quarta-feira, 30 de maio de 2018
Desemprego recua a 12,9% em abril, aponta IBGE
O mercado de trabalho permanece ancorado em empregos sem carteira, mas teve leve melhora no trimestre encerrado em abril. Depois de dois anos de queda, o número de pessoas empregadas voltou a crescer, e o de desempregados caiu, após três anos seguidos de alta, sempre considerando o mesmo período de anos anteriores. Assim, a taxa de desemprego, medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, ficou em 12,9%, contra 13,6% em igual período de 2017. Analistas ouvidos pela Bloomberg projetavam taxa de 13%.
O número de desempregados caiu para 13,4 milhões, ante 14 milhões um ano atrás. Nessa comparação, no entanto, o emprego com carteira já cai há cinco anos seguidos. Foram 32,7 milhões, queda de 1,7% tanto em relação ao trimestre anterior quanto frente a igual período de 2017.
Já os trabalhadores sem carteira de trabalho foram 10,9 milhões de pessoas, estável frente ao trimestre anterior e alta de 6,3% em relação ao mesmo período de 2017 (mais 647 mil pessoas). A categoria dos trabalhadores por conta própria, estimada em 23 milhões de pessoas, teve alta de 3,4% (mais 747 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria Integrada, observa que o crescimento da ocupação está desacelerando e mais pessoas estão indo para a inatividade, por conta da economia que patina e desestimula a procura ou tira as esperanças de conseguir uma vaga:
- O grupo de ocupados segue crescendo todos os meses, mas essa alta é menor a cada mês. O mesmo ocorre com a força de trabalho, que cresce, mas cada vez menos. Isso significa que tem mais pessoas fora do mercado, o que ajuda a aliviar a taxa.
A população ocupada foi estimada em 90,7 milhões no trimestre encerrado em abril. Em relação ao mesmo período do ano anterior, quando havia 89,2 milhões de pessoas ocupadas, houve alta de 1,5 milhão de trabalhadores nesse grupo.
Já Tiago Barreira, economista e consultor do Ibre/FGV, diz que os dados mostram uma retomada da tendência de melhora, ainda que gradual:
- Voltamos à normalidade para um período de saída de recessão.
OIT COLOCA BRASIL EM LISTA SUJA
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) incluiu ontem o Brasil na lista suja de 24 nações acusadas de descumprir normas internacionais de proteção dos trabalhadores. Um dos pontos questionados pela OIT é a priorização do negociado sobre o legislado, prevista na reforma trabalhista.
Essa decisão foi tomada após denúncias do Ministério Público do Trabalho e dos sindicatos contra a reforma. Agora, um comitê da OIT analisará possíveis violações de convenções internacionais ratificadas pelo governo brasileiro.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a inclusão não tem fundamento e ressaltou que a reforma trabalhista busca fomentar o diálogo entre empresas e empregados.
O Globo, Daiane Costa, 30/mai
terça-feira, 29 de maio de 2018
Os imóveis que você consegue financiar de acordo com a sua renda
A queda da taxa de juros nos bancos aumentou o valor máximo do imóvel que o brasileiro pode financiar de acordo com sua renda. Pesquisa do Canal do Crédito, realizada a pedido do site EXAME mostra que o poder de compra do mutuário aumentou até 20% desde o início de 2017.
De acordo com o estudo, quem tem uma renda familiar mensal de 8 mil reais, por exemplo, consegue atualmente obter crédito para comprar um imóvel de até 345 mil reais nos principais bancos que atuam na concessão de crédito imobiliário. Em janeiro do ano passado, famílias com a mesma renda conseguiam obter até 300 mil reais para financiar a compra do imóvel, valor 15% menor.
