor de óleo e gás. Esse é um empreendimento que tem potencial para gerar cinco milhões de empregos. Já temos hoje companhias com consultas para se instalarem no local. O setor de petróleo é muito importante e está impulsionando diferentes investimentos em todo o Estado. Hoje, metade das 300 consultas que o governo estadual recebe por ano é do setor de óleo e gás - diz Gurgel.
A Wärtsilä, por exemplo, está investindo R$ 75 milhões na construção de uma fábrica de propulsores para sondas de exploração em São João da Barra e um centro de serviços em Niterói. Robson Campos, presidente da empresa, diz que o aumento dos investimentos está ligado às novas oportunidades do setor. Campos lembra que a fábrica em São João da Barra, que vai ficar pronta em julho de 2014, vai construir os equipamentos de propulsão para dez das 29 sondas da Sete Brasil, empresa contratada pela Petrobras para construir as sondas para o pré-sal.
- Essa fábrica também vai produzir gerador de energia elétrica. Hoje, a companhia conta com 540 funcionários. Até 2014, a empresa terá 800 funcionários. Como nossa fábrica é no Porto do Açu, tomamos uma série de cuidados. Quando decidimos pelo investimento, em dezembro de 2012, optamos por uma área já habitada por outras companhias, devido ao momento de transição por que passava a LLX - afirma Campos.
Assim como a Wärtsilä, a GE Óleo & Gas também está investindo milhões na construção de uma nova base logística em Niterói para atender à Petrobras. Já a Schulz, que fabrica tubos e conexões em aço, investiu R$ 60 milhões para a construção de uma nova unidade em sua fábrica, em Campos, no Norte do Estado, que vai produzir tubos metálicos para o pré-sal. A meta é que em 2014 a empresa fabrique 70 quilômetros de tubos por ano.
A própria Petrobras vem investindo pesado no Rio. Na lista da estatal está a construção de sete grandes empreendimentos no Estado. São quatro gasodutos, para escoar o gás, sobretudo do pré-sal. Só a área de Libra tem potencial de 120 bilhões de metros cúbicos. Hoje, a reserva do país é de 434 bilhões de metros cúbicos.
Destaque ainda para a construção da Usina Termelétrica Baixada Fluminense, localizada no município de Seropédica, que entrará em operação comercial em março de 2014. Além disso, haverá a nova Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Terminal de Cabiúnas, em Macaé, e outra UPGN que será instalada no Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. Os investimentos fazem parte do Plano de Negócios da estatal 2013/2017, de US$ 236,7 bilhões.
Especialistas destacam os investimentos em Macaé. Na cidade está sendo criado um terminal portuário, hoje em fase de licenciamento ambiental e que deve receber recursos de R$ 600 milhões.
- Com isso, vamos pular de seis para 23 pontos de atracamento de navios na cidade. Há um grande desafio quando se fala de barcos de apoio hoje no país. Hoje, são mais de 200 embarcações. Até 2020, com o avanço do pré-sal, esse número vai mais que dobrar. Por isso, já começamos a ver importantes investimentos na área portuária - diz Gurgel.
Como o pré-sal vai demandar mais empregos qualificados, o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai) corre contra o tempo para treinar mão de obra a tempo: está investindo R$ 3 bilhões para conseguir dobrar sua quantidade de alunos até 2014.
- O Senai conta com 580 centros de formação profissional no país. Estamos dobrando a capacidade de 251 dessas escolas e construindo mais 100 unidades. O pré-sal é uma fronteira tecnológica, que vai exigir mais conhecimento e rigor dos trabalhadores. A margem de erro tem de ser menor, pois os investimentos são maiores - disse Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai.