segunda-feira, 1 de junho de 2020

Hotel Glória será transformado em residencial com serviços


O destino do icônico Hotel Glória está, enfim, selado. Será transformado em um residencial com serviços pelo Opportunity. O fundo de investimento imobiliário do empresário Daniel Dantas fechou um acordo para adquirir o imóvel do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, que recebeu o edifício num pacote de ativos do antigo Grupo EBX - de Eike Batista - como pagamento de dívidas.

Na época, o ex-bilionário tentava vender o Glória por R$ 230 milhões a R$ 250 milhões, mas não encontrou interessados. O negócio, antecipado pelo Diário do Rio, não teve o valor revelado.

"Os estudos estão sendo desenvolvidos para que tenhamos unidades residenciais, permitindo aos moradores viverem num empreendimento como se estivessem num hotel, atendendo muitas das necessidades da vida moderna", diz Jomar Monnerat de Carvalho, gestor do fundo, que confirmou por meio de nota o fechamento do acordo com o Mubadala.

O BFIN, braço da Brookfield, vinha auxiliando o Mubadala a buscar investidores.

Carvalho frisa que o Opportunity vai trabalhar para preservar a memória do hotel, que completa cem anos em 2022: "Vamos trabalhar para resgatar um patrimônio muito importante da cidade. Os projetos iniciais serão apresentados para a Prefeitura e órgãos de patrimônio nos próximos meses", conta ele.

No mercado, a venda do Glória é vista como "muito positiva".

- É uma solução para o Glória e, para o mercado imobiliário do Rio, é uma sinalização muito positiva. Deve repetir o sucesso de vendas do projeto que adaptou (a antiga sede do Flamengo) o Morro da Viúva. São dois endereços-símbolo para o setor de imóveis carioca - avalia Claudio Hermolin, presidente da Brasil Brokers e da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ). - Comprova ainda a demanda por imóveis compactos na cidade, tendência já consolidada no mercado de São Paulo.

Projeto valoriza a região

O Edifício Hilton Santos, antiga sede do Flamengo, no Morro da Viúva, também passou pelas mãos de Eike, que arrendou o imóvel em 2012 para transformá-lo em um quatro estrelas com 450 quartos. O projeto de R$ 100 milhões também não saiu do papel e o prédio acabou devolvido ao Flamengo. Em agosto de 2018, foi arrematado pela RJZ Cyrela. Está sendo convertido em um residencial de luxo, com 148 apartamentos com preços a partir de R$ 2 milhões, com entrega prevista para o ano que vem. 

O Mubadala chegou a contratar a consultoria JLL para elaborar um projeto de uso do Glória.

- Apresentamos uma solução de uso misto, combinando residencial, hotel e alguma operação de varejo. Mas o Mubadala acabou optando por vender o ativo e deixar o negócio. Os interessados pelo hotel vinham majoritariamente do setor imobiliário. O Rio perde um hotel, o que não fará falta diante da atual capacidade de quartos, mas dará um bom uso ao Glória. Vai valorizar a região, e preserva o patrimônio - avalia Ricardo Mader, diretor da divisão Hotels & Hospitality da JLL.

O Opportunity não dá detalhes sobre como será o empreendimento. Um site já no ar, entretanto, anuncia o novo Hotel Gloria Luxury Residence, que ficará exatamente no endereço do hotel. Antecipa que o empreendimento contará com "espaçosos e sofisticados" apartamentos de um a dois quartos, com possibilidade de vaga de garagem, ampla estrutura para a família e serviços. Preços, data de lançamento, prazos e metragens das unidades serão divulgados após a aprovação do projeto.

Idas e vindas ao longo de 12 anos

Inaugurado em 1922, o Hotel Glória foi comprado por Eike em 2008 por R$ 80 milhões. Depois de passar por uma completa renovação - que deveria ter sido concluída antes da Copa do Mundo de 2014, num primeiro momento, e das Olimpíadas de 2016, mais adiante -, a promessa era que o Glória Palace Hotel contaria com 352 apartamentos e duas suítes presidenciais.

Em fevereiro de 2014, o hotel passou ao guarda-chuva do fundo suíço Acron, numa transação de R$ 200 milhões em promessa de venda. O negócio, contudo, não decolou. E, no fim daquele mesmo ano, o ativo já não integrava a carteira da Acron. A partir de então, Eike passou a buscar um novo investidor para tocar o projeto de hotelaria de alto luxo, num esforço que também não teve resultado. 

A Four Seasons, gestora canadense de hotéis de alto luxo, chegou a enviar representantes ao Rio em 2014 para assinar um contrato para a operação do hotel. O negócio, que era dado como certo, desandou juntamente com a parceria de Eike com a Acron.

O hotel acabou passando às mãos do Mubadala em 2016. O fundo árabe fez um aporte de US$ 2 bilhões na EBX em março de 2012. Com a queda do império X no ano seguinte, o Mubadala renegociou sua parceria com o empresário e converteu sua participação na holding em dívida. Até que no início de 2016, levou o Glória e outros ativos do antigo Grupo X como pagamento de dívidas. Em outubro do ano passado, os árabes botaram o hotel à venda.



O Globo, Glauce Cavalcanti, 01/jun