sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Com maior oferta, preço de imóvel fica mais estável


Depois de praticamente uma década nas alturas, não há ainda sinais de que os preços de imóveis na cidade do Rio de Janeiro irão cair, mas tampouco devem subir. De acordo com especialistas do setor, o ano de 2015 verá uma estabilização nos preços, com menos lançamentos e redução dos estoques das construtoras.

"Vivemos mais um ano de ajuste. Depois de uma alta muito grande, os preços vão ter pouquíssima valorização. Vários bairros estão no teto. E isso leva a ter mais tempo para fechar um negócio. A demanda já não é mais tão intensa, embora ainda haja interesse grande por imóveis como um grande sonho do brasileiro, mas hoje tem mais oferta do que havia no passado. Com isso o preço se acomoda", afirma Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi (Sindicato da Habitação).

De acordo com Schneider, as áreas com ainda algum potencial de valorização são as que vivem a expectativa de conclusão das obras de transporte e infraestrutura urbana, como a região do porto e a zona este. "A Barra possui algumas pequenas regiões que ainda podem ver valorização como o Jardim Oceânico perto de onde será o Metrô. A zona sul também pode apresentar modestas altas por conta da sempre grande procura e pela escassez de áreas para construir", diz.

Além da enorme valorização recente, a alta dos juros contribui para frear os preços. Pedro Seixas, coordenador do curso de MBA em incorporação e construção imobiliária da Fundação Getulio Vargas, lembra que o mercado residencial é sensível ao valor da prestação. Com juros mais altos, menor é a parcela da população com renda suficiente para fazer frente às prestações.

Segundo ele, as construtoras não possuem margem suficiente para reduzir preços. Sendo assim, a estratégia delas deverá ser reduzir o ritmo de vendas e de lançamentos, para equilibrar oferta e demanda.

De acordo com Bruno Serpa, vice-presidente de operações da Brazil Brokers, o ano de 2015 poderá trazer algumas oportunidades para quem quer comprar um imóvel. Segundo o executivo, as incorporadoras interessadas em liquidez devem promover vendas com desconto ao longo do ano.

Serpa também aposta nas regiões próximas às grandes obras de infraestrutura como as que ainda podem ser atingidas por alta de preços. Mas de forma geral, ele também trabalha com estabilidade nos preços, com no máximo uma correção pela inflação.

Para o médio prazo, ainda não há uma aposta em queda de preços. Leonardo Schneider, do Secovi-Rio, lembra que cidades sede de Olimpíadas no passado passaram por processos de redução de preços logo após os jogos.

"No Brasil, como o imóvel é garantia de segurança, mesmo em momentos de instabilidade política e econômica, eles são uma fonte de segurança. Então é difícil falar em queda de preços. Ainda é cedo para traçar cenários", diz ele, que trabalha com a previsão de pequena alta nos preços neste ano, em linha com as taxas de inflação na casa dos 5%.

Pedro Seixas, da FGV, concorda com o prognóstico. Para ele, sempre haverá demanda para a compra de residências. O que altera as condições de mercado e os preços são os juros. Com a pouca disponibilidade de áreas para construir nos bairros mais disputados, ainda é cedo para falar sobre uma redução nos preços para os imóveis.



Valor Econômico, Especial Rio de Janeiro, 27/fev

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Tatuzão, enfim, avança


O tatuzão empregado nas obras da Linha 4 do metrô (Barra-Zona Sul) deve chegar ao fim do Leblon em dezembro. O prazo foi anunciado ontem pelo governador Luiz Fernando Pezão, num evento que marcou a chegada do equipamento à futura Estação Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Caso não haja mais atrasos, a estrutura fabricada na Alemanha que pesa 2 mil toneladas e tem 120m de comprimento e 11,5m de diâmetro concluirá seus trabalhos depois de mais de dois anos. As escavações começaram em dezembro de 2013, a partir da Praça General Osório, e chegaram a ser paralisadas por seis meses depois que surgiram rachaduras em prédios da Rua Barão da Torre e uma cratera no trecho entre as ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Mello, ano passado.

Pezão reafirmou ontem que cinco das seis futuras estações ( Jardim Oceânico, São Conrado, Antero de Quental, Jardim de Alah e Nossa Senhora da Paz) entrarão em operação em junho de 2016. Como O GLOBO informou em janeiro, no primeiro mês, porém, os trens vão circular experimentalmente, fora do horário do rush - o que é conhecido como operação assistida. A partir de julho, passam a operar nos mesmos horários das Linhas 1 e 2, sendo usados inclusive durante os Jogos Olímpicos, em agosto. A Estação Gávea não estará aberta por uma série de fatores. Além das mudanças de projeto, o estado admitiu ontem que só concluirá todas as escavações em junho de 2016, quando finalmente o tatuzão chegará à Gávea.

Ainda no governo Sérgio Cabral, o então secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, chegou a admitir que a estação não ficaria pronta para as Olimpíadas. Dias depois, o governo do estado garantiu que todo o metrô estaria em operação. No fim de 2013, a Estação Gávea foi excluída definitivamente do projeto para os Jogos. Mas, para o governador Luiz Fernando Pezão, não há atrasos:

- Vamos entregar as obras no prazo. Está tudo dentro do cronograma para chegarmos até o Jardim Oceânico antes das Olimpíadas.

Com a chegada à futura estação da Praça Nossa Senhora da Paz, o tatuzão permanecerá um tempo no local para serviços de manutenção dos equipamentos. Para retomar as escavações, ele terá que ser levado por um sistema de roldanas e guindastes até um novo trecho a ser perfurado. A expectativa é que os 920 metros até o Jardim de Alah sejam vencidos até a segunda quinzena de agosto. Do Jardim de Alah até a Praça Antero de Quental serão mais 630 metros, com chegada prevista para a segunda quinzena de outubro. Os 750 metros entre a Antero de Quental e o Alto Leblon deverão ser concluídos até dezembro de 2015. Faltarão ainda 1,5 mil metros até a Gávea, que consumirão mais seis meses de escavações. No Alto Leblon, as duas frentes da Linha 4 vão se encontrar, permitindo que, a partir de junho, entre em operação o trecho Jardim Oceânico-Zona Sul. Na frente de obras da Barra, os trabalhos estão sendo feitos com métodos tradicionais de escavação para abertura das estações Jardim Oceânico e Gávea.

