segunda-feira, 11 de maio de 2015

O valor da vista de uma cidade cinematográfica


Inegavelmente, o Rio de Janeiro possui uma das paisagens urbanas mais belas do mundo. Eleita Patrimônio cultural da humanidade desde 2012, a cidade foi a primeira do planeta a receber o título na categoria "Paisagem Cultural", na qual nossa qualidade natural é valorizada pela ação do homem.

A massa construída no Rio de Janeiro proporciona um enquadramento visual à natureza e a sua população agrega um ingrediente primordial à arquitetura para transformar essa grande cidade num turbilhão efervescente de cultura e vistas. Praias, montanhas, lagoas, rios e vegetação exuberante sempre estiveram aqui, mas foi o dedo do homem através do desenvolvimento urbano, do patrimônio histórico e de sua capacidade de emoldurar estes bens naturais que tornou a cidade do Rio de Janeiro o que ela é hoje. O desenvolvimento foi pautado pelo planejamento urbano e, ao mesmo tempo, pela falta de planejamento associada a falhas de fiscalização. Trouxe características distintas a zona sul, zona norte, oeste e Central. O valor da vista está intimamente ligado esse a planejamento ou, de novo, a falta dele.

Na zona sul, por conta do adensamento desejado e gabarito baixo, poucos tem o privilégio das mais belas paisagens naturais, praias, lagoa, parques e floresta. A grande maioria não tem essa vantagem e, em geral, preza um valor mais relacionado à privacidade. Na zona norte, por conta da tradição dos bairros, ruas largas e arborizadas, vilas etc...., o valor está na relação com a rua. Na oeste, pela taxa de ocupação e potencial construtivo muito baixos, pela difusão dos ditos condomínios clubes, em geral encontra-se edifícios onde a aeração e a luz natural são virtudes ordinárias e o valor da vista está em além da paisagem, na sua relação com as áreas de lazer e jardins.

Por outro lado, a falta de planejamento e fiscalização traz prejuízos intangíveis e imprevisíveis. As encostas de mata nativa, vista tão farta, tão bonita e valorizada na cidade foram e ainda são abr uptamente transformadas do dia para a noite, por ocupações irregulares. O ônus fica exclusivamente para os moradores das moradias formais, que veem seu patrimônio perder valor e liquidez sem que nada possam fazer.

Há ainda toda a região central revigorada pelo gigantesco plano de transformação urbana que é o Porto Maravilha. Os gabaritos mais altos da cidade estarão lá, promessa de vistas espetaculares da Baia de Guanabara, do nosso rico Patrimônio Histórico e novos edifícios, verdadeiros landmarks contemporâneos de uma cidade cada vez mais cosmopolita e que busca um papel de protagonismo no cenário mundial.

Na nossa cidade tudo tem o seu lugar, temos bairros tão diferentes quanto Copacabana e Barra da Tijuca, porém até as favelas consolidadas têm um lugar importante na paisagem urbana do Rio de Janeiro e, quem sabe um dia, serão uma vista a ser vista e não apenas um lugar para ver uma vista.

Fato é que em qualquer lugar do Rio de Janeiro podemos encontrar uma perspectiva, uma vista, um olhar que vale a pena ser visto, fotografado, pintado, em suma, registrado.

Característica da nossa edificação, as varandas são os quintais dos apartamentos. Podem ter vistas maravilhosas de nossa paisagem ou podem também ter a qualidade de estar na altura das copas da árvores. Podem estar de frente a um edifício de qualidade histórica ou de um futuro landmark arquitetônico inserido na nossa paisagem.

O imóvel é hoje e sempre será o maior desejo de consumo, o melhor e mais seguro investimento que existe, no mais, vista boa é escassa até em cidade maravilhosa e certeza de valorização e liquidez patrimonial.



O Globo, Morar Bem, Por dentro do mercado, 10/mai