O poder de compra subiu mais em faixas de renda maiores, de 30 mil reais e 40 mil reais. Uma família com renda familiar de 30 mil reais poderia financiar, no início de 2017, um imóvel de até 1,03 milhão de reais. Agora, o valor subiu para 1,24 milhão de reais, uma diferença de 20%. Já uma família que ganha 40 mil reais por mês pode agora financiar um imóvel de até 1,65 milhão de reais, enquanto no ano passado podia financiar um imóvel de até 1,38 milhão de reais.
O levantamento do site que compara custos de financiamentos mostra o valor máximo do imóvel que o comprador consegue financiar atualmente de acordo com a sua renda familiar. Para isso, foram consideradas dez faixas de renda, que variam de 3 mil reais a 40 mil reais. A pesquisa foi feita com base nas condições de financiamentos dos cinco principais bancos: Caixa, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander.
A taxa básica de juros (Selic) caiu 6,5 ponto porcentual desde o início de 2017, passando de 13% ao ano para 6,5% ao ano. A queda dos juros diminui o valor das prestações e permite que a compra de imóveis mais caros passe a caber no orçamento de uma família que manteve a mesma renda registrada em janeiro do ano passado, já que os bancos não permitem que as parcelas superem 30% da renda do tomador do crédito. Saiba mais: Investir ou comprar imóvel? Descubra com o Banco Sofisa Direto a melhor opção para você Patrocinado
A Caixa diminuiu as taxas cobradas em financiamentos imobiliários em abril. O banco público não cortava os juros desde novembro de 2016. Seus concorrentes, Bradesco e Santander, já haviam anunciado reduções mesmo antes do ciclo de queda mais forte da Selic, enquanto Itaú e Banco do Brasil anunciaram recentemente.
Atualmente, a taxa média de juros cobrada nas quatro instituições financeiras é de 8,94% no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que financia imóveis com valor de até 800 mil reais em todo país, exceto Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, onde o limite é de 950 mil reais. Em janeiro do ano passado, a taxa média de juros cobrada pelos bancos no SFH era de 11%.
No caso de imóveis com valores superiores, que se enquadram no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), a taxa média efetiva de juros passou de 12,25% ao ano para 9,56% ao ano no período.
O levantamento considera o financiamento de imóveis usados pelo sistema de amortização SAC, no qual os valores das parcelas da dívida são decrescentes. O valor de entrada necessário simulado foi de 30%, valor mínimo exigido pelos bancos para o financiamento. Foi utilizado ainda um prazo de financiamento de 35 anos, período máximo no qual os bancos financiam o imóvel.
A simulação incluiu os custos dos seguros obrigatórios - Morte e Invalidez Permanente (MIP) e Danos Físicos ao Imóvel (DFI) - e realizou a cotação dos preços na Caixa Seguradora, para um comprador que tenha 40 anos de idade .
O estudo levou em conta as taxas balcão, que são apresentadas a clientes que não têm relacionamento prévio com a instituição financeira. Caso o cliente já seja correntista do banco os juros cobrados podem ser menores.
A pesquisa considerou a renda familiar bruta porque esse é o parâmetro utilizado pela maioria dos bancos para liberação do financiamento. Uma família composta por duas pessoas, por exemplo, que ganhe 5 mil reais por mês cada, tem uma renda familiar de 10 mil reais caso ambas participem do financiamento.
Em alguns bancos, como o Itaú, o parâmetro para liberação do financiamento pode considerar a renda líquida. Ou seja, o valor da prestação terá de corresponder a 30% da renda já líquida de impostos e eventuais descontos de salário no caso de trabalhadores formais, por exemplo. Ou seja, o valor máximo financiado pode ser ainda menor e, consequentemente, o valor de entrada exigido pode ser maior.
O levantamento é apenas um indicador, já que os bancos podem emprestar uma quantia menor ou até negar a concessão do crédito para a compra do imóvel caso a família seja composta por trabalhadores informais ou alguns dos membros da família esteja inadimplente, já que o risco do empréstimo fica maior.