Testes sem passageiros 

De acordo com o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, os testes operacionais ocorrerão no primeiro semestre de 2016, ainda sem passageiros. Inicialmente, serão feitos entre a Barra e São Conrado. Em maio de 2016, acontecerão entre os bairros de Leblon e Ipanema. Nos primeiros meses de operação, o usuário que estiver na Barra não poderá seguir diretamente para o Centro. Terá que descer na estação General Osório e seguir viagem em outra composição que opera na Linha 1.

Após a conclusão das escavações, o tatuzão será guardado numa caverna que está sendo construída na esquina das avenidas Ataulfo de Paiva e Visconde de Albuquerque, no Leblon.

Obras adiantadas na Barra

O estado divulgou também um balanço sobre as obras nas estações. No Jardim Oceânico (Barra), as escadas do acesso de passageiros pela Avenida Fernando Matos e de chegada à plataforma de embarque já estão prontas. A estação começou a receber a cobertura, e as plataformas de embarque e desembarque começaram a ser construídas.

Em São Conrado, o terminal se encontra em fase de acabamento, e os acessos pela Rocinha e pela Estrada da Gávea já foram finalizados. Na Gávea, falta encerrar a escavação de dois poços. Na Praça de Antero de Quental, ainda não foram concluídas as escavações para a construção da plataforma de desembarque, mas instalações internas, como bilheterias e salas destinadas a funcionários, já começaram a ser erguidas. No Jardim de Alah e na Nossa Senhora da Paz, as obras ainda estão em andamento.

Os problemas durante as escavações

Vizinhos da obra da Linha 4 do metrô (Barra-Zona Sul), em Ipanema, vivem sob tensão desde 12 de maio do ano passado, quando crateras se abriram na Rua Barão da Torre, no trecho entre Farme de Amoedo e Teixeira de Melo. Moradores de pelo menos cinco prédios foram afetados pelas obras. Os buracos foram tapados, mas, daquele susto em diante, os transtornos não cessaram.

O síndico Sérgio Paessler, do prédio da Rua Barão da Torre 141, conta que cinco apartamentos, além da portaria, foram afetados por fissuras de mais de um metro de extensão.

- O consórcio da Linha 4 disse que as medições feitas no prédio afastam qualquer risco estrutural. Mas é difícil acreditar, já que novas rachaduras surgiram nos últimos meses. Essa obra gera insegurança e preocupação constante para nós moradores - disse o síndico.

O governador Luiz Fernando Pezão reiterou que os prédios afetados pela obra estão sendo monitorados por técnicos e engenheiros da Linha 4 do metrô. Segundo Pezão, o consórcio já começou a fazer os reparos dos imóveis que foram afetados.

- Realizamos obras de reforço de estrutura dos prédios impactados e eles serão restaurados.

O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, também assegurou que, daqui por diante, os prédios no entorno da obra não deverão sofrer impactos significativos com as trepidações, já que o tatuzão passará sob o leito das ruas Visconde de Pirajá (Ipanema) e Ataulfo de Paiva (Leblon).



O Globo, 26/fev

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Grupo Pestana investe 50 milhões de dólares em Nova York


O Grupo Pestana vai investir 50 milhões de dólares em um novo hotel 4 estrelas na cidade de Nova York. Três anos de análise de oportunidades levaram a concluir que uma localização central na cidade, bem próxima da mítica Times Square, seria a melhor opção para o investimento. A nova unidade tem abertura prevista para o último trimestre de 2017.
 
A construção do empreendimento, com 176 apartamentos, começa em setembro de 2015 e representa uma forte aposta do Grupo na cidade turística mais competitiva do mundo e na consolidação da presença nos EUA, após a chegada em Miami há 3 anos.
 
"Desde 2012 estudamos com alguma profundidade 86 oportunidades em Nova York, com oito potenciais parceiros de negócio. Estes números demonstram bem a importância deste investimento para o Grupo Pestana", explica José Roquette, Chief Development Officer do Grupo Pestana.
 
Uma das cidades mais visitadas pelos turistas de todo o mundo, Nova York regista taxas de ocupação superiores a 80% todos os anos, a um preço médio de US$ 300 por noite. A aposta do Grupo Pestana será feita através da diferenciação do produto. Aqui, como em Miami, o mercado sul-americano, além do europeu, será um alvo preferencial.
 
Situado na 39.ª Avenida, no West Site, entre a 8.ª e a 9.ª, o novo Pestana Nova York está próximo de áreas referenciais como a Times Square, o NY Convention Center, e os Hudson Yards, o maior projeto de desenvolvimento imobiliário dos EUA em Nova York, desde a construção do Rockefeller Center, que têm juntos, previsões de mais de 74 milhões de visitantes por ano.
 
Sobre o Grupo Pestana:
 
Com uma trajetória de quatro décadas de sucesso, o Grupo Pestana soma 86 unidades em 15 países da Europa, África e Américas, com planos de expansão que contemplam novas aberturas no Brasil e exterior. Ao todo são mais de 10 mil Uhs, sendo que no Brasil a rede opera atualmente com 9 unidades em cidades estratégicas, entre resorts e empreendimentos corporativos. De acordo com a revista norte-americana "Hotels", o Grupo Pestana ocupa a 127ª posição do top 300 das empresas hoteleiras mundiais em 26º no ranking do European Hotel Survey, da revista "Hotel Management International".



Portal Nacional de Seguros, 24/fev

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Cozinhas americanas em novas versões


Práticas e com um design descolado, as cozinhas americanas já caíram no gosto do brasileiro há algum tempo. Inicialmente, a falta de parede entre sala e cozinha se tornou um coringa para otimizar espaços pequenos. Entretanto, com a tendência de integrar ambientes, especialmente para quem gosta de receber e cozinhar para amigos, novas versões estão ganhando força, como o uso de portas de correr, armários embutidos no teto e mesas ao invés de balcões na divisa dos cômodos. De acordo com a arquiteta Cristina Bezamat, a opção por mesas de jantar nas salas é, inclusive, uma forte tendência para este ano.

- O tipo balcão, próprio de apartamentos menores, não é confortável e já é modelo batido. Ao trazer uma mesa maior para esse tipo de ambiente, valorizamos esteticamente o espaço, alem de ser mais acolhedor - defende a arquiteta, que ressalta, ainda, a importância de uma decoração harmoniosa, com o uso de materiais padronizados.

PISOS E MADEIRAS IGUAIS

- Os ambientes são integrados e, assim, os donos do imóvel podem abusar da criatividade. Mas a ideia é manter um bom padrão dos materiais utilizados. Não adianta ter uma sala bacanérríma e uma cozinha sem o mesmo estilo - afirma Cristina.

