No 4º trimestre, economia avançou 0,5% em relação aos 3 meses anteriores, após retrações de 0,3% no 2º trimestre e de 0,1% no 3º trimestre. PIB supera perdas de 2020 com a pandemia, mas ainda está 2,8% abaixo da melhor marca histórica, alcançada em 2014.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 4,6% em 2021 e o país saiu da recessão técnica no 4º trimestre, segundo divulgou nesta sexta-feira (4) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores correntes, o PIB chegou a R$ 8,7 trilhões no ano passado.
O resultado ficou em linha com o esperado pelo mercado e vem após o tombo histórico de 3,9% com a pandemia em 2020.
Já o PIB per capita alcançou R$ 40.688,1 em 2021, um avanço real de 3,9% ante o ano anterior, mas ainda sem recuperar o padrão pré-pandemia.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. O crescimento da economia brasileira em 2021 foi puxado principalmente pela recuperação do setor de serviços, em meio ao avanço da vacinação e flexibilização das medidas de restrição para conter a propagação do coronavírus.
O crescimento de 4,6% em 2021 foi a maior taxa desde 2010, quando houve expansão de 7,5%.
"No ano em que a pandemia mais afetou a atividade econômica, o PIB caiu 3,9%. E, no ano passado, a economia se recuperou e superou as quedas", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, destacando que em 2020 foi registrada a maior queda desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996.
Principais destaques do PIB em 2021:
Serviços: 4,7%
Indústria: 4,5%
Agropecuária: -0,2%
Consumo das famílias: 3,6%
Consumo do governo: 2%
Investimentos: 17,2%
Exportação: 5,8%
Importação: 12,4%
Construção civil: 9,7%
Comércio: 5,5%
O que puxou a alta
O crescimento de 4,6% da economia em 2021 foi puxado pelas altas nos serviços (4,7%) e na indústria (4,5%), que juntos representam 90% do PIB do país. Por outro lado, a agropecuária teve queda de 0,2%.
Do lado da demanda, o consumo das famílias – motor do PIB brasileiro há anos – avançou 3,6% e o do governo subiu 2%. Já os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) avançaram 17,2%, foram puxados pelos segmentos de máquinas e equipamentos e construção.
A taxa de investimento no ano de 2021 foi de 19,2% do PIB, acima dos 16,6% registrados em 2020, mas ainda longe do pico de 2013, quando chegou a superar 21%. A taxa de poupança foi de 17,4% ante 14,7% em 2020.
A balança de bens e serviços registrou alta de 12,4% nas importações e de 5,8% nas exportações, com o país importando mais do que exportou, o que gerou esse déficit na balança de bens e serviços. O setor externo teve um impacto negativo de 1% no resultado do PIB.
País sai da recessão técnica
No 4º trimestre, o avanço foi de 0,5% em relação aos 3 meses anteriores, após ter registrado quedas de 0,3% no 2º trimestre e de 0,1% no 3º trimestre. Ao voltar a crescer na reta final do ano, a economia saiu da recessão técnica, caracterizada por dois trimestres seguidos de retração.
O avanço registrado nos 3 últimos meses do ano veio acima do esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de crescimento de 0,1%.
Pela ótica da despesa, o consumo das Famílias cresceu 0,7% e a despesa do governo, 0,8%. Já os investimentos tiveram alta de 0,4%. As exportações de bens e serviços caíram 2,4%, enquanto as Importações de bens e serviços avançaram 0,5% em relação ao terceiro trimestre de 2021.
Frente ao 4º trimestre de 2020, o PIB avançou 1,6%, a quarta alta seguida, após quatro trimestres no campo negativo nesta comparação.
Recuperação desigual e incompleta
Apesar do crescimento do PIB no ano passado, a retomada da economia brasileira ainda se mostrou desigual e incompleta, com apenas parte dos segmentos da retomando o patamar pré-pandemia – aquele de fevereiro de 2020, quando foram lançadas no país as primeiras medidas de restrição para conter o avanço da Covid-19.
Segundo o IBGE, o patamar de consumo das famílias no final de 2021 ainda ficou 1,3% abaixo do padrão pré-pandemia e o consumo do governo, 0,7% abaixo. Por outro lado, os investimentos ficaram 16,9% acima do nível do 4º trimestre de 2019.
Entre os setores que ainda patinam, sem ter conseguido retomar o nível de receita de antes da pandemia, estão as atividades de de serviços caráter mais presencial, que dependem da maior circulação de pessoas, como lazer e turismo, e segmentos da indústria afetados pela desarticulação das cadeias produtivas durante a pandemia e pela falta de insumos.
Mesmo com a superação das perdas de 2020, os analistas alertam que para o ano o cenário é de estagflação. Ou seja, crescimento perto do zero e inflação ainda elevada, com a alta da taxa de juros e as incertezas relacionadas à eleição presidencial e à guerra na Ucrânia colocando riscos adicionais de freios para o PIB.
Mesmo com a queda do desemprego nos últimos meses, a Selic e inflação persistente têm tirado o poder de compra e de consumo das famílias. Ainda são 12 milhões de desempregados no país, o rendimento médio do trabalhador atingiu no final do ano a mínima histórica e inadimplência chegou no maior patamar em 12 anos.
Os economistas do mercado financeiro projetam atualmente um avanço de apenas 0,30% do PIB em 2022, bem abaixo da média global, e inflação de 5,60%. Para 2023, o mercado trabalha com a expectativa de alta do PIB em 1,50%.
Darlan Alvarenga e Thaís Matos, G1, 04/mar