Apaixonada pelo que faz, Márcia é um exemplo de que as mulheres são capazes de pisar com profissionalismo em uma obra. “Desde pequena era vidrada em obras e serviços pesados. Meu pai trabalhava na área e, muitas vezes, levava o almoço para ele e acabava ficando pra ajudar com pequenas coisas. Peguei amor”, lembra ela. Ainda que tenha trabalhado em comércio, como babá e em outros serviços, sua paixão sempre foi a construção civil, onde já atuou como ajudante de obra, auxiliar técnica e encarregada, além de ter encarado seu maior desafio: ser mestre de obra de uma grande construtora.
“Ser convidada para ser mestre de obra foi o reconhecimento de todo o meu esforço e a amostra de que nós, mulheres, podemos assumir cargos importantes em uma obra. Fiz muitos cursos de profissionalização nesta área e até hoje busco aperfeiçoamento. E o caminho é este para quem quer seguir essa carreira: qualificação”, afirma ela.
Quem também optou em trabalhar na construção civil, até mesmo por inspiração na profissão do marido, foi a pintora de obras Liege Lacerda. Em 2012, começou a fazer cursos e a correr atrás de oportunidades de trabalho. “Estava sempre de olho nos cursos do Seconci-Rio, fiz alguns deles, e me interessei pela área de pintura, mas já fiz pavimentação e trabalhei como pedreiro na construção de um grande empreendimento imobiliário aqui, no Rio”, diz ela, que, atualmente, trabalha por conta própria, fechando contratos de trabalho temporário.
Sobre o preconceito no local de trabalho, levando-se em consideração que a profissão é estigmatizada como sendo masculina, Liege diz que, ao contrário, muitos a animaram a continuar na profissão. “Nós temos os mesmos direitos que os homens e, se alguém sofrer algum tipo de preconceito, deve seguir em frente e não dar ouvidos”, ressalta.
Já Márcia Cristina sofreu o preconceito dentro de casa, com o marido que não aceitava a esposa trabalhando em obras. “Optei pela minha carreira e deixei o casamento de lado. No trabalho, felizmente, o preconceito reduziu bastante. No meu caso, sempre fui muito desafiada, não por parte dos gestores, mas por parte dos subordinados. Percebe-se que há admiração, mas também o preconceito”, diz ela, deixando um recado para as mulheres: “Pode ser difícil querer arregaçar as mangas, por conta do preconceito, mas lute pelo que você quer, imponha respeito, com respeito, e se qualifique para galgar na carreira”.
Ajuda da Lei
O aumento do número de mulheres trabalhando na construção civil recebeu uma contribuição a mais: a Lei Estadual nº 7.875, de 2018, que definiu a reserva de, no mínimo, 5% das vagas de emprego na área da construção de obras públicas do Rio de Janeiro para pessoas do sexo feminino.
Pela Lei, a administração pública direta e indireta do Rio de Janeiro precisa inserir essa exigência em todos os editais de licitação de obras públicas e em todos as contratações diretas realizadas com o mesmo fim, sob pena de anulação do edital, se houver inobservância à regra.
SECONCI, 19/out