Usar o mesmo piso é um truque também utilizado pelo arquiteto Chicô Gouvêa, que não só projeta cozinhas abertas para seus clientes, como o fez em sua própria casa:

- É importante sentir que o espaço é único e não que você só quebrou a parede e juntou tudo - pontua o arquiteto.

Integração é a palavra de ordem, mesmo em novas versões. Em um apartamento na Zona Sul, além do mesmo piso em tons claros e na madeira como peças-chave dos ambientes, a arquiteta Paola Ribeiro apostou em uma mesa central com um armário embutido bem acima dos compartimentos de pia e fogão que separam (ou unem) sala e cozinha. Um décor que arremata o aproveitamento de espaço.

E se um dos receios de tais modelos de cozinha é que aquele indesejável cheiro de fritura se espalhe, Cristina explica que o odores não tão agradáveis podem ser vedados. Uma das soluções apontadas pelos arquitetos Ricardo Melo e Rodrigo Passos foi a de ter uma janela próxima ao fogão e, assim, ajudar na exaustão do cheiro.

- Cozinha aberta é para quem gosta de cozinhar. É muito mais agradável nesse momento estar junto dos amigos do que ficar trancado só em outro ambiente. Quem se incomodar com o cheiro que vai para a sala, pode colocar uma porta de correr no ambiente - finaliza Chicô.



O Globo, Morar Bem, 22/fev

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Brasil é o 2º em 'Visto Gold' para Portugal


Em junho do ano passado o empresário José Eduardo Cazarin realizou um sonho antigo: comprou um apartamento em Portugal na cidade de Lisboa. "Não sou português nem tenho ascendência portuguesa, mas vivi em Lisboa na década de 1990 e gosto muito daquele país", conta.

Além de um sonho antigo, o que levou o empresário a desembolsar 320 mil por um apartamento de 90 metros quadrados foi uma junção de fatores. "Achei oportuno pegar uma parte dos meus recursos e aplicar em um ativo real em moeda forte para obter algum rendimento e também ter um imóvel para usar ", explica o empresário.

Por meio de empresas especializadas, ele pretende alugar o apartamento para turistas e profissionais por períodos curtos e também se hospedar em suas viagens ao exterior. Com a locação de curta temporada, Cazarin calcula que pode embolsar entre 1,5 mil e 2 mil por mês.

Agora ele se prepara para comprar outro imóvel em Portugal. Só não se decidiu se será em Lisboa ou no Porto. Com a segunda aquisição, seus investimentos no país devem superar 500 mil. Esse é o valor mínimo exigido pelo governo português para que Cazarin tenha o direito de requerer a Autorização de Residência Especial para Investimento (ARI), também conhecida como "Visto Gold".

Além de diversificar os investimentos, ele diz que o que pesou na decisão de comprar outro imóvel foi a possibilidade de obter o visto. Com o "Visto Gold", ele poderá circular livremente pelos países da União Europeia e, depois de cinco anos, obter autorização de residência permanente. O visto especial deve ser renovado ao final de um ano e, depois, a cada dois anos. No mês que vem, quando Cazarin deve fechar o segundo negócio imobiliário, ele vai engrossar a lista de brasileiros que estão investindo em Portugal por meio do "Visto Gold".

Investimentos. Faz mais de dois anos que o governo português decidiu criar um mecanismo para atrair para o país investimentos de fora da União Europeia com o intuito de ser mais uma alavanca para tirar a economia portuguesa da recessão enfrentada nos últimos anos.

Podem ter acesso ao visto empresários que investirem pelo menos 1 milhão no mercado financeiro ou abrirem um negócio que contrate no mínimo dez trabalhadores ou ainda aplicarem pelo menos 500 mil em imóveis.

A estratégia de Portugal está surtindo efeito. Até o fim de janeiro, investidores de 48 países tinham aplicado no país 1,280 bilhão com a emissão de 2.103 vistos. Destes, 1.994 são relativos à compra de imóveis, 105 dizem respeito à transferência de capitais e o restante se refere à criação de emprego. Segundo dados oficiais, até agora foram abertos 50 postos de trabalho em Portugal por conta deste tipo de investimento.

"Os resultados têm nos surpreendido", diz Paulo Lourenço, cônsul-geral de Portugal em São Paulo. E o Brasil passou a Rússia no ranking dos países investidores, só superado pela China. "Como se previa, o Brasil se consolidou como o segundo maior investidor em Portugal por meio do 'Visto Gold'", ressalta Lourenço. Ele destaca que a facilidade da língua e da cultura, além da relação histórica fazem com que Portugal seja cada vez mais a porta de entrada dos brasileiros na Europa.

Atualmente, a China encabeça a lista dos 48 países que aplicaram dinheiro em Portugal, com 1.692 vistos emitidos e investimentos de 965 milhões. O Brasil está na segunda posição, seguido pela Rússia, África do Sul e Líbano.

Até agora, os brasileiros investiram no país 60 milhões e obtiveram 69 vistos. Destes, 53 são relativos à compra de imóveis e 16 são resultado de transferência de capitais.

"Ao contrário de outros países, o Brasil sempre teve essa tendência de equilibrar os investimentos e não concentrá-los apenas em imóveis", observa o cônsul-geral de Portugal em São Paulo. Ele conta que nos últimos três meses houve um aumento da procura de vistos por brasileiros.

Lourenço não sabe ao certo os fatores que teriam levado a esse maior interesse, mas acredita que o desempenho econômico do seu país contribuiu para isso. No ano passado, a economia portuguesa cresceu 0,9% e a perspectiva para este ano é que o Produto Interno Bruto (PIB) aumente 1,5%. Essas taxas de crescimento vão exatamente no sentido oposto do que vem ocorrendo no Brasil. No ano passado a economia brasileira ficou estagnada e a perspectiva para este ano é que tenha desempenho negativo.

Mudanças. O governo português aprovou na semana passada alterações na Autorização de Residência Especial para Investimento (ARI), também conhecida como 'Visto Gold'. Com as alterações, os vistos serão estendidos a estrangeiros que investirem em cultura, investigação científica e reforma de imóveis em áreas urbanas degradadas, segundo reportagens publicadas na imprensa de Portugal. 

Entre as mudanças aprovadas está o incentivo de investimentos feitos em áreas com baixa densidade populacional, a fim de melhor distribuir os recursos aplicados por estrangeiros no país. O pacote completo com as novas diretrizes será divulgado nesta semana pelo governo. As mudanças na legislação ocorrem no momento oportuno porque a oferta de imóveis de luxo começa a diminuir em Lisboa e no Algarve, onde está concentrada a maior parte dos investimentos atrelados ao 'Visto Gold'.