É importante ressaltar que esse é o valor mínimo que cada faixa de renda pode financiar, já que considera que o mutuário dê apenas 30% do valor do imóvel como entrada do financiamento. Quem pode dar como entrada um valor maior conseguirá, proporcionalmente, financiar um imóvel mais caro.
Fique atento - Quem busca boas oportunidades de compra deve oferecer o maior valor de entrada possível para diminuir o custo do financiamento. Quanto mais alto o valor, mais baixos serão os juros pagos pelo comprador.
Não é indicado utilizar toda a poupança para a compra do imóvel. O comprador deve ter uma reserva financeira para situações imprevistas, como uma eventual perda do emprego, que pode comprometer o pagamento da dívida.
Exame online, Marília Almeida, 29/mai
segunda-feira, 28 de maio de 2018
Itaú reduz taxa de juros para imóvel
O Banco Itaú reduziu as taxas de financiamento imobiliário. Para imóveis enquadrados no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), a nova taxa será a partir de 8,8% a.a., além da Taxa Referencial (TR). Já no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), a nova taxa será a partir de 9,3% a.a. mais TR.
As taxas variam dependendo do perfil do cliente e do seu relacionamento com o banco, já que a taxa de financiamento no Itaú Unibanco é personalizada há mais de sete anos. Para contratar o crédito imobiliário do banco com taxas competitivas, não é necessário adquirir outros produtos.
"Com o aumento da confiança dos consumidores, estamos percebendo uma retomada do mercado imobiliário, o que é uma ótima notícia para o setor e para o país. Certamente, essa nova redução de taxas contribuirá para acelerar esse movimento", afirma Cristiane Magalhães, diretora do Itaú Unibanco.
O Dia, Imóveis, 27/mai
sexta-feira, 25 de maio de 2018
Sinal dos tempos
O coliving, tendência de se compartilhar espaços como a cozinha numa mesma moradia, será o hit da Casa Cor 2018, na Glória.
O Globo, Marina Caruso, 25/mai
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Fundo para garantir aluguel não decola
Previsto numa instrução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de 2006, o uso de fundos de investimento para garantia locatícia (pagamento do aluguel em caso de inadimplência do inquilino) ainda está longe de se popularizar no país. A autarquia responsável pela fiscalização do mercado de capitais confirma a existência de três fundos do gênero. Um deles entrou em operação em janeiro, outro está em fase pré-operacional e um terceiro está sendo encerrado sem nem ao menos ter sido lançado.
Valor Econômico, Rodrigo Carro, 24/mai
quarta-feira, 23 de maio de 2018
Para reduzir o déficit da mobilidade urbana
O anseio por melhorias de locomoção nas cidades é frequentemente respondido com construção de vias expressas, alargamento de ruas e asfaltamento. Porém, estudos mostram que tais investimentos estimulam o uso cada vez maior de carros e motos, principais responsáveis pelo aumento de acidentes, poluição, custos e congestionamentos. Para combater tal contradição, a Política Nacional de Mobilidade Urbana definiu como diretriz a priorização dos serviços de Transporte Público Coletivo (TPC) sobre o transporte individual motorizado.
Viabilizar esse setor não é trivial. A receita tarifária não cobre o custo do negócio, cuja existência só se justifica - aqui e em todo o mundo - pelos benefícios sociais, econômicos e ambientais. No Brasil, tenta-se superar isso com reajustes tarifários e subsídio público, o que esbarra na opinião pública e em restrições fiscais. E, sem recursos, compromete-se a qualidade do serviço e postergam-se investimentos. Em 2015, o BNDES estimou um déficit de 1.633 kms de sistemas sobre trilhos e BRTs, ou R$ 234 bilhões. Cifras impressionantes, mas não inalcançáveis.
