quinta-feira, 30 de setembro de 2021
BC sobe para 4,7% estimativa de alta do PIB em 2021 e prevê desaceleração no próximo ano
Expectativa de expansão do PIB neste ano subiu de 4,6% para 4,7%. Números foram divulgados por meio do relatório de inflação do terceiro trimestre.
O Banco Central (BC) passou a estimar uma expansão maior do nível de atividade da economia neste ano, mas também vê desaceleração em 2022. Os números constam no relatório de inflação do terceiro trimestre, divulgado nesta quinta-feira (30).
O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos no país, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.
Para 2021, a instituição elevou de 4,6% para 4,7% a sua projeção de crescimento da economia brasileira. Entretanto, para 2022, a expectativa é de uma expansão menor, pois a instituição projeta uma alta de 2,1% para o Produto Interno Bruto.
Segundo o BC, três riscos "relevantes" continuam presentes na economia brasileira: o eventual agravamento da crise hídrica, especialmente se forem necessárias restrições ao consumo de energia elétrica; a evolução da pandemia de Covid-19, que segue sendo monitorada com atenção; e, por fim, ações que piorem as expectativas a respeito da trajetória fiscal podem pressionar os prêmios de risco e a confiança dos agentes.
Os "riscos fiscais" consistem nas dúvidas sobre as contas públicas e a falta de uma estratégia clara do governo para contar a alta da dívida.
No ano passado, por conta dos efeitos da pandemia da Covid-19, o PIB registrou tombo de 4,1%. Entretanto, a economia tem mostrado forte reação nos últimos meses, com a recuperação da atividade mundial e a alta dos preços das "commodities" (produtos básicos, como alimentos, minério de ferro e petróleo) - que também tem gerado inflação ao redor do mundo.
Outras estimativas
A previsão do BC para o crescimento da economia, em 2022, está acima da estimativa do mercado financeiro. Na semana passada, os economistas dos bancos baixaram a expectativa de expansão do PIB de 1,63% para 1,57%.
Entretanto, a expectativa do BC para o próximo ano está abaixo da previsão oficial do governo, feita pelo Ministério da Economia em meados de setembro. Para a pasta, o PIB registrará crescimento de 2,5% em 2022. Nas últimas semanas, o ministro Paulo Guedes tem dito em seminários virtuais que o Brasil voltará a "surpreender" o mundo no próximo ano.
Ao explicar a previsão do governo, no mês passado, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, informou que o segundo semestre deste ano terá um crescimento forte do setor de serviços e do investimento privado, e isso dará as "bases sustentáveis" para o crescimento de 2,5% (para o PIB) em 2022.
O que diz o BC
Segundo o BC, indicadores econômicos recentes sugerem continuidade da evolução positiva da atividade doméstica, o qual contempla "recuperação robusta do crescimento da economia ao longo do segundo semestre".
"A continuidade do arrefecimento da pandemia e os níveis de confiança maiores que os vigentes há três meses favorecem a recuperação da atividade e do mercado de trabalho. Em horizonte mais amplo, a normalização da cadeia de insumos industriais, mesmo que apenas gradual, também deve ter efeitos positivos sobre o crescimento", avaliou a instituição.
De acordo com o Banco Central, as perspectivas para agropecuária e indústria extrativa, em ambiente de preços internacionais de commodities ainda elevados, também são positivas.
A instituição acrescenta, porém, que há fatores que "restringem o ritmo de recuperação no segundo semestre deste ano e durante o ano seguinte [2022]".
"No curto prazo, choques de oferta [falta de insumos e produtos] afetam negativamente atividade e consumo. Adicionalmente, o ciclo de aperto monetário [alta dos juros], cujos efeitos devem ser sentidos principalmente em 2022, tende a diminuir o ritmo de fechamento do hiato [do produto, que é a diferença entre PIB observado e a estimativa do produto potencial]", informou o BC.
Alexandro Martello, G1, 30/set
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
IGP-M tem deflação de 0,64% em setembro, mas ainda acumula avanço de 24,86% em 12 meses
Resultado do mês é explicado pelo tombo no preço do minério de ferro. No ano, índice conhecido como 'inflação do aluguel' acumula alta de 16%.
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) caiu 0,64% em setembro, após alta de 0,66% em agosto, informou nesta quarta-feira (29) a Fundação Getulio Vargas. Trata-se da primeira deflação desde fevereiro de 2020 e da menor taxa mensal desde agosto de 2019 (-0,67%).
Com o resultado, a "inflação do aluguel" passou a acumular alta de 16% no ano e de 24,86% em 12 meses.
A queda foi maior do que a esperada pela mediana das estimativas de 27 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, de 0,45%, com intervalo das projeções indo de baixa de 1,1% a avanço de 0,03%.
O IGP-M também é conhecido como 'inflação do aluguel', por servir de parâmetro para o reajuste de contratos de locação residencial. Além da variação dos preços ao consumidor, o índice também acompanha o custo de produtos primários, matérias-primas e dos insumos da construção civil.
Desde 2020, o índice tem subido bem acima da inflação oficial do país, medida pelo IPCA.
Em agosto, o IGP-M acumulava alta de 16,75% no ano e de 31,12% em 12 meses. Já em setembro de 2020, o índice acumulava alta de 17,94% em 12 meses.
Composição do IGP-M
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que possui peso de 60% na composição do IGP-M, caiu 1,21% em setembro, após elevação de 0,66% em agosto.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30% no IGP-M, subiu 1,19% em setembro, ante 0,75% em agosto.
O Índice de Nacional de Custo da Construção (INCC), com peso de 10% no IGP-M, subiu 0,56% em setembro, repetindo a taxa do mês anterior.
