sexta-feira, 23 de junho de 2017

Banco Central reduz projeção para inflação este ano a 3,8%


O BC já prevê deflação de 0,10% em junho e redução da inflação deste ano de 3,9% para 3,8% O Banco Central (BC) não só reduziu a previsão para a inflação neste ano, como também passou a prever que haja deflação neste mês. No entanto, todo esse controle dos preços pode não significar um corte extra dos juros no fim do ano - por causa das incertezas no campo político, que travam não apenas uma queda estrutural da taxa como a melhora nas previsões para a retomada do crescimento. Segundo o relatório trimestral de inflação, a expectativa do BC para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado oficialmente no sistema de metas) para este ano caiu de 3,9% para 3,8%. Esse patamar está bem abaixo da meta para 2017, que é de 4,5%.

Segundo o documento produzido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), houve uma grande "surpresa inflacionária" no último trimestre. O indicador veio 0,53 ponto percentual menor que o esperado pelo BC, por causa da queda dos preços de alimentos e combustíveis, além da desinflação difundida em vários setores.

META PARA 2019 DEVE RECUAR

A certeza de queda dos preços é tanta que em junho, por exemplo, o BC projeta uma queda geral de preços de 0,10%. Se a estimativa se concretizar, bem como as previsões de alta de 0,30% e 0,27% para o IPCA nos próximos dois meses, em agosto a inflação acumulada em 12 meses atingiria 2,73%. Atualmente, está em 3,6%, bem abaixo do centro da meta.

A previsão para o índice oficial para 2018 ficou estável em 4,5%. Para o BC, o ideal é que a inflação fique exatamente no centro da meta, que para o ano que vem também é de 4,5%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Em suas projeções, o comitê apresentou horizontes de projeção até o segundo trimestre de 2019. Além dos tradicionais cenário básico (câmbio e juros constantes) e cenário de mercado (Selic e câmbio de acordo com o boletim Focus), o Copom novamente publicou estimativas sob dois cenários alternativos. Um, com a Selic de acordo com o Focus e o câmbio constante, e o outro com a Selic constante e o câmbio de acordo com o Focus.

As estimativas de inflação para 2018 (o horizonte relevante da política monetária) estão abaixo da meta em três dos quatro cenários delineados pelo Copom. As previsões para 2019, que ganharão cada vez mais importância nas discussões do comitê, estão entre 3,8% e 4,3% - abaixo, portanto, da meta atual de 4,5% e consistentes com o estabelecimento de uma meta para o ano dentro desse intervalo, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) no fim do mês.

Em nota, os economistas do Itaú mantiveram a expectativa de que o Copom vai reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ou 1 ponto percentual na reunião de julho. "No entanto, enfatizamos que a decisão dependerá dos dados, de modo que a avaliação das autoridades sobre o cenário prospectivo e nossas opiniões também podem mudar à medida que novos dados forem saindo."

Já para o Bradesco, o BC reforçou que o ritmo de flexibilização e a extensão do ciclo continuarão condicionados aos fundamentos econômicos e ao balanço de riscos. "Trazendo a questão das incertezas para seu balanço de riscos, de forma aberta e transparente, o documento ressaltou, mais uma vez, que não existe 'relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza e a política monetária.' Isso porque as incertezas - se mantidas por um longo período - poderão influenciar negativamente a atividade, com impactos desinflacionários."

Na próxima semana, o CMN definirá a meta de inflação para 2019. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, os ministros devem estipular um objetivo menor que o dos últimos anos: 4,25%. Será a meta mais baixa desde 2004, com a ressalva de que o objetivo não foi cumprido naquele ano.

Carlos Viana, diretor de Política Econômica do BC, foi perguntado diversas vezes sobre a possibilidade de o CMN diminuir a meta na semana que vem. O argumento é que a previsão da autoridade monetária para a inflação no segundo trimestre de 2019 (último período constante do relatório) é de 4,3%. As perguntas foram se essa perspectiva de inflação abaixo da meta abriria espaço para um percentual mais baixo.

- Vamos segurar a ansiedade - resumiu o diretor.

Outra dúvida recorrente foi sobre o impacto da crise política na economia. Viana explicou que ao Banco Central apenas compete analisar os efeitos das turbulências no campo econômico:

- Não somos analistas de conjuntura política. Não é nosso papel. Nossa preocupação é com a economia e o impacto que isso pode ter na inflação - frisou o técnico, que evitou comentar os efeitos da não aprovação da proposta de reforma trabalhista do governo na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, ou seus efeitos no mercado financeiro. - Não vejo a necessidade de atualizações de alta frequência.

PIB: ESTIMATIVA MANTIDA EM 0,5%

Viana reforçou que o Copom não se compromete com os próximos passos da política de controle da inflação. Contou que, na última ata, teve de indicar um corte de 0,75 ponto percentual na Selic (hoje em 10,25% ao ano) porque parte do mercado estava com uma projeção de baixa de 0,5 ponto percentual. No entanto, ele deixou claro que esse é o cenário com que os diretores trabalhavam naquele momento: - Em nenhum momento nós nos comprometemos com decisões futuras.

A autoridade monetária manteve a projeção de crescimento para este ano em 0,5%. E esclareceu que, se os resultados favoráveis de indicadores de atividade relativos aos primeiros cinco meses do ano fossem mantidos ao longo do ano, levariam a uma revisão de alta na projeção do Produto Interno Bruto (PIB) anual. O BC resolveu ser cauteloso por causa da crise política.



O Globo, Gabriela Valente 23/jun