As alterações nas regras de concessão acontecem quase três meses após uma grande operação da polícia para investigar corrupção na aprovação de vistos, que levou o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, a pedir demissão.



O Estado de São Paulo, 23/fev

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Excesso de salas comerciais vazias provoca queda nos aluguéis


Símbolos da retomada econômica que alavancou o Rio após décadas de estagnação, as torres comerciais multiplicaram-se pela cidade nos últimos cinco anos. Do Centro ao Recreio, foram lançadas no mercado 25 000 unidades, um salto impressionante de 350% se comparado ao período entre 2005 e 2009. No entanto, com a economia do país estagnada e à beira da recessão, o número de salas comerciais vazias alcançou um patamar recorde no Rio no fim do ano passado. Tanto que nos últimos doze meses a falta de interessados provocou um recuo de até 15% no valor médio dos aluguéis. A retração afetou de forma mais drástica aquelas regiões onde a expansão foi maior, como as avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende, na Barra.

Após o esgotamento de terrenos disponíveis na Avenida das Américas, essas duas vias foram alçadas a estrelas do mercado, transformando-se em novos eixos de crescimento da cidade. Uma rápida caminhada na futura região olímpica, porém, mostra a quantidade de imóveis disponíveis. "Há um descompasso causado pela crescente oferta", explica Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Habitação (Secovi-Rio). "Não existe demanda para absorver tantas salas, o que é agravado pelo quadro de retração econômica", conclui.Se há cinco anos comprar uma sala comercial se mostrava um negócio seguro, com lucro garantido pelo eufórico mercado imobiliário carioca, agora a farra começa a mostrar seu preço.

Exemplos de compradores que estão sofrendo com a nova realidade não faltam. Dono de seis lojas na Avenida Abelardo Bueno, o empresário Eduardo Machado espera pela chegada de inquilinos há cerca de um ano. Para ele, a quebradeira provocada pela duplicação da via e a construção do Parque Olímpico também contribuíram para afastar os locatários dali. Outro problema é o receio de que a mobilidade urbana piore naquela área. "Há um medo muito grande de que o Rio trave em meio a tantos congestionamentos", acredita Bueno, para quem o cenário só deve melhorar após a conclusão das obras olímpicas, principalmente o BRT. Os dois pontos que o médico Luiz Bandeira comprou na mesma região, um espaço de 70 metros quadrados com aluguel estipulado de 12 000 reais mensais, também estão vazios desde 2013. "No mesmo prédio há 200 salas, e grande parte delas continua sem nenhum interessado", diz o investidor, que está arcando com os custos do condomínio sem muita expectativa de recuperar esse dinheiro a curto prazo. 

Como não se via fazia tempo, enfrentamos uma nova realidade no mercado imobiliário carioca. De acordo com os especialistas, a crise que teve início em 2014 deve perdurar até a Olimpíada. Na melhor das hipóteses, os valores dos aluguéis vão permanecer estagnados até lá. Mas, devido ao excesso de salas, o ambiente é propício para que os locatários negociem descontos agressivos. Também é necessário criar estratégias que atraiam a atenção de potenciais interessados diante de tantas ofertas. Se antes estavam disponíveis imóveis apenas com a estrutura básica, agora é comum que se faça o acabamento de itens como o piso e a iluminação, um custo adicional para os proprietários. "Quem possui imóvel vai ter de investir na estrutura ou flexibilizar a negociação", decreta João Paulo Rio Tinto, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi).

Retraído, o mercado também deverá cortar investimentos em localidades pouco acessíveis e concentrar-se em bairros tradicionais da Zona Sul, onde o retorno do investimento é mais garantido. Já regiões como Vargem Grande e Itaboraí, que vinham sendo apontadas como as novas apostas, devem ver os lançamentos escassear, ao menos até a Olimpíada.



Veja Rio, 20/fev

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


Nos 450 anos de sua fundação, o Rio se empenha em reconquistar o título de Cidade Maravilhosa, depois de algumas décadas em que pareceu parado no tempo. Escolhida como sede da Olimpíada de 2016, a cidade enfrenta um desafio também olímpico, dado o número de intervenções urbanas por que vem passando para a realização de grandes obras e a melhora da mobilidade. Trata-se de um conjunto de projetos combinando componentes urbanísticos e de infraestrutura que poucas vezes se viu. "A Olimpíada é um momento do Brasil. Para uma cidade, é a oportunidade de se transformar. Há casos bem-sucedidos e outros malsucedidos, nós nos inspiramos em Barcelona, que era uma cidade cafoninha na Europa e mudou [depois dos Jogos Olímpicos de 1992]", diz o prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Paes gosta de dizer que os Jogos de 2016 são apenas uma desculpa para destravar investimentos que foram ignorados por mais de 40 anos. A mudança da capital federal para Brasília na década de 1960 deixou a cidade perdida - foi um período no qual os investimentos em infraestrutura urbana foram poucos e em que cresceu a violência.

O plano estratégico da prefeitura tenta dar fôlego novo para as reformas estruturais e urbanísticas necessárias. Os recursos foram garantidos em um raro período político favorável: a aliança entre os governos federal, estadual e municipal impulsionou o Rio na última década. O foco na Olimpíada é a aposta da administração municipal dentro de uma ampla proposta de recuperação carioca no imaginário nacional, recolocando a cidade no mapa dos centros globais. "A Olimpíada é um evento muito simbólico. São várias modalidades esportivas em uma única cidade, reunindo quase todos os países", observa o antropólogo Roberto DaMatta. "Mas não se refaz uma metrópole global em dois anos."

Já neste ano a prefeitura planeja inaugurar diversas obras que servirão como ponto de partida para os cariocas receberem a maior competição esportiva do mundo. De um lado, obras de mobilidade urbana como VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), BRT (corredor expresso de ônibus) e a melhora do sistema viário, principalmente nas Zonas Norte e Oeste. Do outro, equipamentos culturais como museus e teatros em regiões degradadas.

O Túnel Rio 450 é a primeira inauguração. Ocorre no dia da celebração dos 450 anos da cidade, 1° de março. Em abril, será a vez do Museu do Amanhã. Foi em 2010 que o prestigiado arquiteto espanhol Santiago Calatrava entrou no Armazém 2 do porto, rabiscou alguns traços em aquarela e explicou o conceito do que seria o museu: uma construção de 15 mil m², no Píer Mauá, com dois andares integrados e vista deslumbrante da Baía de Guanabara. O prédio é um dos símbolos do maior projeto de revitalização em curso no Rio - o Porto Maravilha.