Maiores quedas e maiores altas
Os preços das matérias-primas brutas tiveram as maiores quedas no mês, passando de uma taxa de -1,64% em agosto para -5,74% em setembro.
Entre os maiores recuos do mês, além do minério de ferro, destaque também para o milho em grão (10,97% para -3,18%), soja em grão (7,78% para 0,21%) e bovinos (-0,34% para -1,55%). Em sentido oposto, ficaram mais caros itens como cana-de-açúcar (0,92% para 1,43%), cacau (2,75% para 8,75%), laranja (8,87% para 9,08%).
Já entre os preços ao consumidor, as maiores pressões de alta em setembro vieram da tarifa de eletricidade (5,75%), da gasolina (2,77%), da passagem aérea (16,22%), da taxa de água e esgoto (4,26%) e do etanol (6,13%).
G1, 29/set
terça-feira, 28 de setembro de 2021
Petróleo Brent supera marca de US$ 80 e atinge maior valor desde outubro de 2018
Na segunda-feira, barril fechou em alta de 1,8%, a US$ 79,53, acumulando três semanas consecutivas de ganhos.
O preço do petróleo bateu novas máximas em 3 anos nesta terça-feira (28) em meio às restrições na oferta e aumento da demanda com a retomada econômica e a chegada do inverno no Hemisfério Norte.
O barril do petróleo Brent, referência global, chegou a bater a marca de US$ 80 o barril, enquanto o WTI, referência no mercado americano, superou o valor de US$ 75 o barril.
Segundo a agência Reuters, o Brent atingiu pela manhã o valor de US$ 80,75 – a maior cotação desde outubro de 2018. Nesta segunda-feira, o barril fechou em alta de 1,8%, a US$ 79,53, acumulando três semanas consecutivas de ganhos.
O abastecimento global ficou mais restrito devido uma recuperação da demanda de combustível mais rápida que o esperado, mesmo com surtos da variante Delta do coronavírus, e diante da redução da produção causada pelo furacão Ida nos Estados Unidos.
Surpreendidos pela recuperação da demanda, os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, conhecidos como Opep+, tiveram dificuldade em aumentar a produção, pois a falta de investimento ou atrasos na manutenção persistem devido à pandemia.
Os preços do petróleo são pressionados também pela valorização do dólar no exterior, que torna a commodity mais cara para investidores em outras moedas.
O preço do barril do petróleo nos mercados internacionais é um dos fatores utilizados pela Petrobras para definir o preço dos combustíveis nas refinarias do Brasil.
G1, 28/set
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Concessões de crédito recuam em agosto e juro bancário médio sobe ao maior patamar em 16 meses
Queda no volume de empréstimos foi de 2,12% no mês passado. Cartão de crédito rotativo tem juro mais alto em quatro anos.
Concessões de empréstimos bancários recuaram no mês passado, de acordo com informações divulgadas pelo Banco Central nesta segunda-feira (27).
A taxa média de juros cobrada pelas instituições financeiras também cresceu no período, em linha com a alta do juro básico da economia, a taxa Selic, fixada pelo BC, e atingiu o maior patamar em 16 meses — enquanto a taxa cobrada no cartão de crédito rotativo foi a maior em quatro anos (leia mais abaixo).
Após baterem recorde em julho, as novas concessões de empréstimos recuaram 2,12% em agosto. O cálculo foi feito após ajuste sazonal, uma espécie de "compensação" para comparar períodos diferentes.
Foi a primeira queda nas novas concessões de crédito dos bancos desde dezembro do ano passado. Apesar disso, o patamar de R$ 416,743 bilhões para concessões, em agosto, ficou acima da média dos oito primeiros meses deste ano (R$ 392,855 bilhões).
De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o relançamento do Pronampe, programa do governo federal de empréstimos para micro e pequenas empresas, ajudou tanto no resultado positivo de julho quanto, agora, na queda em agosto.
"O Pronampe foi relançado em junho, e teve concessões concentradas em julho. Não houve a mesma coisa em agosto. Então, houve um aumento grande [em julho] por conta dessa linha, reduzindo-se no mês seguinte. Dessa forma, na minha avaliação, esse resultado [queda das concessões em agosto] é pontual", acrescentou ele.
Segundo o BC, o volume total do crédito ofertado pelos bancos subiu 1,5% em agosto, para R$ 4,335 trilhões, na comparação com R$ 4,271 trilhões em julho. Houve expansão de 1,9% na carteira de pessoas jurídicas e aumento de 1% na de pessoas físicas.
Para todo este ano, o Banco Central estima uma expansão de 11,1% no crédito bancário. Em 2020, impulsionado por linhas emergenciais de crédito para o combate aos efeitos da pandemia, o crédito bancário teve alta de 15,5%.
Inadimplência e endividamento
A taxa de inadimplência média registrada pelos bancos nas operações de crédito ficou estável em agosto, em 2,3%. Nas operações com pessoas físicas, a inadimplência permaneceu em 2,9% no mês passado e, no caso das empresas, ficou estável em 1,5%.
O Banco Central também divulgou nesta segunda estatísticas sobre o endividamento das famílias com bancos. Neste caso, os novos números são referentes a junho.
Segundo o BC, o endividamento voltou a bater recorde naquele mês ao somar 59,9% da renda acumulada nos doze meses anteriores. A série histórica do BC para este indicador começa em janeiro de 2005.
Em janeiro de 2020, antes da pandemia da Covid-19, o endividamento das famílias estava em 48,9%. Em janeiro deste ano, já havia avançado para 57% e, em maio, somava 59,2%.
