sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Alto padrão puxa retomada no Rio e anima construtoras


O mercado de alto padrão está puxando a recuperação do setor de construção civil na capital carioca, depois de ter atingido o fundo do poço em 2017. Construtoras que atuam no segmento estão tirando os projetos da gaveta, como no caso da Concal , que planeja lançar nove empreendimentos residenciais e comerciais no Rio nos próximos 12 meses, com um valor geral de vendas (VGV) estimado em mais de R$ 900 milhões.

Um dos lançamentos deste ano será no terreno onde funcionava o tradicional restaurante Antiquarius, frequentado pelo ex-governador Sérgio Cabral, no Leblon. O prédio, localizado a alguns metros da praia na rua Aristides Espíndola, tem um VGV de R$ 58,5 milhões. Para dar início à construção de um prédio de seis andares, teve que brigar na Justiça para destombar o imóvel. Em 2011, o então prefeito Eduardo Paes tornou o restaurante um bem tombado pela "excelência na gastronomia" e por ser ponto de encontro de políticos, artistas e intelectuais.

"Compramos o Antiquarius e demolimos. Das seis unidades já vendemos cinco", disse o fundador e presidente da Concal, José Conde Caldas, citando o pré-lançamento do imóvel. Segundo o executivo, que comanda a empresa ao lado dos filhos, há demanda por imóveis novos de alto padrão.

A briga na Justiça pelo destombamento do restaurante durou cinco anos. "Tombaram as panelas do Antiquarius. Para você ver como era a intervenção política. Ganhamos em primeira e segunda instância ", diz o vice-presidente da empresa, Rodrigo Conde Caldas.

De acordo com a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-Rio), a partir do último trimestre de 2018 e em 2019, os sinais de recuperação no mercado carioca ocorrem no segmento acima de R$ 1,5 milhão. "Essa camada da população já tinha recursos para fazer um investimento imobiliário, mas não tinha coragem de fazer o investimento", diz o presidente da entidade, Claudio Hermolin. A Ademi estima um crescimento de 50% das vendas e dos lançamentos no Rio neste ano.

No auge do mercado carioca, entre 2010 e 2013, a média anual de lançamentos foi de R$ 10 bilhões. Em 2019, deve chegar a R$ 3 bilhões, ante R$ 2,1 bilhões em 2018 e R$ 1,5 bilhão em 2017, estima Hermolin. "O mercado saudável deve ficar entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões", afirma. Hoje, o metro quadrado médio no Rio é de R$ 9.364, segundo o índice FipeZap. No Leblon, o preço sobe para R$ 20.366.

Além do prédio onde funcionava o Antiquarius, a empresa tem mais outros dois lançamentos previstos para o Leblon, incluindo um edifício só com studios de 40 metros quadrados. 

Trata-se de uma novidade na história recente do Rio, que passou a ser permitida após mudança na legislação, para uma área útil média de 35 metros quadrados. A média anterior era de 50 metros quadrados.

"O Rio recebe muitos executivos e as pessoas têm apartamentos no Rio como lazer. E há uma mudança de comportamento de fato, temos metrô até a Barra, as pessoas não têm mais carro", diz o diretor de planejamento e arquitetura, Sergio Conde Caldas.

Entre os lançamentos previstos, o de maior VGV - de R$ 270 milhões - está localizado na Tijuca, na zona norte. No empreendimento avaliado em R$ 270 milhões, Caldas quer repetir o conceito do condomínio de luxo Parque Manjope, lançado pela Concal há quase 30 anos no Jardim Botânico, modelo muito comum na Barra da Tijuca, mas pouco usual na zona sul.

Na esteira de lançamentos de alto padrão, a incorporadora Marcus Cavalcanti lançou imóvel com VGV de R$ 200 milhões, também no Leblon. "Estamos otimistas que as coisas vão acontecer", diz o fundador da empresa, Marcus Cavalcanti.

O diretor de incorporação da RJZ Cyrela, Carlos Bandeira, diz que lançamentos recentes, a partir do segundo semestre de 2018, tiveram demanda elevada. "Temos procurado lançar imóveis que não temos dúvidas de que irão bem", afirma. Este ano, já lançou um empreendimentos de alto padrão em Botafogo e Laranjeiras e avalia outros dois na Lagoa e na Barra. Também vê demanda aquecida para o segmento econômico na cidade.



Valor Econômico, Juliana Schincariol, 13/set