Parceria entre a prefeitura e a Fundação Roberto Marinho, o Museu do Amanhã é uma obra de R$ 215 milhões - parte financiada pelo Santander. Integrará um corredor cultural com museus, bibliotecas e o maior aquário da América Latina (AquaRio), às margens da ainda poluída baía. 

O projeto é transformar a abandonada zona portuária em um bulevar de quase 3 km servido por um VLT.

O Museu do Amanhã será dedicado às ciências, com respostas para as grandes questões da humanidade. Construído quase em frente do Museu de Arte do Rio (MAR), a área de 30 mil m² terá tecnologia semelhante à dos Museus do Futebol e da Língua Portuguesa, em São Paulo. Haverá ambientes com experiências que permitirão ao visitante vislumbrar possibilidades de futuro e perceber como será a sua vida e a do planeta nos próximos 50 anos.

O físico e doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira é o curador da exposição permanente e precisou praticamente abandonar a vida acadêmica para se dedicar à mostra. 'Agora é o momento de finalizar. Há uma série de audiovisuais e conteúdos interativos sendo finalizados, além de textos, fotografias, tudo neste momento. Por enquanto, só temos as estruturas básicas de museografia." E vai dar tempo de ficar pronto até abril? "Essa é uma pergunta que não deveria ser feita", brinca, sem esconder a preocupação. "O problema não é nem ficar pronto, mas começar a funcionar. Porque o museu deve ter um dinamismo para diariamente verificar se há a necessidade de atualizar algum conteúdo." O museu terá um conselho de cientistas que buscará novos conteúdos e pesquisas para a exposição.

O investimento em torno da Olimpíada e seu legado é de pelo menos R$ 37 bilhões. A prefeitura assumiu R$ 18 bilhões, mas a maior parte - quase R$ 14 bilhões - veio por meio de concessões da iniciativa privada. Os R$ 20 bilhões restantes são bancados pelo governo do Estado, como o metrô e a despoluição do complexo de lagoas da Barra, e pelo governo federal, no Complexo de Deodoro, por exemplo, que abrigará diversas atividades dos Jogos. Nessa conta também entram os gastos com transporte público, como o BRT, o serviço de vias do VLT e a construção de arenas, entre outras obras.

Todas essas intervenções urbanas dão ao carioca a sensação de viver em um gigantesco canteiro de obras. Tapumes são vistos por toda a cidade. A demolição do viaduto da Perimetral, via elevada que ligava o Aterro do Flamengo à avenida Brasil, é a principal marca do Porto Maravilha e será substituído por um túnel de 3 km de extensão, com capacidade de fluxo 40% maior do que a do antigo elevado. "Criar o potencial de construção com a Perimetral em pé era impossível. Com o elevado, não havia como reaproveitar 60% dos terrenos", diz o presidente da Concessionária Porto Novo, José Renato Ponte.

O novo modelo desenhado para a zona portuária religará a Baía de Guanabara com o centro depois de quase um século desconectados. O passeio público já começa a ganhar forma, unindo em uma caminhada o Museu de Arte Moderna (MAM), a praça 15, onde se concentrava grande parte da atividade comercial da cidade no passado, e os novos equipamentos culturais do porto.

O fim da via expressa causou polêmica entre os cariocas e virou debate da disputa à prefeitura, que resultou na reeleição de Eduardo Paes. O projeto abrange uma área de cerca de 5 milhões de m² e tem investimentos que somam R$ 7,6 bilhões em 15 anos. A ideia é reurbanizar toda a região portuária até 2016 e repaginar serviços urbanos, como coleta seletiva de lixo e iluminação pública.

Com 1.480 metros e capacidade para 55 mil veículos por dia, o Túnel 450 é uma via subterrânea, que passa 30 metros abaixo de prédios importantes, entre eles a sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio, da Justiça Federal e outras instituições públicas. "Imagina o que eu escutei dos juízes após a primeira tremidinha", brinca o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), Alberto Gomes Silva, sobre as explosões que abriram caminho no subsolo. "É um desafio de engenharia. Para fazer as escavações foram detonações diárias desde o início de 2012", afirma o engenheiro. As principais obras viárias da região devem ser concluídas até a metade do próximo ano, ainda antes da Olimpíada.

Grande parte da região portuária está sobre um aterro criado no início do século XX, o que torna as intervenções na área ainda mais difíceis. Além disso, não havia mapeamento adequado das redes de gás, energia, telefone e água. "Gastamos mais tempo organizando a rede dos outros [concessionários] do que construindo as nossas novas. O custo é partilhado, mas isso leva tempo", lamenta o chefe da Cdurp.

Todas as obras de revitalização da zona portuária estão sendo financiadas pela emissão dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). Em 2011, foram lançados mais de seis milhões de títulos, vendidos a R$ 546 cada um em um único leilão para o FII-FGTS. Os títulos foram comprados pela Caixa Econômica Federal (CEF) e são negociados pela instituição com o mercado imobiliário para que as empresas tenha permissão de construir empreendimentos acima da cota urbanística estabelecida para a região, uma operação nos mesmos moldes da que ocorreu na região da avenida Faria Lima, em São Paulo.

De acordo com números divulgados pela própria concessionária que administra as obras, apenas 7% dos Cepacs foram usados até agora- dado que revela a incerteza do mercado em relação aos investimentos na região portuária. Em pouco mais de três anos, 33% dos certificados foram comercializados pelo FII FGTS e outros 17% estão em fase final de negociação. A crise da economia, além de travar a venda dos títulos, ainda coloca os investimentos em marcha lenta, já que as empresas revisam projetos para reduzir custos, em vez de correr para concluir e aproveitar o mercado aquecido.

O arquiteto e ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio (Iphan) Carlos Fernando Andrade diz acreditar que não houve avaliação mais aprofundada da prefeitura sobre a demanda de construções de prédios empresariais e residenciais. "O projeto Porto Maravilha é um colcha de retalhos com ideias importadas que não estão conectadas entre si", critica.

A Prefeitura do Rio ampliou os benefícios para tentar atrair empreendimentos para a região, mas até agora não teve sucesso. Os prédios residenciais são ainda mais raros e uma nova rodada de benefícios para as construtoras já foi aprovada na Câmara dos Vereadores.

