sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Dólar é recorde desde o Plano Real


Influenciado pelo cenário eleitoral, o dólar comercial acelerou sua valorização na tarde de ontem e bateu o recorde histórico de fechamento: R$ 4,195, uma alta de 1,11%. É a maior cotação em 24 anos, ou seja, do Plano Real. Até então, o maior valor de fechamento era de R$ 4,166, registrado em 21 de janeiro de 2016. Na máxima de ontem, a moeda chegou a ser negociada a R$ 4,20.

Nas casas de câmbio do Rio, a cotação do dólar variou entre R$ 4,31 no papel-moeda e R$ 4,63 no cartão pré-pago. As cotações já consideram o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,1% e 6,38%, respectivamente.

Enquanto o ambiente externo trouxe certo alívio com a decisão do Banco Central da Turquia de subir os juros e com a inflação americana abaixo do esperado, os investidores buscaram proteção após notícias do universo político, como a expectativa de melhora de Fernando Haddad (PT) nas pesquisas eleitorais e a nova cirurgia de emergência do líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL).

Na Bolsa, índice de referência Ibovespa caiu 0,58%, aos 74.686 pontos.

- A razão é totalmente política. Hoje, os indicadores econômicos estão perdendo a relevância, uma vez que o mercado está inteiramente focado nas eleições -disse Paulo Petrassi, gestor da Leme Investimentos. - Assim, o mercado local se descola do restante do mundo, onde o dólar perde valor frente a moedas de emergentes.

À ESPERA DA ATUAÇÃO DO BC

Segundo Petrassi, circulam informações de que os partidos políticos veem um cenário em que Haddad sobe nas pesquisas após ter seu nome confirmado como candidato do PT.

Os agentes do mercado financeiro, em sua maioria, discordam da plataforma econômica defendida pelo candidato petista e reagem negativamente a notícias que o favoreçam. Os analistas preferem candidatos que sejam mais alinhados com uma agenda de reformas econômicas.

- Rumores eleitorais pesaram mais do que qualquer fato confirmado. Isso ronda as mesas de operação, e o mercado corre para se proteger. Sobretudo porque amanhã (hoje) tem pesquisa Datafolha e é sexta-feira. Ninguém vai querer passar o fim de semana descoberto - avaliou Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Para Galhardo, a rápida alta do dólar nas últimas sessões sugere que os agentes teriam apetite para operações do BC de suavização da turbulência cambial, como leilões de swap, operação equivalente à venda de dólares no mercado futuro.

- Na última vez em que o BC atuou, o dólar havia batido R$ 4,21 durante a sessão. Isso torna possível que ele volte a atuar agora. O mercado correu para se proteger muito rapidamente, e muitas vezes os agentes não têm fundos suficientes para bancar essas posições em dólar. O que reconforta o mercado é o contrato de dólar futuro, que alivia a escassez da moeda estrangeira - disse.

O BC turco elevou a taxa básica de juros do país de 17,75% para 24% ao ano, uma medida que impulsionou a moeda local e aliviou as preocupações sobre a influência do presidente Recep Tayyip Erdogan na política monetária.

De forma geral, as moedas de países emergentes tiveram valorização. A lira turca liderou os ganhos, com alta de 4,09%, seguida pelo rand sul-africano (1,06%) e pelo rublo russo (0,98%).

VIA VAREJO TEM ALTA DE 10%

Na Bolsa, as principais ações fecharam em queda. A Petrobras perdeu 1,4% (ON, com voto, a R$ 21,85) e 1,27% (PN, sem voto, a R$ 18,71). Banco do Brasil e Bradesco tiveram desvalorização de 1,34% e 0,40%, respectivamente. Os papéis do Itaú Unibanco caíram 0,55%. Os bancos têm maior peso no Ibovespa.

Já as ações da Via Varejo saltaram 10,8%, depois de anunciar uma parceria com a AirFox Brasil, uma startup de tecnologia financeira. Isso permitirá aos clientes autenticar e digitalizar faturas, além de pagar carnês das Casas Bahia via aplicativo móvel.



O Globo, Rennan Setti e Gabriel Martins, 14/set