“O BC olha e monitora constantemente as condições do crédito do sistema financeiro nacional, o que parece estar evoluindo sem maior risco. Do ponto de vista das famílias, a questão fundamental é que o seu acesso, das pessoas físicas, ao endividamento, seja feito com educação financeira e esclarecimento sobre as condições [prazo e juros]”, declarou Fernando Rocha.
Juros bancários
Os juros bancários médios com recursos livres (sem contar habitacional, rural e BNDES) de pessoas físicas e empresas, subiram de 28,9% ao ano, em julho, para 29,9% ao ano no mês passado.
Esse é o patamar mais alto desde abril do ano passado (31,3% ao ano), ou seja, em 16 meses. O aumento está em linha com o comportamento da taxa Selic, fixada pelo BC.
Em março, na primeira elevação em quase seis anos, a taxa básica da economia foi aumentada pelo BC para 2,75% ao ano. Em maio, o Copom elevou o juro para 3,5% ao ano e, em junho, a taxa avançou para 4,25% ao ano. Em agosto, a taxa subiu para 5,25% ao ano e, na semana passada, foi elevada para 6,25% ao ano.
Nas operações para pessoas físicas, o juro bancário médio passou de 39,8% ao ano, em julho, para para 40,9% ao ano em agosto, a maior desde abril deste ano (41,4% ao ano);
Considerando só as empresas, a taxa média de juros bancários passou de 15,5% ao ano em julho para 16,2% ao ano em agosto, a maior desde março de 2020 (16,6% ao ano) ;
No cheque especial das pessoas físicas, a taxa subiu de 124% ao ano em julho para 124,9% ao ano em agosto, a maior desde junho desse ano (125,6% ao ano). Nessa linha de crédito, o BC adotou um teto para os juros;
Nas operações com cartão de crédito rotativo de pessoas físicas, os juros bancários cobrados das pessoas físicas subiram de 331,5% ao ano, em julho, para 336,1% ao ano em agosto, o maior patamar desde agosto de 2017 (392,3% ao ano), ou sejam em quatro anos. Com isso, a taxa segue em patamar proibitivo.
O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente. Essa é uma das linhas de crédito mais caras do mercado e, segundo analistas, deve ser evitada. A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura mensalmente.
De acordo com o BC, o chamado spread bancário médio com recursos livres ficou estável em 21,7 pontos percentuais em agosto. O spread é a diferença entre quanto os bancos pagam pelos recursos e quanto cobram dos clientes.
O spread bancário composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
Nas operações com pessoas físicas, o spread caiu de 32,2 pontos em julho para 32,4 pontos em agosto. Desta forma, ainda segue em patamar elevado para padrões internacionais.
Alexandro Martello, G1, 27/set
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
IPCA-15: prévia da inflação acelera para 1,14% em setembro, maior taxa para o mês desde o início do Plano Real
Gasolina e energia elétrica foram, novamente, as 'vilãs' da alta de preços no país. Com o resultado, inflação acumulada em 12 meses passa de dois dígitos e atinge quase o dobro do teto da meta do governo.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, acelerou de 0,89% em agosto para 1,14% em setembro, apontam os dados divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No ano, o índice acumulou alta de 7,02%. Já no acumulado em 12 meses, o indicador superou os dois dígitos, ficando em 10,05%, quase o dobro do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação deste ano, que é de 5,25%.
O resultado veio pior do que o esperado pelo mercado. Pesquisa da Reuters com economistas estimava alta de 1,02% para o período.
Gasolina e energia: as vilãs da inflação
De acordo com o IBGE, a gasolina e a energia elétrica foram os itens que exerceram os maiores impactos individuais sobre o IPCA-15 de setembro, de 0,17 ponto percentual cada.
O preço médio da gasolina subiu 2,85% entre agosto e setembro e acumulou alta de 33,37% no ano e de 39,05% nos últimos 12 meses.
Já o preço médio da energia elétrica teve alta de 3,61% em setembro, abaixo da registrada em agosto, que foi de 5%. No ano, a alta acumulada foi de 20,27%, enquanto nos últimos 12 meses o aumento acumulado foi de 25,26%.
O IBGE destacou que em agosto d vigorou a bandeira tarifária vermelha patamar 2, com acréscimo de R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos. A partir de 1º de setembro, passou a valer a bandeira tarifária de Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 para os mesmos 100 kWh.
Quase tudo mais caro
O aumento de preços na passagem de agosto para setembro foi, mais uma vez, generalizado entre os produtos e serviços pesquisados pelo IBGE para o cálculo do IPCA-15.
Dos 367 itens que compuseram a cesta analisada pelo órgão no mês, 253 registraram alta. Com isso, o índice de difusão da inflação ficou em 68,9%.
Dos nove grupos pesquisados, oito registraram aumento de preços - somente o de educação teve taxa negativa no mês, embora próxima da estabilidade.
Segundo o IBGE, a alta da inflação no mês foi puxada pelo grupo de transportes, cuja variação mensal foi o dobro da registrada na passagem de julho para agosto, resultado influenciado pela alta de 3% nos preços médios dos combustíveis, acima da alta de 2,02% registrada em agosto.
Além do grupo de transportes, outros três registraram variação superior à do mês anterior (alimentação e bebidas, artigos de residência e saúde e cuidados pessoais). Os outros cinco grupos registraram desaceleração da taxa na comparação com agosto.