A boa notícia é que há margem para redução de custos operacionais mediante diminuição de ineficiências e riscos econômico-financeiros. E, mesmo sem revisão de tarifa, há potencial de incremento da receita via aumento da demanda atendida. A má notícia é que ainda serão necessários recursos externos à operação, que não convém mais dependerem do orçamento público. Para auxiliar o enfrentamento da questão, o BNDES elaborou 10 medidas com impacto direto na viabilidade do TPC, divididas em 3 eixos. Eixo de aumento de receitas:
1) evitar competição entre modos de TPC;
2) desestimular o uso isolado de carros e motos;
3) melhorar a infraestrutura para pedestres e bicicletas e integrá-la ao TPC; e
4) elaborar políticas de uso do solo que promovam adensamento e diversificação de atividades em torno das estações de TPC em todas as áreas da cidade. Eixo de redução de custos e riscos associados:
5) planejar o sistema de transporte de forma integrada;
6) racionalizar a escolha das tecnologias a implantar;
7) otimizar a estrutura de custos de operação;
8) instituir agência reguladora técnica e independente; e
9) manter um corpo funcional qualificado na administração pública.
Eixo de diminuição da dependência do orçamento público, hoje utilizado para cobrir custos de construção e operação:
10) criar fontes de recursos estáveis e exclusivas que também desencorajem o uso de carros e motos, como taxação de combustíveis, cobrança por congestionamentos e pagamento por estacionamentos.
Assim, o gestor facilita a obtenção de apoio consultivo e financeiro para estruturar e implementar seus projetos. O BNDES, o Ministério das Cidades e a Cooperação Financeira Alemã via KfW lançaram recentemente o Guia TPC para seleção de tecnologias e implementação de projetos, que aborda essas medidas.
Luciene Machado é superintendente de Saneamento e Transporte do BNDES
O Globo, Opinião, Luciene Machado, 23/mai
terça-feira, 22 de maio de 2018
Mac Dowell: um extraordinário carioca
Hoje, o Rio amanheceu triste. Nos últimos minutos de ontem, a morte nos deixou imenso pesar quando arrebatou o amigo, o servidor do povo, o carioca genuíno, honesto, humilde e modesto, cuja alma fraterna conquistou admiradores. A inteligência rara, com fulgor, o colocou na aristocracia da engenharia nacional.
Seria fastidioso descrever as suas monumentais realizações como engenheiro, professor, projetista, homem público e notório consultor da iniciativa privada, até porque elas já se encontram guardadas com letras de ouro e de maneira indelével na gratidão do povo carioca.
Mas seria uma omissão imperdoável não mencionar a sua luta ingente no planejamento e na implantação da modernização do transporte de massa em nossa cidade, especialmente as linhas 1 e 2 do Metrô.
Todos podem imaginar o que representa em volume de obra e o que requer de soluções técnicas, inéditas e criativas, a construção de imensas galerias subterrâneas em uma cidade altamente urbanizada e que não pode parar, para tornar realidade um complexo sistema como o nosso, no qual milhões de passageiros viajam com segurança em trens velozes e modernos.
Sem falar nas controvérsias costumeiras das obras públicas. Muitas vezes, forças vigorosas tentam impor interesses privados, em prejuízo do público, como inúmeras vezes noticiado, lançando mão de ameaças e chantagens - mas que nele sempre encontraram a muralha intransponível das suas convicções morais.
Lutou e sofreu muito para construí-lo. Foi uma epopeia, uma batalha sem tréguas, uma travessia desassombrada por um terreno minado que a outro teria desanimado, menos a ele, que possuía a fibra de um gladiador.
As linhas 1 e 2 do Metrô do Rio foram no passado o seu desafio; hoje são a sua realização e, para sempre, serão o marco de sua capacidade intelectual e moral.
Foi tão notório o volume de sua obra no Metrô do Rio que essa façanha o projetou nacional e internacionalmente. Ele foi convidado a prestar serviços e elaborou estudos para a rede de transporte e fluidez no trânsito em várias cidades do Brasil e em outros países, como Uruguai, Bolívia, Paraguai e Peru.