"É natural que os primeiros lançamentos sejam comerciais. Existe hoje um conjunto de terrenos negociados com o FGTS em que 90% dos imóveis são residenciais. Tem o Porto Vida, já com unidades construídas, onde seria a Vila de Mídia. Acontece que o país vive uma situação difícil, os negócios deram uma travada", lamenta o presidente do Consórcio Porto Novo. "Mas os recursos para as obras estão garantidos. Temos recursos até o fim de 2016 para obras e prestação de serviços", afirma José Renato.

Apesar da cautela do mercado imobiliário, a CEF - gestora do fundo de investimento - descarta reduzir o preço dos Cepacs. "A dúvida não é se o Porto Maravilha vai vingar, mas quanto tempo a área vai levar para se consolidar. Nós temos convicção de que o investimento será muito bom", diz o gerente nacional de fundos para o setor imobiliário da Caixa, Vitor Hugo dos Santos Pinto. "Num mercado ruim, as pessoas só enxergam coisas ruins", completa.

A concepção de revitalização do porto previa aliar empreendimentos corporativos a habitações; assim, a região cresceria e atrairia cada vez mais investimentos. Porém, no início de 2014, a prefeitura decidiu transferir os prédios que abrigarão jornalistas e árbitros na Olimpíada da região portuária para a Zona Oeste. De acordo com a administração municipal, com a mudança, seriam economizados cerca de R$ 70 milhões.

A decisão foi um grave erro de avaliação, na opinião do presidente do Instituto dos Arqui-tetos do Brasil (IAB), Sérgio Magalhães: "Estou deprimido com a oportunidade que o porto está perdendo", afirma. "O projeto da Vila era construir dez mil quartos, cinco mil apartamentos que poderiam ser revertidos para 15 mil pessoas. Construir essa Vila de Mídia definiria um padrão novo de urbanização que a cidade não tem. O porto tinha a capacidade de criar uma cidade integrada, de múltiplas funções, uma escala nova. E isso sinalizaria muito positivamente para o resto da ocupação portuária."

Outra região recuperada por causa de obras foi a do Parque Madureira, inaugurado no segundo semestre de 2012, quando renovou o tradicional bairro da Zona Norte. E ainda conseguiu influenciar a revitalização de áreas vizinhas, onde quase não havia manifestações culturais e a violência era crescente. A região é berço de duas tradicionais escolas de samba: Império Serrano e Portela, agremiação adotada por Paes que vai desfilar na Marquês de Sapucaí celebrando os 450 anos do Rio

"Madureira ficou anos abandonada, sem investimento. Agora está tão claro que o Parque de Madureira é importante que vão inaugurar outro no Méier e fazer um em Guaratiba", resume a diretora da ONG Rio Como Vamos, Tereza Lobo. "Estamos em um momento de revalorização de espaços que eram desvalorizados."

O professor de história da PUC-Rio Antônio Edmilson Rodrigues diz acreditar que essas obras dão um novo padrão para a cidade e levam o carioca a "usar as áreas exóticas do Rio". De acordo com ele, há uma série de novidades importantes nessas áreas que ajuda a integrar a cidade. "A Zona Oeste e a Zona Norte estão ganhando da Zona Sul em perspectivas de investimentos e isso dá uma dinâmica de equilíbrio cultural."

Na Zona Norte, o foco da Prefeitura do Rio é reformar o entorno do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, onde serão disputadas as provas de atletismo nos Jogos de 2016. O maior projeto a ser entregue neste ano é a Praça do Trem, que será o principal acesso à arena. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, o local de 35 mil m² vai se tornar a maior área pública do Méier, com iluminação eficiente e uma esplanada livre para facilitar a circulação pela região. Além disso, 34 ruas adjacentes ao estádio receberão nova pavimentação, reforma nas calçadas e arborização. A entrega da obra está prevista para o segundo semestre.

"A prefeitura pensou em um projeto de revitalização para melhorar o fluxo de entrada do Engenhão, a chegada das pessoas que vêm pela rede ferroviária, e que também pudesse ser, ao longo do ano, uma área de lazer para a cidade", diz o secretário de Obras, Alexandre Pinto. Fechado desde março de 2013 por causa de problemas de estrutura na cobertura, o próprio Engenhão deve ser reaberto no primeiro semestre. Ainda no ano do 450° aniversário, a prefeitura quer triplicar o Parque Madureira, uma das principais áreas de lazer da região.

A defesa da requalificação da Zona Norte é uma das principais preocupações dos urbanistas ouvidos pelo Valor. "Não se pode fazer uma cidade com 80% à margem. Isso é uma injustiça brutal", alerta Magalhães, do IAB. "A região era o lugar de melhor infraestrutura da cidade, em termos de saneamento, água etc.", lembra. "Lá, há três linhas de trem, uma de metrô e agora o BRT. Isso tem que ser qualificado, as pessoas precisam querer ficar na Zona Norte. É um nó estratégico na Região Metropolitana, onde moram 2,6 milhões de pessoas."

Apesar de não ser concluídas neste ano, três obras de mobilidade urbana já modificam a realidade da população. As linhas Transolímpica, Transoeste e Transbrasil vão ser um corredor expresso exclusivo para ônibus ligando centro, Zona Norte e Zona Oeste. A previsão é que os usuários gastem até a metade do tempo no trajeto entre a casa e o trabalho depois da conclusão das obras. Uma pesquisa liderada por professores da Fundação Getulio Vargas (FGV) concluiu que o carioca já gasta mais tempo no trânsito do que o paulista. Para o economista e professor da FGV Armando Castellar, o BRT e a expansão do metrô vão aliviar essa situação na Região Metropolitana. "O papel do Estado é dar infraestrutura e um bom ambiente de negócios. E no Rio hoje há projetos importantes de infraestrutura."

Na última década, segundo o Censo, a população da região da Barra da Tijuca foi a que mais cresceu. Recreio dos Bandeirantes e Vargem Pequena dobraram de tamanho; Jacarepaguá e a própria Barra tiveram aumento de cerca de 50% no número de moradores. Dos dez bairros mais populosos, sete ficam na Zona Oeste. Mesmo assim, nessa área não há linhas de metrô, de trem e a oferta de ônibus é inferior à da Zona Sul, cuja população é bem menor. A cidade forjada por Carlos Lacerda, há 60 anos, foi criada para os veículos sobre rodas, afirma o arquiteto Magalhães, do IAB. Os projetos em construção da prefeitura e do Estado prometem criar um círculo de transporte expresso. Linhas de BRT e metrô vão se integrar na Barra da Tijuca e levar os cariocas para as áreas mais populosas.