Veja o resultado do IPCA-15 para cada um dos grupos:
Alimentação e bebidas: 1,27%
Habitação: 1,55%
Artigos de residência: 1,23%
Vestuário: 0,54%
Transportes: 2,22%
Saúde e cuidados pessoais: 0,33%
Despesas pessoais: 0,48%
Educação: -0,01%
Comunicação: 0,02%
Comida cada vez mais cara
A inflação do grupo Alimentação e bebidas acelerou de 1,02% em agosto para 1,27% em setembro. Desde março, a taxa para este grupo acelera a cada mês.
A principal influência do aumento em setembro, segundo o IBGE, partiu da alimentação no domicílio, que acelerou de 1,29% em agosto para 1,51% em setembro.
As carnes tiveram reajuste de 1,10% e foram as principais responsáveis pelo resultado, com impacto de 0,03 p.p.
Todavia, os alimentos que registraram os maiores aumentos de preços no mês foram a batata-inglesa (10,41%), o café moído (7,80%), o frango em pedaços (4,70%), as frutas (2,81%) e o leite longa vida (2,01%).
No lado oposto, de queda de preços, os destaques ficaram com o arroz (-1,03%), que registrou a oitava deflação mensal consecutiva, a cebola (-7,51%), a sexta taxa negativa seguida.
A alimentação fora do domicílio também acelerou na passagem de agosto para setembro, passando de 0,35% para 0,69%.
“No entanto, observaram-se movimentos distintos nos dois principais componentes desse subgrupo: enquanto a refeição subiu 1,31%, frente à alta de 0,10% no mês anterior, o lanche registrou recuo de 0,46%, após alta de 0,75% em agosto”, destacou o IBGE.
Passagens aéreas voltam a subir
Os preços médios das passagens aéreas subiram 28,76% em setembro, após terem registrado queda de 10,90% em agosto.
No acumulado do ano, as passagens aéreas continuaram registrando deflação. Mas a alta mensal fez com que essa queda acumulada fosse reduzida em mais da metade - passou de -34,52% em agosto para -15,70% em setembro.
Já o indicador acumulado em 12 meses quase dobrou, passando de 29,03% para 56,68%.
Alta em todas as regiões pesquisadas
A alta do IPCA-15 foi registrada em todas as 11 áreas regionais do país em que o IBGE realiza a pesquisa de preços para calcular o indicador.
Fortaleza registrou a menor taxa, influenciada pela queda nos preços do tomate, das carnes e dos produtos farmacêuticos. Já a maior variação foi registrada em Curitiba, onde pesaram as altas da gasolina e da energia elétrica.
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados entre 14 de agosto e 14 de setembro de 2021 e comparados com aqueles vigentes entre 14 de julho a 13 de agosto. O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos
Inflação persistente e acima da meta
A meta central do governo para a inflação em 2021 é de 3,75%, e o intervalo de tolerância varia de 2,25% a 5,25%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).
Na última quarta-feira (22), a entidade monetária decidiu aumentar a Selic de 5,25% para 6,25%. Foi a quinta alta consecutiva da taxa, que atingiu o maior patamar desde julho de 2019.
Na pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central dois dias antes do aumento da Selic, os analistas do mercado financeiro aumentaram de 8% para 8,35% a expectativa para a inflação de 2021.
Para 2022, o mercado financeiro subiu de 4,03% para 4,10% a estimativa de inflação - foi a nona alta seguida no indicador.
No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.
Daniel Silveira, G1, 24/set
quinta-feira, 23 de setembro de 2021
Selic a 6,25%: veja como fica a rentabilidade da poupança e de outros investimentos
Caderneta de poupança passa a ter retorno de 0,36% ao mês e de 4,38% ao ano, mas deve continuar perdendo para a inflação. Veja simulações de como ficam os investimentos nas principais aplicações de renda fixa.
Com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar a taxa básica de juros (Selic) para 6,25% ao ano, aplicações financeiras em renda fixa passarão a render um pouco mais.
A rentabilidade da caderneta de poupança, por exemplo, passará a ser de 0,36% ao mês e de 4,38% ao ano, segundo informa a Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). Até então, com a Selic a 5,25% ao ano, o rendimento da aplicação financeira mais popular do país estava em 0,30% ao mês e de 3,68% ao ano.
Nesta quarta-feira (22), o Banco Central decidiu elevar novamente a Selic em 1 ponto percentual, confirmando as expectativas do mercado. A expectativa dos economistas é de que a taxa Selic continue avançando nos próximos meses, e atinja 8,25% ao ano no fechamento de 2021 em meio às preocupações com uma inflação que tem ficado cada vez mais acima do teto da meta do governo para o ano, que é de 5,25%.
Veja abaixo simulações de como fica a rentabilidade da caderneta de poupança e de outras aplicações de renda fixa.
Simulação de aplicação de R$ 10 mil na poupança
Pela regra em vigor desde 2012, quando a Selic está abaixo de 8,5% a correção anual da caderneta de poupança é limitada a um percentual equivalente a 70% dos juros básicos mais a Taxa Referencial (TR, que está em zero desde 2017).
Veja como fica um rendimento de R$ 10 mil na poupança num prazo de 12 meses, considerando a manutenção da nova taxa de retorno, segundo simulações do diretor executivo da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira:
Antes: rendimento era de R$ 368 (totalizando R$ 10.368 ou 3,68% ao ano)
Agora: rendimento será de R$ 438 (totalizando R$ 10.438 ou 4,38% ao ano)
Vale destacar, porém, que os depósitos feitos até abril de 2012, na chamada "poupança velha", continuam rendendo 0,50% ao mês e 6,17% ao ano (ou R$ 617 para cada R$ 10 mil aplicados).
