quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Diante de incertezas, Banco Central evita sinalizar próximos passos


Ao decidir manter pela terceira vez seguida, a taxa básica de juros (Selic) em 6,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou a avaliação com a qual tem trabalhado nos últimos meses: a greve dos caminhoneiros terá impactos temporários nos índices de preços. Ao divulgar ontem a ata da última reunião do Copom, o BC reafirmou, ainda, que a falta de reformas e ajustes na economia é preocupante e que os riscos no cenário externo permanecem elevados.

Para o colegiado, o cenário básico da economia contempla continuidade do processo de recuperação, porém em ritmo mais gradual do que se esperava antes dos bloqueios nas estradas. "A economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego", destaca a ata.

O comitê preferiu não sinalizar os próximos passos da política monetária, porque o cenário ainda é incerto:

- A ata veio sem grandes novidades. No comunicado, o que chamou atenção é que os membros do comitê debateram a conveniência de se falar ou não sobre os próximos passos. Isso mostra que há um quadro de incertezas -comentou Thais Zara, da Rosenberg.

Julio Cesar Barros, economista da Mongeral Aegon Investimentos, ressaltou que, embora isso não esteja explícito na ata, há uma preocupação com o cenário eleitoral. Esse fator, em sua opinião, tem sido considerado nas avaliações dos técnicos:

- Há uma eleição confusa pela frente. O quadro ainda é muito incerto.

ALTA DAS TARIFAS PÚBLICAS

A ata trouxe como novidade a revisão, para cima, das projeções para a inflação dos preços administrados - ou seja, das tarifas públicas - em 2019. Segundo o documento, em um cenário que leva em conta uma taxa de juros de 6,5% ao ano em 2018 e de 8% em 2019, com uma taxa de câmbio, para os dois períodos, de R$ 3,70, as estimativas para o reajuste de tarifas públicas como as de energia elétrica, telecomunicações e gasolina, são de 7,2% este ano e 4,8% em 2019. Na ata anterior, a estimativa para o ano que vem era de 4,6%.

- As projeções do BC sobre preços administrados são afetadas pela expectativa em relação ao câmbio. A maior parte dos preços tem como indexador o IGP-M, que é bastante sensível à variação cambial - lembrou o economista da Austin Rating Alex Agostini.



O Globo, Eliane Oliveira, 08/ago