segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

E o mercado imobiliário, como fica após as Olimpíadas?


Semanalmente recebo diversos emails perguntando minha opinião sobre o comportamento do mercado imobiliário pós-olímpico. Existe muita especulação quanto ao continuísmo e à desenvoltura de nosso ramo. É natural que a falta de experiência leve uma parcela da sociedade a pensar que o apagar da pira olímpica signifique uma interrupção no ritmo do mercado. Na verdade, não é bem assim.

Efetivamente, a história dos últimos anos foi contada sempre em caráter olímpico. A chegada dos Jogos acendeu uma chama em cada um de nós. Todas as promessas, sonhos de consumo e esperanças de crescimento giraram em torno do majestoso evento de 2016. Tudo teria que ser realizado até aquela data limite.

Acabamos nos esquecendo de visualizar o futuro, e não procuramos entender as benesses que serão deixadas pelas Olimpíadas - e que são muitas.

Imaginemos a situação do Rio de Janeiro no dia 9 de outubro de 2009 - data do anúncio da escolha da cidade sede das Olimpíadas de 2016. Desde aquele dia, o município recebeu, e vem recebendo, o maior "legado" de sua história: o investimento da iniciativa privada.

Bilhões de reais foram aportados na cidade na confiança de um despertar cosmopolita. O maior exemplo de todos foram os maciços investimentos realizados pelo mercado imobiliário.

As apostas no Rio foram corretas e necessárias. Uma das principais características desse novo momento foi a descentralização de polos comerciais - iniciada um pouco antes do anúncio dos Jogos de 2016 -, hoteleiros e residenciais para novas regiões.

Há poucos anos, os grandes enxames comerciais do Rio de Janeiro estavam lotados no Centro ou em espaços específicos da Zona Sul. Deslocar-se era sempre preciso, e necessário. Após 2009, o entendimento de criação de eixos de negócios bairristas se intensificou em virtude das obras de mobilidade urbana que o município recebia. O mercado imobiliário foi o grande responsável por tal integração, plantando a ideia de empreender próximo à sua residência e num local de fácil acesso. O legado deixado será de milhares de lojas, salas, estúdios e shopping centers, favorecendo moradores, visitante e futuras gerações.

Outro resultado positivo foi a redescoberta do setor hoteleiro. Seguindo o entendimento do ramo comercial, a maioria dos hotéis do Rio de Janeiro encontrava-se em bairros da Zona Sul. A carência de quartos restringia a hospedagem a pontos específicos, isolando o restante da cidade do acesso ao turismo. Com os Jogos, a nova aposta do mercado imobiliário foi a descentralização hoteleira para as adjacências dos futuros pontos olímpicos. Investir em hospedagem tornou-se realidade. Diversos bairros foram presenteados com novos quartos, apart-hotéis, flats e pousadas. Segundo pesquisas, o número de quartos na Zona Oeste aumentou aproximadamente 10 vezes, em relação ao ano de 2009.

Ao contrário do que mencionam, legado não pode ser entendido apenas como uma série de equipamentos públicos ou de mobilidade urbana a ser integrado ao inventário da cidade. Certamente estes equipamentos possuem a sua importância para o desenvolvimento urbano, mas não podem ser interpretados como únicos. A grande herança a ser recebida pela cidade será a sua modernização comercial, hoteleira e residencial. Em 2017, o Rio de Janeiro estará preparado para receber novos negócios, empresas, convenções, turistas e moradores. As mudanças são visíveis e palpáveis.

Em oposição aos pensamentos apocalípticos, afirmo que o mercado imobiliário não cessará. As cidades são um organismo vivo que se renova constantemente. Incentivadas por um espírito de sucesso, elas o fazem de maneira orgânica, evoluindo, desenvolvendo-se e multiplicando-se.

Entretanto, é natural que alguns não tenham a visão supramencionada. Aqueles menos experientes ou mais sensíveis a alterações de paradigmas germinarão sentimentos de autodefesa e, de forma bruta, buscarão alterar o seu cardápio de investimentos. Movidos pela impaciência, bons imóveis serão oferecidos por preços convidativos. Sem dúvida, os anos de 2016 e 2017 serão anos de grandes oportunidades para aquisição de novos negócios.

Querem uma dica? Aproveitem para comprar antes que percebam que a mudança de padrões de investimento não passa de um ciclo histórico natural, onde os mais experientes e cautelosos se beneficiam, enquanto o apressado põe a perder suas conquistas por preços extraordinários. Afinal, a única certeza que temos, e está comprovadamente descrita em nossa história, é a de que o mercado imobiliário não para, ele apenas se adapta a cada dia. Luiz Paulo Junior é consultor especializado no mercado imobiliário.

Luiz Paulo Junior é consultor especializado no mercado imobiliário



O Globo, Morar Bem, Por dentro do mercado, 27/dez