Era um dos especialistas em transportes mais respeitados do país, com extenso currículo acadêmico: doutor em Engenharia de Transportes pela UFRJ; professor titular do IME; orientador de teses de mestrado e doutorado no IME e na Coppe e rapporteur (relator) de teses de doutorado no Institute des Ponts et Chaussées da Universidade de Paris são alguns dos títulos que demonstram sua expertise.
Quando o convidei para compor a chapa, e juntos vencemos a última eleição, tive a imensa honra de conviver com sua amizade sincera, suas ponderações justas, seu trabalho devotado à terra que o viu nascer, em Copacabana, e a qual ele amou, engrandeceu e serviu por toda a sua vida.
Por onde andarmos em nossa cidade - nestes dias difíceis de violência e corrupção, que a todos entristece, humilha e envergonha -, seja na imensidão dos trilhos do Metrô, seja na Autoestrada Lagoa-Barra, seja na Linha Amarela, haveremos de lembrar-nos do Fernando Mac Dowell que nelas colocou a nobreza do seu caráter à disposição de todos. Não há um só registro de uma atitude violenta ou um escândalo de corrupção que manche sua biografia exemplar.
À frente da Secretaria Municipal de Transporte e depois presidindo o Conselho Consultivo Autoridade da Mobilidade e dos Transportes do Município do Rio de Janeiro foi incansável na elaboração das soluções pacíficas para as mais duras controvérsias envolvendo ônibus, táxis, vans e aplicativos, em momento de grave crise econômica e anômico desemprego, o que impunha conter as tarifas públicas. Ele o fez com a coragem de quem na vida nada temia e nada devia, sempre priorizando o sagrado interesse do povo.
Ele foi um extraordinário carioca que soube cumprir com grandeza a sua missão. Dignificou, honrou e fortaleceu as tradições morais e de caráter da nossa gente humilde e valente. Não traiu jamais as tradições de moralidade que nos legaram o exemplo de tantos heróis que aqui nasceram e cujas vidas tiveram nele um reflexo à altura de sua grandeza.
É assim que com admiração, respeito, gratidão e o apreço de todos nós, o vimos subir os degraus do Panteon dos Nobres de nossa amada cidade do Rio de Janeiro, onde ficará para sempre velado pela nossa gratidão e a reverência de todos os que hoje andam pelas avenidas e pelos trens que ele, com sua inteligência, criatividade, honestidade e competência nos legou para sempre.
Que Deus o tenha. Que Deus console sua querida família, onde ele também demonstrava seu excepcional caráter de pai e esposo.
Marcelo Crivella é prefeito do Rio de Janeiro
O Dia, Opinião, Marcelo Crivella, 22/mai
segunda-feira, 21 de maio de 2018
Apostar no Rio de Janeiro
Grandes desastres geram às vezes grandes mudanças. O sofrimento excessivo desperta energias transformadoras. Seremos nós capazes de algo assim? Mirar para além dos lamentos e das acusações neste lamaçal infeliz em que nos metemos?
Aposto que, apesar da confusão reinante, uma grande aliança pode se formar nos próximos meses para perseguir objetivos de interesse comum. Melhor dizendo, aposto em alianças, no plural, que se ampliam e se restringem, conforme o assunto e a região. Para começar, sugiro quatro temas que poderiam ser objeto dessas concertações.
