O combalido mercado imobiliário não vê a hora de a crise passar. Primeiro a tomar o baque e último a se recuperar, o setor vem amargando prejuízos e postergando seus lançamentos. Ruim para as empresas, melhor para o consumidor. Para Claudio Hermolin, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), é hora de investir, pois os preços devem subir até o final do ano. Confira a entrevista.
O GLOBO - Como você analisa o primeiro semestre do mercado imobiliário? Quais expectativas para os próximos meses?
CLAUDIO HERMOLIN - O setor tem vivido um momento difícil. Porém, com feirões, ações estratégicas e promoções, as empresas têm conseguido reduzir estoques. Para retomarmos o ritmo de lançamentos, é preciso zerar as unidades em estoque e ter segurança jurídica para encarar novos empreendimentos. Enfrentamos os danos causados pelos distratos. Em todo país, no acumulado dos últimos 12 meses, os cancelamentos nas vendas corresponderam a 50,9% das vendas no período, com prejuízo de mais de um bilhão de reais.
O mercado voltou a lançar em 2017?
Não houve ainda uma retomada do mercado. As empresas estão observando o melhor momento para lançar. O segundo semestre vai ser um período de decisões. Construtoras com perfil voltado para projetos do Minha Casa Minha Vida têm obtido um bom resultado nas vendas, mesmo em ano de crise.
Acredita que pelo déficit de moradia no país ainda será um setor que vai tem bons resultados?
A demanda existe e é grande. Por ser um compromisso de longo prazo, que compromete boa parte da renda, o consumidor, naturalmente, encara a decisão com muita cautela. Principalmente num período de incertezas políticas e econômicas como o que estamos vivendo. Mas, quando percebe uma boa oportunidade, o comprador vai em frente, agarra o sonho da casa própria. E o mercado tem oferecido excelentes oportunidades em todas as tipologias, mas, em especial, para os segmentos de renda mais baixa.
A redução dos juros do Copom e do financiamento da Caixa e de outros bancos privados (Itaú e Santander reduziram suas taxas) podem ajudar o mercado?
Sim, podem. Mas não será apenas a queda dos juros que resultará em reação da construção civil. É preciso que haja uma conjunção de fatores positivos: aumento da confiança de empresários e compradores, queda nos juros para as negociações imobiliárias, aumento na oferta de financiamentos e segurança jurídica.
Alguns especialistas dizem que o mercado chegou "ao fundo do poço". Concorda com a afirmativa?
Chegamos a um limite perigoso, em que a demora na tomada de decisão por parte do governo e dos congressistas pode trazer o caos ao setor. A construção civil é um dos setores mais estratégicos e vitais para saúde econômica deste país, gerador de mão de obra e importante para o PIB nacional. Temos um peso que não pode ser ignorado.
Para o consumidor, este é o momento de comprar imóveis? Com preço mais baixo? Acredita na retomada de preços ainda este ano?
Sim, há uma excelente oportunidade para o consumidor fazer negócio em diferentes segmentos. É o momento de negociar, de aproveitar a queda nos preços. Acredito que os preços vão começar a subir já no fim deste ano. É o ajuste natural do mercado. Se a economia se estabiliza, o setor também volta a crescer.
Alguns apostam no fim dos grandes condomínios depois da venda do estoque atual. Concorda?
Os grandes condomínios, com seus complexos de lazer e segurança, vieram para ficar. Agora, o que está acontecendo no mercado é um retrato da própria sociedade. O setor imobiliário não pode apostar mais em uma única tipologia, atender a um único segmento. Temos uma sociedade plural, com diferentes necessidades e poder aquisitivo. Então, a construtora que quiser se manter forte terá que se adaptar a diferentes tipos de público: famílias, em suas diferentes formações, solteiros, idosos, casais sem filhos etc.