Opção para buscar maiores retornos na renda fixa, as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) ainda não estão disponíveis para a maior parte dos investidores. A primeira emissão foi feita em novembro e, desde então, são R$ 8,9 bilhões em LIGs na carteira de clientes de Bradesco, Inter, Itaú e Santander, únicas instituições que já oferecem o produto.
Segundo diretores desses bancos, praticamente todas as aplicações vieram do segmento private - pessoas com patrimônio superior a R$ 3 milhões, em geral. O volume negociado desses papéis ainda é 17 vezes menor que o das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Os dois ativos são isentos de Imposto de Renda.
Mas esse cenário deve mudar, dizem os executivos. Um dos motivos é o possível fim da isenção às LCIs, defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. "Caso o governo decida deixar as LIGs de fora dessa mudança, elas teriam uma grande vantagem e a procura aumentaria. Agora, os emissores estão aguardando a decisão do governo para prosseguir com as ofertas. Estamos animados com a possibilidade de ela crescer", diz o diretor de investimentos do Banco Inter, Rafael Rodrigues.
Outro fator que ainda deixa o mercado em compasso de espera é a falta de regulamentação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia que regula o mercado financeiro precisa definir como serão feitas as ofertas públicas de LIGs. A norma está em audiência pública até a próxima sexta-feira e deve ser publicada ainda este ano, a depender do volume de sugestões enviados.
"Com o complemento regulatório da CVM, os bancos podem descer na cadeia de clientes. O produto deve deslanchar e ter um bom crescimento no ano que vem", acredita Luciano Diaferia, superintendente de produtos do Itaú Unibanco. "Todo produto começa devagar até o investidor tomar conhecimento. Há uma curva de aprendizado para entender as características."
Para Rodrigues, do Inter, a clareza das regras será importante para o sucesso dos papéis.
"Tem de ser um processo tranquilo para o emissor e que faça sentido na cabeça do investidor. Se a CVM não colocar muitas amarras, as LIGs devem decolar em popularidade. A relação entre risco e retorno é interessante, porque a liquidez é menor", explica. Segundo Fabio Zenaro, diretor da B3, a Bolsa de São Paulo, depois da regulamentação, as LIGs devem aparecer também nas prateleiras das corretoras, alcançando um público muito maior.
O especialista explica que, assim como a LCI, a LIG tem lastro na concessão de empréstimos imobiliários. Mas, no caso da primeira, esse lastro serve apenas como uma referência, enquanto na LIG ele forma uma "dupla garantia": se o banco que emitiu o produto der calote, os ativos que servem de lastro deverão garantir os pagamentos aos investidores.
Isso não ocorre com a LCI. "Cada LIG vai ter seu próprio lastro, com um perfil mais ou menos arriscado. O risco primário é o próprio emissor e o secundário, a carteira de crédito imobiliário", diz Zenaro.