Enfrentar a guerra que nos destrói. Estamos em guerra. Não a guerra convencional, entre Estados e exércitos, mas uma guerra pós-moderna, que escapa ao padrão anterior. De um lado, temos o Estado, com suas forças, e de outro estão atores não estatais que se misturam pelos territórios. Guerras assim assumem diferentes perfis, com terroristas, guerrilheiros ou narcotraficantes, que navegam com desenvoltura pelos mercados ilícitos. Essas guerras são de longa duração, como se vê no Afeganistão, na Colômbia ou no Rio de Janeiro. Fala-se delas como uma "guerra irregular", que exige novas estratégias. Segundo especialistas militares, o confronto armado não é decisivo neste tipo de conflito. As batalhas se repetem, em baixa intensidade e alto sofrimento, mas não levam a uma solução. As forças da lei vencem batalhas, mas não ganham a guerra. De fato, a tática decisiva é isolar os poderes paralelos das comunidades em que se criam. Isto implica trabalho social específico. E mais, sem o respeito às populações onde os poderes paralelos se acham, não há como isolá-los e derrotá-los. Por outro lado, novas formas de cooperação entre as Forças Armadas e as polícias precisam ser desenhadas, para além dos termos da Constituição de 1988. Temos alguns meses para encontrar formas de continuidade da intervenção federal na segurança do Rio que se ajustem aos termos de uma guerra irregular. Encontrar formas de cooperação entre Forças Armadas e polícias que não repitam o modelo autoritário dos anos 70, nem caiam nas limitações das Garantias da Lei e da Ordem.
Reduzir as desigualdades, fonte maior das injustiças que semeiam o rancor. Isto exige programas de inclusão urbanística das favelas e periferias. Racionalizar a mobilidade urbana e intermunicipal. Revolucionar a educação básica, que sofre condições lamentáveis. Chegar junto da juventude que está fora da escola e do trabalho lícito. As intervenções com os "nem nem" são baratas e eficazes. São ações indispensáveis para paulatinamente esvaziar o criadouro dos soldados do crime.
Retomar o crescimento econômico, pois fica difícil reduzir desigualdades quando mergulhados em depressão. Inteligência não falta. A Firjan, a FGV e outros centros têm os planos desenhados. Tudo indica que a indústria do petróleo ganha novo alento. A indústria do turismo pode brilhar de Paraty a Campos de Goytacazes, nas Serras e nos parques. O turismo carece sobretudo de uma política de segurança especializada, o que é viável, a curto prazo. A indústria criativa é outra vocação que nos devolve o desejo do futuro. Restaurar a autoridade do Estado e de seus servidores. O Estado desmoralizado não encara esta guerra, não reduz as desigualdades, não promove o crescimento. O desequilíbrio fiscal e a crise da Previdência agravam a situação.
Recuperar o Estado exige múltiplas terapias. A inteligência também existe, mas a opinião pública é defensiva. Falta ganhar os amantes dos bens públicos para que se engajem na salvação do nosso estado.
Que o debate eleitoral não nos arraste de volta ao teatro de horrores. Que o debate nos ajude a produzir ao menos consensos parciais, que abram caminhos.
Rubem César Fernandes é antropólogo
O Globo, Opinião, Rubem César Fernandes, 21/mai
sexta-feira, 18 de maio de 2018
Desemprego no Rio sobe a 15%, a maior taxa no Sudeste
Na contramão da maioria dos estados, no Rio de Janeiro a taxa de desemprego não cedeu no primeiro trimestre de 2018. A alta foi de 0,5 ponto percentual, para 15%, em relação ao mesmo período do ano passado. O percentual é o maior para a Região Sudeste e acima da média nacional, de 13,1%. Além do Rio, apenas em outras seis unidades da federação houve avanço no desemprego nessa comparação: Rondônia, Amapá, Maranhão, Piauí, Pernambuco e Sergipe.
O grupo de trabalhadores com carteira assinada no Rio nunca foi tão pequeno: somente 2,8 milhões de pessoas contavam com a proteção das leis trabalhistas. Também foi onde mais cresceu o número de desempregados (143%) nos últimos quatro anos: mais 758 mil pessoas, totalizando 1,28 milhão sem emprego. Os dados são da Pnad Contínua, divulgada ontem pelo IBGE.
