sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Vida sem a Perimetral


A prefeitura do Rio anunciou, nesta quinta-feira, mais mudanças no trânsito da Zona Portuária para tentar minimizar os impactos da interdição do Elevado da Perimetral a partir das 19h de sábado, entre a Rodoviária Novo Rio e a Praça Mauá. Está sendo criada a chamada Binário II, uma rota de acesso nas imediações da Novo Rio a ser usada pelos ônibus intermunicipais que seguem para o terminal Américo Fontenelle, na Central do Brasil. 

A nova rota, que inclui inversões de mão em algumas ruas internas, também servirá de opção para os motoristas que desejarem seguir ou deixar a Zona Sul pelo túnel Santa Bárbara. A Binário II será aberta às 6h de domingo, junto com a Binário do Porto, que receberá o trânsito da Perimetral enquanto as obras da construção da nova via expressa prevista para a região - que só será inaugurada em meados de 2014 - não ficarem prontas.

Com as alterações, também acaba, a partir de domingo, a reversível da Rua Pereira Reis. A via passará a operar em mão única durante 24 horas no sentido Avenida Rodrigues Alves. O local da integração dos usuários de linhas intermunicipais que circulam pela Francisco Bicalho com os ônibus da cidade também está sendo alterado: com as mudanças, esses ônibus vão parar em uma nova plataforma do terminal Padre Henrique Otte.

Outras mudanças serão divulgadas nos próximos dias. A prefeitura está fechando o planejamento do trânsito para a interdição da Avenida Rodrigues Alves na noite do dia 14, quando técnicos contratados pela Concessionária Porto Novo farão buracos nas pilastras para a colocação de explosivos. A via será fechada, por tempo ainda a ser determinado, para permitir a implosão de trechos da Perimetral no dia 17. Outros trechos serão demolidos da forma tradicional, devido à proximidade de prédios.

- Essa implosão trará uma surpresa. Todo mundo espera uma nuvem de poeira imensa como em qualquer implosão. Mas isso não acontecerá com a Perimetral. Como só tem concreto e aço para cair, e não estruturas como compensados, não haverá poeira - contou um técnico que participa dos preparativos para a interdição do elevado.

O trecho da Perimetral entre a Praça Mauá e o Aeroporto Santos Dumont também será demolido, mas a data ainda não foi determinada.

Apesar de todo o planejamento, a interdição da Perimetral poderá fazer com que, nos primeiros dias, quem circula pela região demore mais 60% no deslocamento no entorno da Zona Portuária. Mesmo quando os motoristas se acostumarem às novas rotas, o tempo de viagem ainda poderá ser superior em 30%, em média, ao registrado com a Perimetral aberta.

Estímulo ao transporte público

As estimativas constam do plano da prefeitura para reduzir os impactos da interdição da Perimetral e podem ocorrer caso não haja uma migração intensa de usuários de veículos particulares para o transporte público. O documento, que está disponível no site da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp), estima que, para o motorista não sentir os efeitos da falta da Perimetral, será necessário que pelo menos 3.500 carros (ou cerca de 5 mil pessoas) por hora deixem de circular pela região no período do rush.

A Cdurp informou que essas projeções podem mudar, pois o plano se encontra em permanente atualização. De acordo com a companhia, a prefeitura trabalha com a meta de redução de 15% do número de automóveis circulando pelo Centro do Rio até dezembro de 2014. "É uma meta progressiva, que deverá ser obtida por meio da migração do uso do transporte individual para o transporte público", informou a Cdurp em nota.

Outras medidas poderão ser adotadas para minimizar os impactos. Segundo o documento, cogita-se, por exemplo, a criação de um novo acesso à pista reversível da Avenida Presidente Vargas no período da manhã. Para isso, já estão sendo feitas obras no Viaduto dos Marinheiros. Também não está descartado, em caso de necessidade, que a Binário II seja exclusiva para a circulação de ônibus, táxis e moradores nos horários de rush, como forma de estimular a opção pelo transporte coletivo.

O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, preferiu não comentar as projeções do estudo da Cdurp. Ele se limitou a dizer que as metas constam do plano de estudo. Mas se disse otimista em relação à mudança de hábitos da população. Segundo Osorio, ainda não há números, mas medições já mostraram uma redução, nos últimos dias, no número de viagens pela Perimetral, que chega a receber 76 mil veículos por dia.

- O que podemos esperar nos primeiros dias, com base em experiências anteriores, é que haja uma piora no trânsito. Enquanto os motoristas se adaptam às mudanças, é comum que reduzam a velocidade. Mas, neste momento, é importante também que o motorista que não precise vir ao Centro busque rotas alternativas. Caso precise circular pela área, deve usar transporte público ou carona. Na Perimetral, a média por carro é de apenas 1,4 usuário - disse o secretário.

Por enquanto, entre as concessionárias de serviços públicos, o comportamento dos usuários varia. Até quarta-feira, a Ponte S.A. ainda não havia registrado mudanças significativas no volume de tráfego. Nas Barcas, houve um aumento de 7% nos horários de pico na travessia entre Niterói e Rio, em relação à semana passada. Mas a empresa diz não ser possível afirmar se existe ou não relação com o anúncio de fechamento da Perimetral. No Metrô, ainda não houve aumento na procura pelo serviço. Já a SuperVia associa a ampliação da oferta de vagas nos trens nos períodos de pico, implantada no último dia 18 dentro dos preparativos para a interdição da Perimetral, a um maior movimento. Naquele mesmo dia, por exemplo, foram transportados 601 mil passageiros, contra uma média tradicional de 570 mil.

A prefeitura, por sua vez, reforçou as campanhas educativas. Ontem, os painéis luminosos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) alertavam os motoristas sobre a interdição da Perimetral em vários pontos da cidade. Pelo segundo dia consecutivo, operadores de trânsito se posicionaram na Avenida Brasil orientando motoristas a buscarem caminhos alternativos para a Zona Sul (por São Cristóvão) e Tijuca (Quinta da Boa Vista).

No Centro do Rio, as mudanças continuam a preocupar o comércio. Ontem, lojistas do Saara tiveram uma reunião na subprefeitura do Centro para discutir as mudanças, que incluíram mudanças nos horários de carga e descarga. Em carta aberta ao secretário de Transportes, eles dizem que não são contra as alterações, mas pediram que os horários de interdições sejam modificados.



O Globo, Luiz Ernesto Magalhães, 01/nov