segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Prefeitura quer liberar prédios em São Conrado


Se depender da administração municipal, a paisagem de São Conrado vai mudar. A prefeitura planeja liberara construção de prédios de até 11 andares (incluindo cobertura) em uma parte da Avenida Niemeyer, entre o Hotel Nacional e as proximidades do Túnel Zuzu Angel, onde hoje só são permitidas casas. Elas, por sua vez, poderão ocupar, caso a ideia vá adiante, uma área de encosta mais alta que a permitida atualmente. 

Outra mudança em análise é o aumento do gabarito em terrenos no entorno da Autoestrada Fernando Mac Dowell (Lagoa-Barra) em trechos ainda não verticalizados. A revisão da legislação urbanística de São Conrado e do Joá será apresentada pela Secretaria de Urbanismo na próxima semana, durante uma reunião do Conselho Municipal de Políticas Urbanas (Compur), formado por técnicos da prefeitura e da sociedade civil.

As mudanças, que já provocam polêmica entre especialistas que tiveram acesso ao documento, dependem da aprovação de um projeto que o prefeito Marcelo Crivella deve enviar ainda este ano à Câmara Municipal. Apesar de a lei sequer ter chegado à Casa, o mercado imobiliário já se animou. Investidores começaram a procurar áreas disponíveis, principalmente na Estrada da Gávea.

Um dos donos do Motel Escort, que ocupa uma área de 2,5 mil metros quadrados na Estrada da Gávea, Manoel Malheiros diz ter recebido várias propostas e se prepara para deixar o negócio em breve: 

- Para viabilizara venda, estamos atualizando os dados do Registro Geral de Imóveis. Os sócios são de três famílias. Muitos já têm mais de 80 anos e nem todos os filhos se interessaram pelo negócio. 

As normas urbanísticas para São Conrado estão em vigor desde 1988, quando foram estabelecidos limites para construções. Na época, o bairro vivia um boom imobiliário, com impacto inclusive no trânsito. 

Passados 31 anos, o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Pedro da Luz, que integra o Compur, vê a proposta de mudaras regras com preocupação. Para ele, o projeto contraria o Plano Diretor da cidade, que definiu a Zona Sul como área de ocupação controlada, onde o adensamento deve ser desencorajado. Ele defende o estímulo a empreendimentos em outras áreas, como a Zona Norte:

- Vivemos em uma cidade entre o mare amontanha. Ao se permitir verticalizações perto de encostas, a paisagem é prejudicada. Um dos melhores exemplos foi justamente a verticalização no entorno do Morro da Viúva, no Flamengo. 

Em vias internas de São Conrado, onde hoje só há casas, o projeto prevê a construção de prédios de até quatro andares (incluindo cobertura) em um padrão de ocupação semelhante a odo Jardim Oceânico, na Barra. Presidente da Associação de Moradores da Rua Capuri, uma das que seriam afetadas, Bernardo Rodenburg diz ser contrário: 

- Somos favoráveis ao desenvolvimento sustentável desde que as características urbanísticas e ambientais sejam preservadas. Essa proposta não segue isso.

O ex-deputado Márcio Fortes, representante do Clube de Engenharia no Compur, tem outra opinião:

- As características de uma cidade mudam com o tempo. Naquele trecho da Niemeyer já foram permitidos prédios mais altos. Sobre as casas, não existe tanta demanda hoje nas ruas internas. Melhor ter prédios do que imóveis abandonados. São Conrado jamais terá um condomínio como o Jardim Pernambuco (no Leblon).

PRÓS E CONTRAS

Integrante da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário, Rubem Vasconcellos concorda em parte com o projeto: 

- Adensar um pouco é bom porque ajuda na segurança pública. Só discordo da ideia para as ruas. Há demanda por casas.

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) prefere opinar somente após a apresentação da proposta, na semana que vem. Mas o arquiteto Lucas Faulhaber, que representa o CAU no Compur, observa que a estratégia da prefeitura vai contra uma política que era defendida pelo próprio Crivella: tratar a legislação da cidade de forma integrada.

- É impossível qualquer intervenção (na Niemeyer )sem desmatar, seja para construir casas o upara escavara encosta, como objetivo de erguer prédios - disse Faulhaber. 

A arquiteta Rose Compans, do Fórum de Planejamento Urbano, também critica: 

- É um plano que só adensa o bairro.

Em nota, a prefeitura argumenta que a maior parte da Niemeyer será preservada e que a implantação da Linha 4 do Metrô deu uma nova dinâmica de circulação de pedestres à região. A administração municipal defende que as mudanças são compatíveis com a preservação domei o ambiente e que nenhuma iniciativa do projeto descaracterizaria São Conrado.



O Globo, Luiz Ernesto Magalhães, 21/set