FALTA DE PLANEJAMENTO
Além das questões locais, como a crise na indústria naval, na Petrobras e nas contas públicas do governo, pesa sobre essa demora na melhora do mercado de trabalho o fato de o estado ter mergulhado na recessão ao menos dois anos depois da maior parte do restante do país, apontam analistas. Para o economistas da UFF Leonardo Marco Muls, também pesa um componente histórico sobre esse desempenho dos indicadores de emprego:
- Estados como Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, onde as taxas já cedem, tiveram, há 40 anos, um planejamento regional para diversificar a economia e descentralizá-la para o interior. O Rio, desde que deixou de ser capital do país, vive deitado em berço esplêndido, do ufanismo que renasceu com Copa do Mundo e as Olimpíadas, e da ideia de que não precisa fazer esforço para atrair turistas. Não dá para viver sem planejamento.
A subutilização da força de trabalho - conceito que inclui desempregados, pessoas que gostariam de trabalhar mais e aqueles que até queriam uma vaga, mas por alguma razão não procuravam ou buscavam, mas não estavam disponíveis para trabalhar - também explodiu no estado nos últimos quatro anos: a alta foi de 124%, a maior entre todas as unidades da federação.
O Estado do Rio, porém, tem a menor taxa de desalento do país, de 0,8% da força de trabalho no primeiro trimestre do ano. Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimentos do IBGE, o estado teve esse desempenho em razão do carnaval e da temporada de verão.
Apesar disso, em números absolutos o contingente que desistiu de procurar trabalho somou 71 mil pessoas - mil a mais do que no primeiro trimestre do ano passado e permanece como o terceiro maior contingente desde o início da série histórica da pesquisa do IBGE, em 2012. O nível mais baixo foi atingido no quarto trimestre de 2014, quando apenas 12 mil pessoas estavam desalentadas no estado. O desalentado é aquele que queria trabalhar, mas deixa de buscar vaga por avaliar que não vai conseguir.
O Globo, Daiane Costa, 18/mai
quinta-feira, 17 de maio de 2018
Novo paradigma
O Rio foi a primeira cidade do mundo a receber da Unesco o título de paisagem cultural urbana. Agora, pode se tornar a primeira "Capital Mundial da Arquitetura". Isso representará um olhar mundial sobre nosso patrimônio arquitetônico e experiência no campo da habitação popular. A defesa dessa honraria acontecerá de hoje a sábado, no México. A indicação está atrelada ao 27º Congresso Internacional de Arquitetura, que vamos sediar em 2020. A expectativa é que mais de 15 mil arquitetos e urbanistas dos quatro cantos do planeta venham discutir os rumos da arquitetura no século XXI.
A cidade já se especializou em sediar grandes eventos. E, se há algo que a experiência nos ensina, é que, mais do que causar uma boa impressão aos visitantes, é fundamental que se deixe um legado permanente para os cariocas. Eventos como este são capazes de mudar os paradigmas do planejamento urbano e da arquitetura de uma cidade.
Alguns exemplos são fáceis de lembrar. A cidade passou recentemente por obras para a Copa e as Olimpíadas. Mas estes não foram os primeiros casos em que transformações urbanísticas aconteceram em decorrência de um grande evento internacional.
Em 1908, o Rio sediou a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil. Além de celebrar o comércio e o desenvolvimento do país, o objetivo era apresentar a nova capital da República, urbanizada pelo prefeito Pereira Passos, às autoridades nacionais e estrangeiras. A cidade ganhou edifícios emblemáticos, como o Pavilhão dos Estados, que hoje abriga a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. O evento foi decisivo para o desenvolvimento da Urca e a expansão de bairros cariocas sobre a orla atlântica.
Em 1922, voltamos a receber o mundo na Exposição Internacional do Centenário da Independência, a maior já realizada no Brasil. O Morro do Castelo, visto como um empecilho para o desenvolvimento do Centro, foi demolido para dar lugar à construção dos pavilhões e palácios nacionais e estrangeiros. Na ocasião foram construídos prédios que hoje são símbolos arquitetônicos da cidade, como o do Museu da Imagem e do Som e o do Museu Histórico Nacional.