A linha 4 do metrô terá seis estações e cerca de 16 km de extensão, ligando a Zona Sul à Barra. O projeto está orçado em R$ 8,79 bilhões e quase todos os recursos são do governo estadual. As obras estão atrasadas por causa de erros de cálculo na perfuração do túnel no subsolo. A Secretaria de Estado de Transportes admite que o trecho será inaugurado incompleto antes da Olimpíada. A Estação Gávea não ficará pronta em 2016. Em Ipanema, Leblon, Gávea, São Conrado e na Barra há diversas intervenções que causam congestionamentos diários, um tormento no cotidiano do Rio. Os mais otimistas repetem o mantra ensinado pelo prefeito Eduardo Paes: "Não se faz omelete sem quebrar ovos".

"A imagem do Rio como cidade global, sem barreiras, só se sustenta em conjunção com a população, que não se satisfaz mais apenas com os cinco S [soccer, samba, sensuality, sun e sand]. O Rio ainda quer ser despojado, mas com qualidade e, principalmente, respeito pelo tempo, que hoje é dos maiores gargalos", afirma Bruno Israel, sócio da Ana Couto Branding, agência que estudou a marca Rio antes de incorporá-la ao nome do Aeroporto Inter-nacional do Rio de Janeiro, hoje Rio Galeão - Aeroporto Internacional Tom Jobim.

Ainda antes da Olimpíada, o Rio deve ter de volta os bondes que circulavam em Santa Teresa, na região central. A reinauguração está atrasada desde março. A primeira previsão do governo estadual era concluir a fase inicial das obras ainda no primeiro semestre de 2014. Os tradicionais bondinhos estão parados desde 2011, quando um acidente deixou cinco mortos e 57 feridos. Desde então, os moradores lutam para ter de volta o meio de transporte. Agora, o secretário de Transportes, Carlos Roberto Osório, garante que o novo bonde vai entrar nos trilhos-ainda que de forma parcial.

Foram muitas as empreitadas que deram ao Rio a cara que tem hoje. Com d. Pedro II, a cidade ganhou a Floresta da Tijuca e a Estrada de Ferro Corcovado. Pereira Passos e Paulo de Frontin abriram as avenidas Beira-Mar, Atlântica e Central (atual Rio Branco). O Rio passou a ser a Cidade Maravilhosa.

Henrique Dodsworth começou a construção do Maracanã e urbanizou a Esplanada do Castelo. Lacerda finalizou o Aterro do Flamengo, criou o Museu da Imagem e do Som (MIS) eaSa- la Cecília Meireles. Marcelo Alencar, Cesar Maia e Luiz Paulo Conde urbanizaram as orlas da Zona Sul, da Barra, construíram as primeiras ciclovias e remodelaram o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Todos cartões-postais da cidade.

A imagem que sairá da reforma tocada agora, porém, ainda é difícil de visualizar. Usando recursos de computação gráfica, prefeitura e Concessionária Porto Novo colocaram na internet animações que mostram como ficará a região.

Com a derrubada da Perimetral, o centro voltará a se encontrar com a Baía de Guanabara, depois de quase um século desconectados. A praça 15, onde se concentrava grande parte da atividade comercial da cidade até o século passado, será a conexão entre o começo do Aterro de Lacerda, onde está o Museu de Arte Moderna (MAM), e a ponta do novo porto, que, além do Museu do Amanhã, já conta com o Museu de Arte do Rio (MAR).

No total, essa região que compreende o novo porto e o centro da cidade contará com mais de uma dezena de equipamentos culturais, inclusive o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles, que acaba de sair de uma modernização que custou R$47,5 milhões.

"O Rio precisa escolher se quer deixar o turista o dia inteiro tomando sol na praia de Copacabana, sem gastar dinheiro, ou se aprende a explorar todo o seu potencial turístico", disse recentemente em uma palestra na PUC-Rio o secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Viegas Figueira de Mello.

A Copacabana da praia também terá novidade. Idealizado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio com a Fundação Roberto Marinho, a nova sede do MIS, na sua orla, é outro projeto que será concluído ainda neste ano. Ao todo, serão seis níveis, com diferentes exposições. Entre eles um sobre o "Espírito Carioca", que apresentará o humor, a rebeldia e as festas, como o Carnaval. O desenho do novo MIS foi realizado por arquitetos do escritório americano Diller Scofidio + Renfro. A construção está orçada em R$ 104,6 milhões, bancados pelo governo do Estado.

"Tenho fé que o Rio vai retomar parte da im-portância. Mas a educação do carioca deve acontecer junto com as transformações físicas", comenta o antropólogo DaMatta.



Valor Econômico, Especial Rio 450 anos, 13/fev

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Mais perto do futuro


Mal entram na Barra, moradores e visitantes se flagram numa ilha de progresso, cercados de obras por todos os lados. Logo no início do bairro, na Avenida Armando Lombardi, encontram as interdições necessárias para permitir o trabalho dos operários nos canteiros do metrô e na extensão do BRT Transoeste. O transtorno, iniciado há cerca de dois anos, ainda está longe de acabar, mas os primeiros sinais do futuro da mobilidade urbana na região surgem na paisagem. A estação Jardim Oceânico da Linha 4 do metrô já está completamente escavada, e a ponte estaiada começa a ser instalada. Também já foi iniciada a construção de dois mergulhões de retorno na via, para facilitar o fluxo de acesso e saída do bairro, uma antiga reivindicação dos moradores que acabou atendida e incluída no pacote de obras do metrô. Enquanto isso, metade do traçado do Lote Zero do BRT Transoeste está implantada. A pista do corredor expresso no sentido Zona Sul está praticamente pronta, e os pontos do canteiro central da Avenida das Américas que receberão estações têm movimentação de operários.

A construção dos mergulhões na Armando Lombardi foi anunciada em 2013. Eliminando a necessidade de sinais, as vias passarão por baixo da pista central, nos dois sentidos, e terão uma altura de 3,60 metros. Além da faixa de rolamento para veículos, haverá passagem de pedestres e ciclovia. Orçada em R$ 35 milhões, a obra deve ficar pronta junto com o metrô, em junho de 2016.

- O metrô acabaria com os retornos. Pedimos, então, a mudança no projeto. Os retornos atendem a todos, tanto para circulação interna como para entrada e saída da Barra. Hoje a praia está sobrecarregada - explica o vereador Carlo Caiado, autor da emenda de requerimento para construção do retorno.

