quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sam Zell mostra otimismo com o Brasil


O segmento residencial do mercado brasileiro não preocupa o megainvestidor americano Sam Zell, ao menos no longo prazo. O ex-acionista da incorporadora Gafisa acredita que há uma sobreoferta de imóveis no país, mas que esse é um risco que afetará os negócios só no curto prazo.

Ontem, o empresário participou de evento organizado pelo Global Real Estate Institute (GRI), onde deu a dica de uma alternativa para esse problema: o aluguel de pequenos edifícios populares. Enquanto empresas tentam lançar novos projetos por meio do "Minha Casa, Minha Vida", o comprometimento do brasileiro com financiamento de longo prazo diminui. Isso afeta as aquisições de casas, mas abre espaço também para a locação das residências.

"Esse é um negócio ótimo, mas precisamos voltar com o financiamento de longo prazo. Por causa dessa falta, muitas companhias estão conseguindo lucrar com o aluguel de pequenos edifícios, para múltiplas famílias", disse.

O investidor acredita que os jovens dão cada vez menos sinais de vontade em se comprometer com empréstimos longos e que, como há muitos imóveis disponíveis no mercado, a qualquer momento um bom negócio pode ser fechado. Pagar aluguel parece mais interessante aos clientes porque os prazos são mais curtos.

Em palestra, Zell citou o segmento de shopping centers como possibilidade de bons investimentos. Mas o desafio nessa área é que a consolidação do mercado vai eliminar as pequenas administradoras. "Há de se tomar como exemplo o caso dos Estados Unidos. Lá, os shoppings dominantes foram se tornando cada vez mais fortes e não vejo por que isso não vai ocorrer aqui no Brasil também."

O empresário alertou para a possibilidade de hotéis no país sofrerem após a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. De acordo com ele, grandes grupos como o Hyatt e o Hilton se aproximaram da Equity Group Investments, sua firma de investimentos, para entender como consolidar novas bandeiras de seus negócios por aqui.

Mas Zell cita o ocorrido em outras cidades, como Sidney - sede da Olimpíada de 2000 - para demonstrar sua preocupação com o setor de hospitalidade. Ele lembra que durante o evento os hotéis ficaram com ocupação lotada, mas que em apenas seis meses essa taxa despencou, junto com os preços.

"A euforia é ótima agora para aumentar os preços de estadia, mas não acredito que isso se sustente e, por isso, não acho atrativa a relação entre risco e retorno", comentou. "Os retornos serão enormes por quanto tempo? Um mês, no máximo? Não se justifica."

O empresário também aproveitou para contar que uma área que lhe tem rendido ganhos é a de aluguel de armazéns. Zell disse que a demanda nesse segmento está "enorme", o que pode se explicar pelas reclamações das empresas no Brasil quanto às dificuldades de entrega por causa de problemas de infraestrutura. Essa é a mesma pedra no sapato que o investidor menciona ao afirmar que o setor de logística no país tem ótimas oportunidades, mas que são barradas pela infraestrutura.

"Levantamos alguns centros de distribuição e descobrimos que só é interessante investir em logística quando o foco é uma só empresa. Quando os clientes começam a ser divididos, começamos a ver perda de eficiência e o negócio não se sustenta", explicou o americano.

Questionado pelo Valor sobre quais segmentos tem focado mais quando olha o Brasil, ele foi evasivo e respondeu "todos". Sobre negociar com empresas específicas para adquirir participação e auxiliar na gestão, como ocorreu com a Gafisa, o empresário disse que "sim, eu negocio".

O investidor garantiu que aportar recursos aqui continua interessante e não demonstrou preocupação quanto à recente saída de capitais do Brasil. Segundo ele, o movimento até é bom, pois "o dólar vale mais e posso pagar mais barato pelos empreendimentos".

Na América Latina, Zell aponta a Colômbia como o país mais interessante. Ele prevê que em pouco mais de um ano os mercados colombiano, chileno e peruano estarão tão integrados e poderão ganhar escala, amadurecendo o setor imobiliário.



Valor Econômico, Renato Rostás, 07/nov