segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Mobilidade urbana é o maior legado da Olimpíada para o Rio de Janeiro


Os preparativos para os Jogos Olímpicos sacudiram o Rio de Janeiro. Depois de décadas sem obras relevantes de infraestrutura e mobilidade urbana, a cidade passou por um turbilhão de novidades. Às vésperas do maior evento esportivo do mundo, grande parte das intervenções foi concluída. Para além das competições, o real legado reside no desenvolvimento que tais mudanças produzirão para impulsionar a capital fluminense. Não podemos perder tamanha oportunidade. Aproximando- se dos 12 milhões de habitantes, o município figura na lista de maiores áreas urbanas do mundo e precisa fazer jus às expectativas que o cercam.

Da zona Oeste à zona Portuária, as transformações são visíveis e positivas, mesmo sabendo que ainda há muito a ser feito. Os corredores de BRTs, a Linha 4 do Metrô, equipamentos olímpicos, prédios de arquitetura arrojada, novos projetos paisagísticos e polos econômicos compõem parte do legado dos Jogos para os cariocas. São obras de grande impacto na vida da cidade, com objetivos igualmente grandiosos: deslanchar um conceito moderno e dinâmico de metrópole, no qual a população se movimente sem transtornos, integrada às diferentes regiões e ao uso democrático de áreas públicas. A ideia é construir uma cidade com diferentes centralidades, polos de crescimento econômico e populacional diversificados. É certo que ainda vamos levar algum tempo para alcançar um novo patamar, mas os primeiros passos foram dados.

A Olimpíada trouxe grandes empreendimentos, diminuindo os impactos da crise econômica brasileira na cidade. Os projetos foram responsáveis pela geração de, pelo menos, 40 mil novos empregos no Rio nos últimos cinco anos, parte significativa na construção civil. O resultado de tantos recursos aplicados ao mesmo tempo pôs o município, segundo dados do Ministério do Trabalho, na vice- liderança na geração de empregos formais no Brasil em 2014. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), só os novos quartos lançados na cidade geraram 120 mil postos de trabalho.

As transformações não param por aí. Maior intervenção urbana em andamento no Brasil, o Porto Maravilha virou realidade. Com investimentos de R$ 8 bilhões, trata-se da maior Parceria Público-Privada (PPP) do País, com 5 milhões de metros quadrados de intervenções. A meta da prefeitura é, em 15 anos, alçar o bairro à área nobre, com infraestrutura de primeiro mundo e atrações capazes de transformá-lo em um dos principais polos de turismo carioca. Mesmo que a crise tenha arrefecido o ritmo dos empreendimentos, as mudanças são perceptíveis e o futuro, promissor.

A nova Praça Mauá, a abertura da frente marítima, o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu do Amanhã e outras atrações se converteram, rapidamente, em cartões-postais da Cidade Maravilhosa, atraindo milhares de pessoas a um lugar que, até então, se encontrava degradado. Empreendimentos residenciais, hoteleiros e comerciais estão nos planos de investidores. Além de estimular comércio, serviços, turismo, cultura e lazer, o projeto pretende aumentar a população dos atuais 30 mil habitantes para 100 mil habitantes. Nos planos, a construção de 10 mil unidades habitacionais de interesse social na próxima década. Há ainda um projeto, já aprovado, para a construção de mais 3 mil unidades habitacionais.

A integração de todo o território carioca está se tornando viável com a mobilidade urbana, possivelmente o maior legado dos Jogos para os cariocas. A mobilidade responde por mais da metade das obras realizadas no Rio, com investimentos da ordem de R$ 13,61 bilhões. Além dos BRTs, que já percorrem 150 km de corredores expressos (Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e Transbrasil), há a duplicação do Elevado do Joá (Barra da Tijuca/ zona Sul), o projeto viário do Parque Olímpico, a Linha 4 do Metrô e a remodelação das estações ferroviárias.

Recentemente, a área central da cidade ganhou também Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), que compõem o novo sistema de transportes da cidade. Associada ao perfil não poluente dos modernos bondes, há preocupação com a acessibilidade.

Palco principal das competições durante os Jogos, a Barra, na zona Oeste, vive também uma série de transformações, em grande parte devido aos projetos de mobilidade concluídos ou em andamento. A quase totalidade das instalações estará localizada na região, uma das mais belas da capital fluminense. A Barra abrigará o Parque Olímpico e as vilas Olímpica e Paralímpica.

O Parque Olímpico ocupará uma área de 1,18 milhão de metros quadrados. Na infraestrutura geral foram colocados mais de 9,6 km de redes de drenagem (extensão equivalente a três vezes e meia a Praia de Ipanema); 5,3 km de redes de esgoto e 5 km de redes de água, entre outras benfeitorias. Construído por meio de PPP, o local terá, depois do evento, boa parte de seu espaço destinada a empreendimentos residenciais e comerciais.

Ainda na zona Oeste, o bairro de Deodoro também sediará competições e, por conta disso, recebe obras de infraestrutura e investimentos públicos e privados. A zona Norte não ficou de fora e voltou ao mapa de crescimento da cidade, com o Parque Madureira, em fase de expansão, e projetos de integração de modais de alta capacidade, o que tem atraído o olhar atento do mercado imobiliário e um número cada vez maior de moradores.

Diante de tantas transformações, o Rio vive um momento especial. A precária situação econômica do País e do Estado fluminense, as incertezas políticas e tantos outros episódios negativos geraram um justificável pessimismo, uma espécie de mal-estar coletivo. Mas o setor de construção carioca, do qual a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ) é representante há 45 anos, ainda crê na capacidade de mudança do quadro, de superação. Temos bons motivos para acreditar que o futuro pode - e deve - ser melhor. Segundo dados de recente pesquisa da Ademi, houve reação no segmento de vendas de imóveis no Rio no segundo trimestre deste ano em relação a 2015. A performance dos empreendimentos residenciais cresceu 33%, o que demonstra capacidade de produção e reação, à espera somente de que haja um retorno à estabilidade macroeconômica.

É bom saber que o futuro está em construção na Cidade Maravilhosa, mesmo com o longo caminho que ainda teremos que percorrer. Só depende de nossa capacidade de mobilização, diálogo e trabalho. Mais do que medalhas, o que está em jogo é nossa capacidade de desenvolvimento. Vamos em frente!



Construção e Mercado, Edição 181, ago/2016