Poupança x Inflação
Mesmo rendendo mais, a poupança tende a continuar perdendo para a inflação. Já são 12 meses seguidos que a modalidade amarga uma queda no poder de compra.
Desde setembro do ano passado, a poupança vem perdendo rentabilidade em termos reais. Em agosto, o retorno em 12 meses, descontada a inflação, foi de -7,15%, segundo levantamento da provedora de informações financeiras Economatica. Foi o pior rendimento real da poupança desde outubro de 1991, quando o poupador que deixou o dinheiro nesta modalidade perdeu -9,72% no acumulado em 1 ano.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,87% e a inflação oficial do país atingiu 9,68% em 12 meses. Em meio ao aumento do preço da energia e dos combustíveis, os analistas projetam uma aceleração da taxa de inflação em setembro.
Em 2021, os saques nas cadernetas de poupança já superam os depósitos em R$ 15,629 bilhões. O estoque dos valores depositados pelos brasileiros nesta modalidade de investimento, porém, ainda somava R$ 1,036 trilhão em agosto.
Como ficam os outros investimentos
A elevação da Selic tende também a melhorar a rentabilidade de outras aplicações financeiras em renda fixa, como investimentos em títulos públicos, vendidos por meio do Tesouro Direto, além de Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), e debêntures incentivadas, que são títulos emitidos por empresas para financiar seus projetos e operações.
"A renda fixa tem ganhado cada vez mais espaço. Já há investimentos com rentabilidades acima de 10% ao ano na modalidade pré-fixada, algo que não era visto desde o ano de 2017", afirma o CEO e fundador do buscador de investimentos Yubb, Bernardo Pascowitch.
O levantamento do Yubb projeta as rentabilidades anualizadas (12 meses), considerando Selic a 6,25% ao ano, projeção de mercado de inflação de 8,35% ao ano e alíquota de 20% de imposto de renda a prazos de vencimento entre 181 e 360 dias.
Embora a poupança deva continuar perdendo para outras aplicações, a Anefac destaca que a modalidade mais popular do país continuará se destacando, por exemplo, frente aos fundos de renda fixa, principalmente sobre aqueles cujas taxas de administração sejam superiores a 1% ao ano.
Por serem isentos do pagamento de imposto de renda, os rendimentos da poupança podem superar também os de CDBs de grandes bancos.
"Considerando uma aplicação em CDB o investidor teria que obter uma taxa de juros de cerca de 85% do CDI para atingir o mesmo ganho obtido pela poupança nova já que as aplicações em CDB’s pagam igualmente IR de acordo com o prazo de resgate da aplicação", alerta a Anefac.
Onde colocar o dinheiro?
Apesar da maior procura por ativos de renda fixa e da retirada de recursos observada na Bolsa, os educadores financeiros lembram que a diversificação continua sendo fundamental para maximizar os retornos dos investimentos no longo prazo.
Levantamento do Yubb mostra que os investimentos mais buscados neste mês são, pela ordem: CDBs, Tesouro Direto, fundos multimercado e fundos de ações.
Investimentos mais buscados em setembro:
1. CDBs
2. Tesouro Direto
3. Fundos multimercado
4. Fundos de ações
5. Criptoativos
6. LCI/LCA
7. Ações livres
8. LC/RDB
9. Fundos imobiliários (FIIs)
10. Fundos de índice (ETFs)
Fonte: Levantamento Yubb, consideradas as buscas entre 1 e 21 de setembro
Darlan Alvarenga, G1, 23/set
quarta-feira, 22 de setembro de 2021
BC deve elevar juros nesta quarta para 6,25% ao ano, maior nível em dois anos, estima mercado
Se confirmada, será a quinta elevação consecutiva da taxa básica de juros. Banco Central tenta conter a propagação das pressões inflacionárias.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta quarta-feira (22) e deve elevar a taxa básica de juros, a Selic, pela quinta vez seguida, de 5,25% para 6,25% ao ano — o maior patamar desde julho de 2019, ou seja, em pouco mais de dois anos.
Essa é a previsão dos analistas do mercado financeiro, em pesquisa efetuada pelo BC na última semana com mais de cem instituições financeiras. A decisão será anunciada após as 18h.
A expectativa dos economistas dos bancos é de que a taxa Selic continue avançando nos próximos meses, e que atinja 8,25% ao ano no fechamento de 2021.
O principal instrumento do Banco Central para conter a propagação da alta de preços é a taxa básica de juros, que é definida com base no sistema de metas de inflação. Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic, e a reduz quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas.
Para 2021, a meta central de inflação é de 3,75%. Pelo sistema vigente no país, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%. Neste momento, o BC já está olhando para a meta de inflação de 2022 para definir os juros. No próximo ano, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, ficou em 0,87%. Esta foi a maior taxa para um mês de agosto desde 2000. Em 12 meses, a inflação atingiu 9,68%, a mais alta desde fevereiro de 2016.
De acordo com levantamento do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV), mais da metade da inflação, neste ano, é resultado da disparada dos combustíveis, energia e carne. Esses estão entre os itens que mais têm pesado no bolso do brasileiro e na inflação.
O mercado financeiro estima que o a inflação medida pelo IPCA somará 8,35% neste ano, mais do que o dobro da meta central (7,5%) e acima do teto de 5,25% do sistema de metas. Para 2022, a previsão de inflação do mercado está em 4,10%, acima da meta central mas ainda dentro do intervalo de tolerância.
Segundo João Beck, economista e sócio da BRA, o objetivo do Banco Central é buscar atingir a meta de inflação em 2022, e, também, resgatar a confiança do mercado e dos investidores.
