quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Amanhã: uma viagem fantástica ao futuro


Alguns podem sair de lá perturbados. Outros, entusiasmados. Haverá aqueles que vão voltar para casa com uma imensa vontade de revolucionar, de mudar o curso da história. Uma coisa é certa: o público que visitar o Museu do Amanhã dificilmente sairá indiferente da experiência. E essa é a função do espaço: provocar, sacudir certezas, instigar reflexões sobre a vida que levamos e a que esperamos levar no futuro e mostrar que nunca o homem transformou tanto o planeta - em curtíssimo espaço de tempo, e com a força de um tufão. Um museu único, com acervo imaterial, de instalações surpreendentes e arquitetura de tirar o fôlego que vai descortinar um universo de questões e levar conhecimento, misturando poesia, arte, entretenimento e ciência.

A narrativa que conduzirá o passeio pelo museu, desenhado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, parte de cinco perguntas: De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir? O visitante seguirá um roteiro com diferentes experiências, algumas sensoriais.

O Museu do Amanhã é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido e realizado em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo, tendo o Banco Santander como Patrocinador Master. O projeto conta com a BG Brasil como mantenedora e o apoio do governo do estado, por meio de sua Secretaria do Ambiente, e do governo federal, por intermédio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Só para dar um gostinho do que espera o público. O ambiente Cosmos é uma viagem para muito além da Praça Mauá. Dentro de um ovo negro - o Portal Cósmico -, passará um filme em 360 graus em que se poderão ver galáxias e como foi surgimento da vida, da arte e da cultura.

- Espero que o espectador saia do ovo negro com a noção de como ele é pequeno e transitório e que isso o ajude a se ver de outra forma no mundo - diz o cineasta Fernando Meirelles, produtor-executivo do filme, com direção de Ricardo Laganaro.

Logo depois, três grandes cubos trazem as dimensões do existir: Matéria, Vida e Pensamento. Eles integram a segunda parte do museu, batizada Terra, que lança mão da pergunta "quem somos?". Em Vida, o público irá "mergulhar" até o fundo da Baía de Guanabara com as espécies que a habitam.

O momento central da narrativa é chamado de Antropoceno ("onde estamos?"). O conceito, pouco conhecido, quer dizer "era dos humanos" - ou seja, a nossa era atual. É o momento de maior impacto, em que o público se verá no centro de seis grandes totens, de dez metros de altura, onde serão projetadas imagens reais do mundo: trânsito, poluição, catástrofes naturais...

- O conjunto de nossas atividades, pela primeira vez na história da civilização humana, adquire uma dimensão planetária, interagindo em todos os lugares da Terra. É um poder transformador equivalente ao de uma força geológica, semelhante ao impacto dos grandes vulcões, das grandes tempestades - explica Hugo Barreto, diretor-geral da Fundação Roberto Marinho e de conteúdo do Museu do Amanhã.

Curador do museu, o físico Luiz Alberto Oliveira afirma que todos os cenários, por mais difíceis que sejam, estarão presentes. No Antropoceno, já há imagens da tragédia de Mariana. O próximo passo é pensar o amanhã (ou os próximos 50 anos) de maneira lúdica ("para onde vamos?"): por caminhos com formas de origami, o visitante percorrerá tendências e cenários possíveis, que se alternam com jogos como um de inspiração ecológica. Nele, você descobre o seu perfil de consumo e recebe dicas de como amenizá-lo.

No final, a questão é o "nós" e "como queremos ir?". É quando se entra numa "oca", com movimentos de luz que remetem ao nascer e ao pôr do sol e que tem no centro o churinga: objeto aborígine australiano, única peça museográfica do Amanhã, que simboliza a transmissão do conhecimento.

- A ideia central do museu é o conceito de que o amanhã não está pronto, não tem uma data no calendário. Ele é uma construção que começa no presente. E no coração do presente há caminhos para diferentes amanhãs e futuros. Não há um único rio do tempo, e sim um delta de possibilidades - reflete Luiz Alberto Oliveira.



O Globo, Museu do Amanhã, 17/dez