Em tempos de crise, a palavra de ordem é economizar, certo? Não para os shoppings da Zona Sul. As incertezas do mercado não têm impedido investimentos em ampliação e até mesmo a inauguração de novos empreendimentos na região, como o Bossa Nova Mall, no Aeroporto Santos Dumont, e o Laranjeiras Mall. Uma característica comum entre eles é a grande aposta em serviços. São novas academias, centros médicos, restaurantes e cinemas para atrair os consumidores.
- A ideia de transformar o shopping numa minicidade, com um oferta variada de serviços, ganhou força nos anos 1980 e continua atual. Além de atrair as pessoas indiretamente para o consumo, já que elas passam muito mais horas no empreendimento, é quase uma necessidade imposta pela violência e o trânsito caótico das grandes cidades - explica a especialista em antropologia do consumo Michele de Lavra, professora da ESPM-Rio.
Ela destaca que o perfil dos shoppings vem mudando com o passar dos anos. Enquanto antigamente eles priorizavam uma classe com alto poder aquisitivo, hoje o foco é a classe intermediária. Não é incomum, por exemplo, unidades que tenham supermercados.
- Grandes investimentos são processos de longo prazo. Como a crise na economia brasileira é muito recente, depois de um período de relativa calmaria, é provável que ela não tenha afetado os cronogramas desses shoppings - salienta.
Inaugurado há pouco mais de duas semanas, o Bossa Nova Mall é o primeiro shopping integrado com um aeroporto no Brasil. O empreendimento, que recebeu investimento de cerca de R$ 240 milhões, fica no antigo prédio da Varig Log. Além das lojas, o prédio abriga um hotel, um business center de quatro mil metros quadrados e um centro de convenções com capacidade para mil pessoas.
A parceria com a Dial Brasil, detentora das rádios SulAmérica Paradiso e Mix FM, promete agitar o shopping com atividades culturais diferenciadas. Os estúdios das duas emissoras serão transferidos para o subsolo do prédio, que também vai abrigar a primeira loja da Forever 21 na Zona Sul.
- O VLT vai chegar a 50 metros do shopping. A ideia é revitalizar a região. Queremos que o shopping seja um novo polo de cultura e entretenimento, uma extensão do passeio do fim de semana pelo Parque do Flamengo com arte, shows e festas - conta Leandro Berg, coordenador de marketing do Bossa Nova Mall.
Segundo Berg, a tendência é que durante a semana o público seja mais corporativo, atendendo aos escritórios da região; e durante o fim de semana se torne uma área de lazer. O shopping abre todos os dias, das 8h às 22h, com o intuito de acompanhar o horário do aeroporto.
No total, são 50 lojas e, de acordo com Berg, 80% dos espaços já estão alocados. Mas, por enquanto, apenas dez lojas estão abertas. A praça de alimentação terá dez restaurantes e dois quiosques. No terraço, com uma vista panorâmica da cidade, ficam o bar e a piscina do Prodigy Hotel Santos Dumont Airport e será inaugurado o Xian, um restaurante asiático com projeto do restaurateur Marcelo Torres, dono do Laguiole e do Giuseppe Grill.
- A crise também é um momento de oportunidades. Para quem pode investir, é possível fazer bons negócios - acredita Berg.
Além dos painéis com as informações de voos, o shopping oferece um concierge com serviços como guarda-volume, aluguel de carro, agendamento de táxi, impressão e digitalização de documentos.
Já em Laranjeiras, suprindo uma demanda de consumo reprimida, o Laranjeiras Mall foi inaugurado há um ano e trouxe grandes marcas para a região. Fazem parte do mix lojas como Josefina Rosacor, Wöllner, Via Mia, Foxton e Aviator. No segundo andar, um cartório já está em funcionamento, além de salão de beleza.
- Essa região tinha uma demanda reprimida por conta do poder aquisitivo dos moradores. Muita gente tinha que sair do bairro para fazer compras em shoppings próximos - analisa Jorge Luiz Ornellas, administrador do shopping, que é propriedade da Orange Par SA.
É o caso do subgerente da Wöllner, Maurício de Souza. Morador do bairro, ele trabalhava em outra filial, mas pediu transferência.
- As mesmas pessoas que vejo no mercado de manhã vêm aqui comprar roupa. Adiantou a vida de muita gente - acredita Souza.
O empreendimento tem 83 lojas distribuídas em três andares e, segundo Ornellas, cerca de 60% já estão alocadas. Segundo o administrador, o segredo para se manter na crise é a total parceria com os lojistas.
- Jogamos aberto em função das despesas e cada um está se ajudando - conta.
A previsão é que o centro comercial receba grandes marcas, uma praça de alimentação, além de clínicas e serviços médicos e hospitalares no terceiro andar.
- Apesar de não ter nem um ano, o shopping superou nossas expectativas. Estamos na fase de maturação e vamos investir pesado no próximo ano - diz Ornellas.
Existem motivos de sobra para que os serviços sejam um segmento cada vez mais presente nos shoppings. Para Luiz Alberto Marinho, sóciodiretor da GS&BW - consultoria especializada no setor -, o primeiro deles é que o shopping não é mais apenas um lugar para fazer compras.
- Uma pesquisa recente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) detectou que apenas 37% das pessoas vão ao shopping especificamente para comprar. O restante vai para se divertir, se informar, resolver problemas... - explica Marinho.
Ele ressalta que a diversificação dos empreendimentos funciona também como um antídoto para a crise, já que um dos setores mais afetados tem sido justamento o varejo.
- O crescimento do comércio virtual também influencia. Você pode comprar eletrodomésticos e roupas pela internet, mas precisa ir ao salão para cortar o cabelo e à academia para se exercitar. Por isso, é importante para o shopping contar com esses atrativos - frisa.
O Shopping Leblon é um dos que resolveram investir no segmento. Preparando-se para as comemorações de dez anos de aniversário, o mall inaugura este mês a nova praça de alimentação, depois de seis meses de obras. A reforma custou R$ 12 milhões.
O espaço foi reformulado para oferecer experiências variadas, num mesmo espaço, a critério dos diferentes perfis e das necessidades dos clientes.
A reforma é assinada pelo escritório Indio da Costa e teve foco no design, com estética mais limpa e contemporânea, além de novos padrões de iluminação e mobiliário assinado.
Na onda de oferecer mais opções de lazer, o shopping também inaugurou uma sala VIP de cinema, com capacidade para 65 pessoas.
- As mudanças no Espaço Gastronomia integram um amplo plano de revitalização do shopping. É uma área de grande fluxo e permanência dos clientes, por isso decidimos iniciar as melhorias pelo quarto piso. A decisão coincidiu com a reforma do Kinoplex e a chegada de novos restaurantes, como o Cortés, contribuindo para um aprimoramento ainda maior da experiência no andar - conta Henrique Baez, superintendente do Shopping Leblon.