"É uma sinalização ao governo que precisa contribuir na sua parte para não criar mais situações inseguras para o investidor resultando na alta do dólar e pressionando a inflação", disse.
Ele avaliou que as pressões inflacionárias brasileiras estão acima do registrado em outros países. "Já era esperada uma inflação residual conforme a vacinação e a atividade fossem acelerando. O problema é que o Brasil passou por uma crise hídrica, geadas históricas e, de quebra, por uma crise institucional no governo que deixa o Congresso inoperante", concluiu.
Risco fiscal
Além da disparada da inflação, analistas avaliam que o chamado "risco fiscal", que são as incertezas sobre as contas públicas no futuro, também tem pressionado os juros neste ano, assim como a taxa de câmbio — o que retroalimenta as pressões inflacionárias.
O risco aumentou, segundo economistas, com a proposta do governo para parcelar precatórios. A área econômica tem dito que o objetivo é abrir espaço no teto de gastos para direcionar mais recursos para a ampliação do Bolsa Família.
A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, entretanto, avalia que é possível pagar os precatórios (sentenças judiciais) e fazer uma ampliação, mesmo que mais modesta, do Bolsa Família em 2022 sem necessidade de alterar as regras vigentes.
Felipe Salto, diretor-executivo da IFI, avaliou demanda por alterar as regras dos precatórios e abrir espaço no orçamento "nitidamente, vai muito além de ampliar auxílio ou Bolsa Família".
Segundo ele, entre as preocupações do governo e dos parlamentares, ao propor a mudança nos precatórios, está a abertura de espaço para gastos, em 2022 (ano eleitoral), com emendas de relator — consideradas menos transparentes que as individuais porque a destinação dos recursos é definida por meio de acertos informais entre parlamentares aliados e o governo federal.
Gabriel Leal de Barros, sócio e economista chefe da RPS capital, estimou que o chamado "risco fiscal" responde por cerca de um ponto percentual na taxa básica de juros. Ou seja, sem essas incertezas sobre as contas públicas, o juro estaria um ponto percentual menor do que o nível atual.
Consequências da alta dos juros
De acordo com economistas, o aumento do juro básico da economia, tem vários reflexos na economia. Veja abaixo os principais:
A elevação da taxa de juros, o aumento do juro básico da economia, se confirmado, resultará em taxas bancárias mais elevadas, tendo impacto maior na linha e crédito para aquisição da casa própria (pois os valores buscados são mais altos). Além do juro básico, o aumento do IOF anunciado pelo governo também impacta o custo final dos empréstimos.
O aumento da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos, impactando, assim, o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.
O aumento da taxa básica da economia gera uma despesa adicional com juros da dívida pública. Gabriel Leal de Barros, da RPS Capital, calculou que o ciclo de alta da Selic de 2% ao ano, em março de 2021, para 6,25% ao ano, se confirmada, geraria uma despesa adicional de cerca de R$ 140 bilhões com juros da dívida (se mantida em 12 meses) - valor semelhante ao orçamento da área de Saúde em 2022.
Aplicações financeiras em renda fixa, como a caderneta de poupança, tendem a render um pouco mais. Com o juro básico em 6,25% ao ano mais taxa referencial (TR), por exemplo, a poupança passará a render 4,37% ao ano, contra 3,67% ao ano, mais TR (com taxa Selic em 5,25% ao ano). Mesmo assim, o rendimento da poupança segue perdendo da inflação.
Alexandro Martello, G1, 22/set
terça-feira, 21 de setembro de 2021
Crise na Evergrande: por que o mercado está em alerta e quais as possíveis consequências para o Brasil e o mundo
Conglomerado de construção civil tem dívida de US$ 300 bilhões e dá indícios que pode dar calote, comprometendo mercado de commodities, bancos e todo o financiamento da economia chinesa.
O mercado financeiro global abriu a segunda-feira (20) em derretimento com notícias preocupantes do grupo de construção chinês Evergrande, levantando preocupações com um possível "alerta de quebradeira" na China – e no mundo.
A reportagem responde abaixo as seguintes perguntas:
Quem é a Evergrande?
O que está acontecendo com a empresa?
Como começou a crise?
Quais os efeitos de um possível calote da Evergrande?
O que pode acontecer agora?
Quais as consequências para o Brasil?
1. Quem é a Evergrande?
A empresa é segunda maior do imenso mercado chinês, a ponto de fazer parte da lista Global 500, da revista Fortune, que reúne as maiores companhias do mundo em receita.
A Evergrande foi fundada em 1996 e alcançou a prosperidade no mercado imobiliário. A empresa assina projetos de construção em 280 cidades, tem uma subsidiária no mercado de veículos elétricos, uma empresa de mídia, um parque de diversões e um time de futebol, o Guangzhou Evergrande.
2. O que está acontecendo com a empresa?
A expansão da Evergrande foi patrocinada por um endividamento sem precedentes. A empresa tem mais de US$ 300 bilhões em débitos abertos, com juros rolando acima da capacidade de pagamento.
Dívida alta costuma ser característica comum em empresas de construção pela própria natureza do negócio. É necessário colocar dinheiro à frente para financiar projetos e aguardar o recebimento aos poucos, conforme os compradores financiam seus imóveis.
A Evergrande, contudo, esticou demais o comprometimento de caixa e a crise mundial causada pela pandemia abalou o faturamento previsto.
3. Como começou a crise?
O primeiro sinal de que havia desajuste aconteceu em agosto do ano passado, quando a construtora pediu socorro ao governo de Guandong (onde está sediada), pois não teria fundos para pagar dívidas com vencimento em janeiro. Um dos grandes investidores da empresa capitaneou o alívio e esticou o prazo de pagamento de US$ 13 bilhões.