Em 1950, o Maracanã é construído para a Copa, e novamente o planeta se volta para nós. Mas o legado pode ser mais do que material. Um exemplo aconteceu com a RIO-92, onde a ecologia ganha atenção. O protagonismo do Parque do Flamengo no Fórum Global realça os componentes da ecologia urbana e da sustentabilidade. O uso da bicicleta é incentivado, e o resultado é a criação das primeiras ciclovias. Essa pequena transformação nos leva a sediar, em junho, o Velocity - um dos maiores eventos de mobilidade urbana e bike do planeta.
Acredito que o Congresso de 2020 trará mudança de paradigma. Uma que enxergue as questões que envolvam a arquitetura e o urbanismo na construção de uma cidade sustentável e inclusiva. Precisamos de novos debates, novos pontos de vista, novas ideias. Para isso servem os congressos. É neste ciclo que a cidade é capaz de se transformar da maneira que queremos e precisamos.
Verena Andreatta é secretária municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação do Rio
O Globo, Opinião, Verena Andreatta, 17/mai
quarta-feira, 16 de maio de 2018
FGTS terá linha para estados e municípios
Para atender ao pleito de governadores e prefeitos no ano eleitoral, o Conselho Curador do FGTS aprovou ontem a criação de uma linha especial de crédito para estados e municípios, proposta pelo governo federal. Conforme adiantado pelo GLOBO, os recursos serão usados para financiar a contrapartida que esses entes deveriam ter dado na realização de obras com recursos federais, e que atrasaram ou estão paralisadas por falta de recursos próprios.
Para este ano, o orçamento total do FGTS previsto para habitação de baixa renda (Pró-Moradia), saneamento e mobilidade urbana é de R$ 13,4 bilhões. O FGTS já financia até 95% das obras de saneamento e 80% das de habitação para baixa renda nos estados e municípios. De acordo com dados do balanço do fundo de dezembro de 2016 (mais recente), há centenas de obras com problemas em todo o país pelos mais diversos motivos, como o não pagamento da contrapartida por governos estaduais e municipais, falta de projetos, de plano de desapropriação e remoção de famílias, além de licença ambiental. Do total de 447 projetos de saneamento, 189 estavam atrasados e 258 paralisados.
Na área de mobilidade urbana, havia 81 projetos parados, no valor total de R$ 6,6 bilhões, e 237 atrasados, no montante de R$ 11,8 bilhões. No setor de habitação para famílias de baixa renda, das 105 obras, 27 estavam atrasadas e 53, paralisadas. Os problemas são concentrados nos estados de Mato Grosso, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. No Rio, são exemplos de obras em dificuldades Complexo de Manguinhos, Colônia Juliano Moreira, Complexo do Alemão, obra de recuperação da Bacia de Jacarepaguá.
MINHA CASA MINHA VIDA
O volume a ser liberado na nova linha dependerá da demanda dos estados e prefeituras a ser apresentada à Caixa Econômica Federal, agente financeiro do FGTS. A taxa de juros para o fundo foi fixada em 6% ao ano, mais Taxa Referencial (TR).
Além de dar um alívio a governadores e prefeitos, o governo federal pretende expandir o programa Minha Casa Minha Vida (na faixa 1,5, com renda de até R$ 2.600) em cem mil moradias, o que demandaria mais R$ 7 bilhões em subsídios do FGTS. Mas a proposta não foi incluída na pauta do Conselho Curador porque os técnicos envolvidos no assunto ainda estão fazendo as contas para mensurar o impacto da medida também para a União. O FGTS entra com participação de 90%, e o governo federal complementa com os 10% restantes.
O Globo, Geralda Doca, 16/mai
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