terça-feira, 4 de julho de 2017

Mercado financeiro já espera inflação menor nos próximos anos


A sinalização dada pela equipe econômica de que há a intenção de fazer com que o país tenha inflação ainda mais baixa a longo prazo surtiu efeito. Os analistas do mercado financeiro já ajustaram as previsões para os próximos anos. O anúncio do Conselho Monetário Nacional (CMN) de que criou metas para três anos à frente - com números ainda mais baixos que os atuais - foi suficiente para ancorar as expectativas dos especialistas.

Na semana passada, o CMN fixou metas de inflação de 4,25% para 2019 e de 4% para 2020. Para 2018, a meta está mantida em 4,5%.

De acordo com o boletim Focus, pesquisa feita pelo Banco Central (BC) com instituições financeiras, a projeção para a inflação para 2020 caiu de 4,25% para 4%, como prevê o CMN. Essa é a mesma expectativa para 2021, que, até a semana passada, era de 4,25%.

Essa ancoragem rápida tem um motivo, segundo economistas ouvidos pelo GLOBO: a credibilidade da equipe econômica. A dúvida, agora, é se a linha de política econômica será mantida depois das eleições de 2018.

- Agora, tudo depende da próxima gestão - frisou o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas.

A inflação, que foi um grande problema econômico nos últimos anos, já não incomoda, devido à recessão e à mudança de equipe econômica no ano passado. As perspectivas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são cada vez menores. Para este ano, a aposta caiu pela quinta semana seguida e está em 3,46%. Para o ano que vem, mesmo com a manutenção da meta em 4,5%, a previsão está em 4,25%. Os economistas avaliam que não dá mais tempo de cortar os juros tão rapidamente para mirar o centro do alvo.

Com isso, os analistas diminuíram a projeção para os juros no fim de 2018. A aposta para a taxa básica (Selic) caiu de 8,5% para 8,25% ao ano.

Para 2019, a estimativa ficou na meta de 4,25%. Essa é mais uma mostra, segundo o mercado financeiro, da credibilidade da equipe econômica. Ela é contraponto da atual crise política e da possibilidade de abertura de processo contra o presidente Michel Temer. 

PRISÃO DE GEDDEL AFETA MERCADO

Renato Nobile, economista-chefe da Bullmark Financial Group, avalia que o fato de o campo político atrapalhar o andamento das reformas estruturais do país não influencia as expectativas para a inflação, porque o cenário é benigno. No entanto, ainda é cedo para garantir o controle inflacionário no longo prazo, diz ele:

- Para o mercado financeiro, incerteza é um horror.

O resultado do Focus chegou a pesar nos mercados pela manhã, mas o movimento se inverteu com os investidores concentrando as atenções no cenário político, visto como menos pessimista para Temer, e principalmente para o andamento das reformas econômicas. Isso fez o dólar comercial cair e também contribuiu para um dia de ganhos no mercado acionário local. A moeda americana recuou 0,24% ante o real, cotada a R$ 3,306 - na mínima do pregão, chegou a R$ 3,2950. Já o Ibovespa, principal índice de ações da B3 (ex-BM&FBovespa e Cetip), subiu 0,60%, aos 63.279 pontos.

- O mercado percebe um fortalecimento de Temer com a decisão do STF em relação a Aécio Neves, que é favorável à permanência do PSBD na base do governo. O mercado prefere um presidente impopular, mas reformista e com uma equipe econômica de qualidade, a um novo governo - disse Cleber Alessie, operador da corretora H.Commcor.

No entanto, a prisão do exministro Geddel Vieira Lima, que ocorreu meia hora antes do fechamento, ajudou o dólar a se distanciar dos patamares mínimos do pregão, segundo Guilherme França Equelbek, analista da Correparti Corretora de Câmbio:

- Meia hora antes do encerramento da sessão regular, a notícia de que Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer, foi preso pela Polícia Federal, dentro da operação Cui Bono, acabou fazendo preço, ajudando o dólar comercial a fechar menos desvalorizado.

Hoje, o mercado americano não opera devido ao feriado do Dia da Independência, o que deve reduzir o volume dos negócios globalmente.



O Globo, Gabriela Valente e Ana Paula Ribeiro, 04/jul