Ainda assim, a crise de solvência seguiu. A empresa chegou a desenhar um plano para cortar US$ 100 bilhões da dívida até meados de 2023, mas até agosto havia cortado apenas US$ 8 bilhões. A agência de classificação de risco Fitch diz que algum tipo de calote é “provável”.
A situação chegou ao ponto de, segundo o jornal The New York Times, a empresa “forçar” os próprios funcionários a fazerem empréstimos de curto prazo em setembro deste ano para garantir o pagamento de bônus ao fim de 2021.
Neste sábado, a empresa disse em uma postagem do WeChat que os investidores interessados em resgatar produtos de gestão de fortunas com ativos físicos devem entrar em contato com seus consultores de investimento ou visitar escritórios locais.
4. Quais os efeitos de um possível calote da Evergrande?
Listada na bolsa de Hong Kong, a empresa já perdeu quase 85% do seu valor de mercado. A queda no último pregão, desta segunda, foi de 10%. E o risco de calote de um grupo gigante de construção gera uma série de ameaças, tanto à economia chinesa como aos mercados internacionais.
Em resumo, os primeiros efeitos seriam os seguintes:
A maior parte dos enormes empréstimos tomados pela Evergrande saiu de bancos e instituições financeiras chinesas. Um calote generalizado no setor pode causar insolvência de todo o sistema chinês de financiamento;
Um prejuízo ao financiamento de empresas chinesas pode causar paralisação de atividade em todo o mundo, mais grave ainda nos principais parceiros comerciais do país;
A construção civil é um dos motores de emprego e de retomada da economia chinesa após a pandemia do coronavírus no último ano e meio;
O setor é um dos principais consumidores de commodities, como minério de ferro, cobre, entre outros materiais. Um baque nas cotações internacionais pode impactar países emergentes e exportadores desses produtos, inclusive o Brasil.
5. O que pode acontecer agora?
Para analistas de mercado consultados pelo G1, são dois os aspectos em que o mundo estará atento nos próximos dias. Primeiro, como será (se houver) o plano de resgate da empresa e qual será o impacto nos bancos financiadores e nos setores adjacentes na economia chinesa.
O analista afirma que há ainda uma crise de confiança causada pelo caso Evergrande, em que a disposição de negociar cai. Estima-se que a empresa tenha mais de 1,4 milhão de imóveis em construção, que podem nunca ser entregues.
E que, como a empresa tem um enorme estoque de ativos que precisarão ser liquidados às pressas — que vão de terrenos a casas não vendidas, passando pelo estádio de seu clube de futebol —, haverá uma pressão de desvalorização geral no setor.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava alta de 8,1% do PIB chinês em 2021, segundo maior avanço entre os países analisados para este ano. Um espalhamento da crise da Evergrande pode colocar não só esse número em revisão, como de toda a cadeia global.
Toda a situação da Evergrande cria um dilema especial ao governo chinês. Por um lado, o presidente Xi Jinping precisa decidir nos próximos dias se cria um plano de resgate à empresa e se torna conivente com os excessos no sistema financeiro. Por outro, deixa a Evergrande afundar e coloca em risco toda a economia chinesa, que ainda se recupera da pandemia.
6. Quais as consequências para o Brasil?
A China é a principal parceira comercial do Brasil, em especial pela compra de commodities. Em plena pandemia do coronavírus, a balança comercial brasileira colheu superávit de US$ 50,9 bilhões, dos quais US$ 68 bilhões foram em exportações aos chineses.
Segundo a FGV, o superávit comercial do Brasil com a China equivale a 70,4% do saldo do país de janeiro a maio deste ano.
Nesta tarde, o resultado se mostrava na cotação das principais empresas exportadoras com ações listadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3. Às 15h, a Vale acumulava queda de 5%. A Petrobras, de 3%. Braskem caía 9%. O Ibovespa, índice das principais ações da bolsa, recuava mais de 3%.
Raphael Martins, G1, 21/set
segunda-feira, 20 de setembro de 2021
Bovespa cai mais de 3% e perde o patamar dos 108 mil pontos
Na sexta-feira, Ibovespa fechou em queda de 2,07%, a 111.439 pontos. No ano, perda é de mais de 6%.
O principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, a B3, opera em forte queda nesta segunda-feira (20), se aproximando de mínimas no ano, em dia de fortes perdas no mercado externo com a expectativa de calote no mercado imobiliário chinês, e à espera das decisões sobre juros aqui e nos EUA, na quarta-feira.
Às 13h56, o Ibovespa recuava 3,25%, a 107.815 pontos. Veja mais cotações.
Na sexta-feira, a bolsa fechou em queda de 2,07%, a 111.439 pontos, acumulando baixa de 2,49% na semana. Na parcial do mês, o Ibovespa tem perda de 6,18%. No ano, o recuo é de 6,37%.
Na melhor marca do ano, no dia 7 de junho, o Ibovespa chegou a atingir 130.776 pontos. Já o pior nível foi registrado em 26 de fevereiro, quando a bolsa fechou aos 110.035 mil pontos. A pior marca intradia do ano foi registrada no dia 2 de março (107.319 pontos).
Cenário
Segundo profissionais do mercado, o risco da incorporadora chinesa Evergrande não pagar juros de dívida que vencem nesta semana e na próxima deve agravar a desaceleração da economia.
Isso piorava as previsões para a economia mundial, cuja recuperação dos efeitos da pandemia já sofria revezes na Europa e nos Estados Unidos com a disseminação da variante Delta, derrubando commodities como minério de ferro e petróleo.