Orçado em R$ 94,9 milhões, o trecho do BRT Transoeste que ligará o Alvorada ao Jardim Oceânico, chamado de Lote Zero, também esteve na mira dos moradores. Foi alvo de diversas audiências e protestos, o que resultou na retirada de um terminal rodoviário do projeto, que ficaria próximo ao metrô. Em junho passado, foi estabelecido que os ônibus serão circulares e só ficarão estacionados no Alvorada.

Outra preocupação era o local das estações. Haverá nove pontos de embarque e desembarque: BarraShopping, Parque das Rosas, Ricardo Marinho, Riviera, Freeway, Porto dos Cabritos e Città America/ Downtown, além dos terminais Jardim Oceânico e Alvorada. A definição, segundo a Secretaria municipal de Transportes (SMTR), foi feita de acordo com a demanda e a acessibilidade: "a facilidade de chegar às estações aproveitando os cruzamentos já existentes, a fim de atender aos principais polos geradores de viagem, como condomínios, escolas e shopping centers".

As estações terão um módulo parador, excetuando as expressas ( BarraShopping e Downtown/ Città America), que serão erguidas com um módulo parador e outro para quem quiser ir direto até o metrô ou o Alvorada. O secretário de Obras, Alexandre Pinto, afirmou que nos próximos dois meses os guard rails dos corredores serão começarão a ser instalados, e depois as lajes das estações, que serão montadas no segundo semestre.

- O primeiro serviço foi a criação da faixa adicional da Avenida das Américas, no canteiro lateral. Começamos no sentido Recreio-Barra, que já está praticamente concluído, e depois no sentido Barra-Recreio, que demanda mais trabalho devido aos desníveis de pistas, o que motivou a construção de um muro de contenção lateral em vários trechos. Para minimizar os transtornos, assim que finalizamos um serviço, já liberamos a pista para o tráfego. Acredito que nos próximos três meses as pistas laterais (construídas para compensar a criação de faixas exclusivas do BRT) estarão prontas - diz o secretário, que rechaça a tese de que o Lote Zero impediria a expansão do metrô, temor de moradores como Delair Dumbrosck, presidente da Câmara Comunitária. Não é só na superfície que as obras estão a todo vapor. As escavações da Linha 4 do metrô, no sentido Leblon, foram finalizadas, e apenas 40 metros separam os túneis entre a Barra e a Gávea. E três das seis estações estão totalmente escavadas: Jardim Oceânico, São Conrado e 
Nossa Senhora da Paz. Gávea, Antero de Quental e Jardim de Alah completam os 16 quilômetros de extensão da rede.

O progresso das intervenções é visível também no asfalto. Na Avenida Armando Lombardi já se nota a construção do viaduto da ponte estaiada. De concreto, ela passará sobre o Canal da Barra e será suspensa por cabos de aços sustentados por dois pilones de 72 metros, cujas fundações estão sendo concretadas.

Simultaneamente, as últimas paredes da estação Jardim Oceânico estão sendo levantadas, e as plataformas de embarque e desembarque, construídas. Já a escavação do rabicho - trecho de 350 metros que permitirá a futura expansão do sistema - deve ser finalizada em fevereiro.

Com tantas intervenções, o impacto no trânsito se torna inevitável. Para Marco Ripper, presidente da Associação de Moradores da Barrinha e do Quebra- Mar, falta planejamento para minimizá-lo:

- Todos os dias, o trânsito é caótico na ponte do Itanhangá. Os agentes terceirizados colocam cones onde querem para facilitar a obra do metrô e, assim, param o trânsito indiscriminadamente.

Em resposta a Ripper, a subprefeitura de Barra e Jacarepaguá disse que solicitou à concessionária do metrô a retirada dos cones e da mureta colocada na saída da ponte. Assim, a pista voltará a ter passagem para dois veículos no sentido Itanhangá-Barra.

Enquanto aguardam o fim dos trabalhos, moradores se preparam para as mudanças que virão. Uma delas diz respeito aos ônibus de condomínio. Com a inauguração do metrô, a quantidade de veículos deverá ser reduzida, e parte dos que continuarem em circulação passarão a ir apenas até a estação Jardim Oceânico, e não mais até o Centro do cidade. Atualmente, a manutenção dessas frotas representa cerca de 30% das cotas de condomínio, segundo administradores como Cléo Pagliosa, presidente da Associação de Moradores do Parque das Rosas:

- Acho que já poderíamos começar, desde agora, a fazer os ônibus irem apenas até a Zona Sul, por exemplo, em vez de até o Centro, nos horários de menor importância. Mas isso, claro, depende da aprovação dos moradores.

Para a advogada Regina Salaroli Barcelos, moradora da Avenida Salvador Allende, a principal vantagem de ter BRT e metrô será poder se planejar:

- Com os dois sistemas, saberei quanto tempo levarei até o Centro e a Zona Sul, em vez de sair de casa sempre com muita antecedência, por causa do trânsito imprevisível.



O Globo, Barra, 12/fev

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Palácio dos Arquitetos


Mais um livro lançado neste verão sob a chancela do Comitê Rio450 e com o símbolo da festa de aniversário na capa, Dezoito Graus, do arquiteto e antropólogo Lauro Cavalcanti, é uma história romanceada sobre a construção do Palácio Gustavo Capanema, erguido nos anos 30 na Avenida Graça Aranha, no Centro. O prédio, feito para sediar o Ministério da Educação na Era Vargas, foi um marco da arquitetura moderna. Diferente de tudo o que se via até então no que diz respeito a um edifício de sua magnitude, catorze andares, ele não toca o solo: a base repousa sobre pilastras. Além disso, comporta uma grande área no térreo destinada ao paisagismo. Seu projeto misturou os talentos de brasileiros como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, e teve também a mão do suíço Charles-Édouard Jeanneret-Gris, ou Le Corbusier, que, segundo a versão de Cavalcanti, foi decisivo na questão de que as janelas ficassem todas elas voltadas para o mar. De uma de suas tiradas, aliás, vem o título do livro, editado pela Língua Geral: Corbusier acreditava ser justamente 18 graus a temperatura ideal num escritório. No romance, o poeta Carlos Drummond de Andrade conversa com Lúcio Costa e os dois zombam do comentário: "A temperatura não é, como quase tudo no mundo, um valor absoluto. Depende da relação com o exterior. Para um siberiano, 18 graus é tórrido. Para os cariocas, a verdadeira Sibéria".



Veja Rio, 12/fev