segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Olho no bolso e na ecologia


Economia e sustentabilidade são palavras de ordem em projetos arquitetônicos contemporâneos. Neste sentido, duas tendências têm ganhado corpo: o uso da serralheria desenhada e de madeira pinus de reflorestamento. Na mostra "Morar mais por menos" deste ano - exposição que abriu na sexta-feira e vai até dia 9 de setembro, no CasaShopping - muitos profissionais optaram por usar estes materiais.

No caso da serralheria, móveis e estruturas de ferro substituem a marcenaria tradicional em peças que vão desde bancadas de banheiro até armários de cozinha e closets. Entre as vantagens enumeradas pelos arquitetos estão o design único das peças, além de se tratar de uma alternativa mais em conta: o custo é de 20% a 40% menor em relação à madeira. Para quem quer imprimir o estilo industrial, é algo imediato.

- No caso da bancada de banheiro, por exemplo, que é uma peça solta, o móvel pode ser levado em caso de mudança, sem reduzir a qualidade da peça quando ela for retirada - lembra Elaine Generoso, responsável ao lado de David Luiz pelo espaço "Sala de banho" na mostra "Morar mais por menos".

Com tantas vantagens, pode-se decretar o fim da marcenaria? Nem pensar, respondem os profissionais.

- A serralheria agrega padrões, considerando práticas mais sustentáveis, e não o fim da marcenaria. A união de serralheria e marcenaria confere sofisticação e estilo com uma pegada mais industrial, que está super em alta -considera Elaine.

A arquiteta Ju Olivetti - que ao lado de Evangelina Campos assina a "Sala multiuso carioca" -concorda. Para ela, a marcenaria e a serralheria se complementam.

- O ferro tem excelente resistência mecânica e abre a possibilidade de criar perfis mais delgados, mas essa escolha passa também pela adequação e gosto pessoal do cliente -diz Ju.

A arquiteta usa o recurso na customização de projetos como em escadas, prateleiras, painéis mobiliários, entre outros:

- A serralheria permite a leveza e delicadeza, com grande resistência mecânica. Isso é uma desvantagem da madeira em relação ao ferro, porque a madeira tem pouca resistência mecânica e acaba nos obrigando a usar peças mais parrudas, mais pesadas esteticamente - completa ela.

Ferro permite fazer peças mais baratas e com estruturas de visual mais leve

O trabalho de marcenaria, porém, atende a outras necessidades, como painéis, portas, revestimentos e o próprio mobiliário, além do tamponamento em madeira, MDF ou afins em dobradinha com o ferro.

No "Quarto da empreendedora", Millena Miranda e Beatryz Cordeiro desenvolveram a serralheria em um roupeiro e uma luminária para baratear o custo do mobiliário. Elas aconselham que os interessados em peças de ferro procurem um arquiteto ou designer, que poderá personalizar e especificar melhor o projeto. Provavelmente, esses profissionais terão um serralheiro de confiança, que entregará um produto conforme o especificado e com bom acabamento.

Se optar por fazer por conta própria, é importante encontrar um serralheiro que saiba traduzir sua ideia.

- Também existem marcas que produzem móveis prontos em serralheria, mas sem a mesma graça de uma peça exclusiva -avalia Eliane Generoso.

REFLORESTAMENTO

Para os arquitetos que preferem a marcenaria, a aposta é no pinus in natura, com destaque para os veios naturais da madeira.

- A utilização do Pinus é um retorno à marcenaria clássica onde só se utilizava madeira maciça na produção dos móveis. O uso de MDF atualmente é uma "modernidade" com prós, mas também muitos contras para os clientes exigentes -diz o decorador e cenógrafo Edgard Octavio.

Amadeira sustentável atrai arquitetos e clientes que desejam um novo tipo de relação com a natureza. Camila Saavedra e Larissa Mogilewsky, que assinam o espaço "Quarto da filha" na mostra "Morar mais por menos" , explicam que escolheram o pinus por ser baseada em manejo florestal, o que ajuda a preservação da mata nativa.

- O benefício na utilização deste tipo de madeira é a facilidade de aquisição no mercado e o fácil manuseio na produção de móveis - explicam elas, que enfatizam ainda que o valor financeiro também fala mais alto na escolha.

Ao comparar uma tábua de pinus com uma de argelim pedra (também bastante utilizada em marcenaria), a primeira custa, em média, de 40% a 50% a menos que a segunda.

-A madeira pinus é bastante macia e proveniente de reflorestamento, o que é uma vantagem para execução de projetos de marcenaria em ambientes internos - explica Laura Taquechel, que assina com Cora Mader o "Refúgio na Montanha". - É uma madeira fácil de encontrar, mas é preciso ter o cuidado de mantê-la longe do contato com a água e não utilizá-la em ambientes externos - ressalva.



O Globo, Ana Carolina Diniz, 05/ago