"Além disso, as atenções estão voltadas para a reunião do Fomc na quarta-feira, que poderá trazer detalhes sobre a redução do programa de ativos", afirmou em nota a clientes a equipe de pesquisa econômica do Bradesco em alusão a encontro do comitê de política monetária do Federal Reserve, na quarta-feira.
Simultaneamente, o Banco Central brasileiro anuncia também na quarta-feira a nova taxa de juro, com o consenso do mercado de que a Selic seja elevada em 1 ponto percentual, a 6,25% ao ano, o que pode reduzir ainda mais a previsão de alta do PIB brasileiro em 2022, enquanto ainda enfrenta inflação alta.
"Esse ambiente pode pesar em setores que dependem tanto de linhas de crédito acessíveis como de mais estímulos econômicos", afirmou à Reuters Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora.
Nesta semana, tanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) como o banco central brasileiro decidem suas novas taxas de juros.
Segundo o Boletim Focus, divulgado mais cedo, os agentes do mercado já esperam inflação de 8,35% este ano. Já a projeção para a Selic no fim de 2021 foi elevada para 8,25%. A previsão para a alta do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022, por sua vez, foi reduzida para 1,63%.
Na agenda doméstica, entram em vigor nesta segunda-feira as novas alíquotas do IOF – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários para custear o Auxílio Brasil, programa proposto pelo governo para substituir o Bolsa Família.
O governo federal elevou IOF para financiar novo Bolsa Família. O aumento vale até 31 de dezembro e deve arrecadar R$ 2,14 bi em 2021. Com o decreto, a alíquota diária do IOF sobre empréstimos passará de 1,50% ao ano para 2,04% para pessoas jurídicas. Já as pessoas físicas passarão a pagar 4,08% anuais ante à alíquota atual de 3% ao ano.
G1, 20/set
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
Mais da metade da inflação é resultado da disparada dos combustíveis, energia e carne, aponta levantamento
Descontados esses itens, IPCA acumulado em 12 meses estaria em 4,37% em vez da taxa oficial de 9,68%, segundo estudo do ISAE/FGV.
Os combustíveis, a energia elétrica e a carne estão entre os itens que mais têm pesado no bolso do brasileiro e na inflação oficial do país, que chegou a 9,68% no acumulado em 12 meses até agosto.
Se os preços desses itens tivessem permanecido estáveis em vez de dispararem, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estaria abaixo de 5% e ainda dentro da meta fixada pelo governo para o ano. É o que mostra levantamento do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV).
Segundo o estudo, elaborado pelo economista e professor Robson Gonçalves, os itens gasolina, etanol, diesel, gás de botijão, energia elétrica e carnes vermelhas foram responsáveis por mais da metade da taxa acumulada em 12 meses até agosto, respondendo por 5,31 pontos percentuais do IPCA. Ou seja, sem esses 6 itens, a inflação seria de 4,37%, em vez dos atuais 9,68%.
O levantamento do economista mostra ainda que, se os preços dos combustíveis, energia e da carne tivessem permanecido estáveis, o INPC estaria em 4,91% no período de 12 meses até agosto, em vez dos atuais 10,42%.
"Essa inflação tem um aspecto que é difícil fugir dela. E a implicação disso que é que outros itens acabam sendo sacrificados para que se consiga pagar conta de energia, o botijão de gás, e assim por diante", acrescenta.
Inflação muito acima da meta para o ano
Desde março, o IPCA acumulado em 12 meses tem ficado cada vez mais acima do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação par 2021, que é de 5,25%. A inflação persistente em meio a um cenário de piora da crise hídrica e de tensão política tem levado diversos economistas a preverem uma inflação maior para este e o próximo ano.
No último boletim Focus — levantamento semanal de expectativas do mercado realizado pelo Banco Central — a projeção para a inflação em 2021 passou de 7,58% para 8%. Para 2022, a previsão foi elevada de 3,98% para 4,10%.
Gasolina e energia são itens com maior peso na inflação
A disparada da gasolina e da energia elétrica tem um agravante extra pois são gastos essenciais e com maior peso na composição do IPCA entre os mais de 400 itens e subitens monitorados pelo IBGE para o cálculo da inflação oficial.
A gasolina tem um peso de 5,98% na taxa e a energia elétrica, 4,81%. Considerando a soma dos 6 itens da cesta do levantamento do ISAE/FGV, o peso chega a 16,23%. É por isso que a alta destes itens impacta tanto na inflação e na percepção de perda de poder aquisitivo.
O cenário de preços nas alturas e de desemprego elevado tem reduzido a qualidade do prato feito dos mais pobres. Para as famílias com renda de um salário mínimo, o preço da cesta básica de alimentos passou a consumir 65,32% dos ganhos mensais, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Comparativo com outros países e fatores de pressão
Conforme mostrou reportagem do G1, no comparativo com os outros países da América Latina, a inflação do Brasil só fica atrás de Argentina e Haiti.
Analistas têm alertado que o controle da inflação tem sido afetado especialmente pela piora da crise hídrica e pelo câmbio, que tem refletido o aumento da tensão política e crise institucional provocada pelo presidente Jair Bolsonaro.
"Essa inflação, em grande medida, é resultado do dólar que cede por conta do clima político muito ruim. Carne é um produto de exportação, combustíveis são produtos transacionáveis. A energia tem uma influência hídrica, mas tem uma uma influência do dólar também quando você aciona as termoelétricas", explica Gonçalves.
Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que o "barulho político” tem impedido a queda da cotação do dólar.
Darlan Alvarenga, G1, 17/set
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