Com pouco mais de 370 km de malha cicloviária (a maior do País), a cidade do Rio quer o título de "Capital da Bicicleta" para ela. O objetivo da prefeitura é construir 450 km de ciclovias, ciclofaixas, calçadas e vias compartilhadas até 2016, ano dos Jogos Olímpicos, e incentivar a população a optar pela bicicleta como meio de transporte.
Hoje, pelos cálculos da ONG Transporte Ativo, diariamente 1 milhão de viagens de bicicleta são feitas na cidade. Apesar de reconhecerem as melhorias, os ciclistas dizem que ainda faltam infraestrutura e segurança.
De acordo com o subsecretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando Moraes, responsável pela malha cicloviária, a meta é que até 2019, 15% dos deslocamentos sejam feitos com as "magrelas" (hoje são apenas 5%).
"Queremos incentivar o uso racional do automóvel porque sabemos que é possível ter uma cidade com mobilidade sustentável, aliada ao transporte público de qualidade."
A cidade tem 10 mil vagas para bicicletas, entre públicas e privadas, parte delas em estações de trens, metrô, barca e BRT (corredor exclusivo para ônibus) e o ciclista pode embarcar com elas.
Gritaria. Por lei municipal, 5% das vagas em shoppings, supermercados e novas construções devem ser reservadas aos ciclistas. Os novos edifícios também têm que oferecer vestiários. "É difícil vender a cultura de que a cidade é para as pessoas e não para o automóvel, mas percebo que a convivência melhorou. Vejo essa gritaria em São Paulo (pessoas que são contra a ampliação do sistema cicloviário) e me lembro do início aqui (em 2010)", disse o subsecretário, que também é ciclista.
O BikeRio, projeto de aluguel de bicicletas em parceria da prefeitura com empresas privadas, também ajudou a ampliar a quantidade de ciclistas na cidade. Por R$ 10 mensais é possível escolher uma laranjinha, como ficaram conhecidas, em uma das 116 estações e devolvê-la em outro ponto da cidade. Em dois anos serão 260 estações, cada uma com capacidade para dez bikes.
Segurança. A zona oeste possui a maior malha viária e mais vagas, no entanto, a demanda para o centro é alta. Muitos ciclistas reclamam da falta de vagas, de ciclofaixas nas vias principais, da falta de segurança e do desrespeito dos motoristas. Moraes reconhece as dificuldades, mas ressalta que o centro passa por uma série de transformações urbanísticas e, por isso, apenas três das 33 rotas planejadas foram instaladas. "Avançamos, mas na medida do possível", afirma Moraes.
Morador de Piedade, na zona norte, o jornalista Jorge Lourenço, de 28 anos, deixou de ir trabalhar de bicicleta no centro pela falta de segurança.
"Faltam ciclofaixas ligando as regiões da cidade e vagas nos locais de grande demanda. As leis de trânsito são desrespeitadas o tempo todo e o ciclista só escapa de acidentes porque está sempre muito atento."
O entregador de gelo Raimundo Nonato, de 53 anos, não teve tanta sorte. Ele foi atropelado e tem uma cicatriz na coxa esquerda. Depois de mais de um ano do acidente, ele diz que até hoje não recebeu o Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), pago às vítimas de acidentes no trânsito. "Costumo andar na faixa compartilhada, mas em alguns lugares não há espaço suficiente", afirmou.
No ano passado, ao menos 14 ciclistas morreram em acidentes de trânsito, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Neste ano, ainda não há registro de acidentes fatais.
Ocasionalmente, também há relatos de ciclistas assaltados ou ladrões que usam bicicletas para facilitar a fuga, mas não há dados oficiais. Foi o caso da jornalista Naiara Evangelo, de 24 anos, que quase foi assaltada na Urca, na zona sul. Ela parou em um posto de gasolina para dar passagem a um carro, quando um homem tentou puxar sua mochila.
"Me desequilibrei, mas o motorista do carro me ajudou, e o ladrão fugiu. Fiquei muito tempo sem passar por esse caminho." Naiara contou que raramente vê policiais na região.
A reportagem do Estado percorreu algumas ciclovias da cidade. Em Botafogo, uma pedestre disse que a ciclovia da Rua Visconde de Silva era "uma pista de obstáculos". Além da calçada compartilhada ser desnivelada há hidrantes, árvores e até veículos estacionados.
"Nesse trecho é melhor andar na rua, porque não tem espaço para dividir com o pedestre", avaliou o professor André Dutra, de 36 anos, que só se desloca de bicicleta.
Nos arredores do Estádio do Maracanã, um trecho com cerca de 300 metros não existe. A pista termina em frente ao Museu do Índio - que seria derrubado para a Copa do Mundo, mas foi mantido de pé - e recomeça em outro ponto. Um novo traçado será feito, porém ainda não há consenso sobre a responsabilidade do trabalho: se é da secretaria municipal de Obras ou de Meio Ambiente.
Fórum. Considerada a 12ª cidade "bike friendly" do mundo, segundo ranking da consultoria Copenhagenize, o Rio receberá entre 21 e 23 de setembro o congresso BiciRio para debater o desafio de consolidar uma política de incentivo ao uso de bicicletas nas cidades.