O cenário é espetacular - ao fundo, o contorno das montanhas do Maciço da Pedra Branca, à frente, a Lagoa de Jacarepaguá e o mar no horizonte. De carro, são menos de cinco minutos até a praia. A Ilha Pura, um bairro maior que o Leme, surge em meio à efervescência das primeiras Olimpíadas da América do Sul, numa área de 907 mil metros quadrados, e abrigará as instalações em que os 18 mil desportistas ficarão hospedados durante os Jogos.
As Olimpíadas serão o segundo grande evento internacional na região. Em 1985, o terreno da Ilha Pura abrigou o primeiro festival de rock realizado no Brasil, o Rock in Rio. O empresário Roberto Me- dina, autor da empreitada, lembra como chegou ao local, um ano antes do evento: "em 1984, a Barra era pouco povoada e o Carlos Fernando de Carvalho me ofereceu três opções de terreno. Escolhi o que era mais difícil de trabalhar, porque de¬pendia de aterro. Mas minha intuição es¬tava certa. O Rock in Rio acabou acontecendo numa área que virou estratégica para a Barra", diz. Tão estratégica que vai abrigar o primeiro bairro sustentável da América Latina, com sete condomínios, distribuídos por 31 torres, num total de 3.604 apartamentos, de 2,3 ou 4 quartos. Os edifícios exibirão fachadas diferentes e serão separados por grandes áreas verdes. Cada um deles também terá sua própria área de lazer.
No novo bairro, as bicicletas estarão com tudo. Incentivando um estilo de vida mais sustentável, uma ciclovia de quatro quilômetros e meio interligará os condomínios. Para valorizar a beleza da região, a Ilha Pura ganhou detalhes caprichados. Toda a fiação (redes elétrica, telefônica e de TV) será subterrânea. Cada condomínio terá portarias e acessos próprios. Um parque de 72 mil metros quadrados, projetado pelo escritório de Burle Marx, integrará todo o espaço.
Passear pelo parque público da Ilha Pura será uma viagem pelos cinco sentidos. O paisagista Benedito Abbud, responsável pelo projeto de integração do parque com os condomínios, explica que as espécies foram escolhidas de maneira a trabalhar com a visão, o tato, o olfato, a audição e o paladar dos visitantes. Assim, o parque terá espécies de floração abundante para contemplar a visão. Os ipês, que florescem em junho e julho, prometem dar colorido especial aos Jogos Olímpicos. Pés de frutas tropicais responderão pelo quesito paladar. O olfato será atendido por plantas e flores aromáticas, enquanto o tato estará representado pelas texturas diferentes das folhas e caules. "Estamos trabalhando neste projeto há quatro anos, para que ele seja uma identidade da Ilha Pura", explica Abbud. A idéia é fazer uma integração com a vegetação de Mata Atlântica do Maciço da Pedra Branca e com a restinga e o mangue remanescentes do complexo lagunar da região. "Queremos valorizar a relação da natureza com o homem" traduz o diretor da Burle Marx e Cia, Haruyoshi Ono, que assina o projeto paisagístico da Ilha Pura. Um viveiro abastecerá o parque com as espécies. Nele, já foram plantadas 35 mil mudas. O parque, terá quadras e trilhas para caminhada e lagos com iluminação especial. "Não existe nada semelhante no Rio", diz Abbud.
A palavra-chave na concepção da Ilha Pura é a sustentabilidade. O bairro acaba de receber a certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design) para Desenvolvimento de Bairros. São dois selos verdes para o bairro e dois para os prédios.
O Green Building Council - organização não governamental que estimula a construção sustentável - concedeu à Ilha Pura a certificação internacional pela primeira fase de execução do projeto, significando que o empreendimento trabalha com princípios de crescimento planejado e inteligente, urbanismo sustentável e edificações verdes.
"São avaliados 110 itens, como o reaproveitamento de águas cinzas e o uso de madeira certificada", diz o Diretor-Geral da Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes. To¬dos os 110 requisitos foram cumpridos. "Somente com a instalação de uma usina de concreto no canteiro de obras, o que dispensou a contratação de 180 caminhões, evitamos a emissão de 170 toneladas de gases de efeito estufa", exemplifica o executivo.
Além do Leed, a Ilha Pura é o primeiro empreendimento do Rio de Janeiro a receber a certificação Aqua (Alta Qualidade Ambiental) Bairros e Loteamentos da Fundação Vanzolini. A mesma entidade concedeu o Aqua Habitacional para todas as 31 edificações da primeira fase do novo bairro. Neste caso, a Ilha Pura foi avaliada pela qualidade de vida que oferecerá aos seus moradores. "Também recebemos o Selo Casa Azul, da Caixa
Econômica Federal", acrescenta Lopes, numa referência à certificação concedida a empreendimentos que adotam soluções sustentáveis na construção, uso, ocupação e manutenção de edifícios.
Tanto reconhecimento tem justificativa. As chamadas águas cinzas (coletadas em pias e chuveiros) serão tratadas numa estação própria e reaproveitadas nas instalações sanitárias, na irrigação dos jardins e na manutenção do nível dos lagos.
Os prédios terão telhado verde, diminuindo a temperatura na laje - os andares mais altos, por exemplo, ficarão mais frescos. Os vidros da fachada serão eficientes, filtrando a luz solar. Em conseqüência, o calor diminui e aumenta a luminosidade natural.
Nas áreas comuns, haverá totens para a recarga de bicicletas elétricas e, suprassumo da modernidade: as garagens contarão com carregadores para carros elétricos. "Os moradores vão sentir a economia nas contas de luz e água. Um prédio sustentável é bom para a natureza e para o bolso", assinala o Diretor Geral da Ilha Pura.