Presidente do Banco Central deu declaração em evento do TCU e da Fiesp. Campos Neto voltou a dizer que inflação está 'persistente' no Brasil e deve atingir pico em abril.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (23) que a guerra na Ucrânia levará o mundo a um período "relativamente longo" com a inflação maior e o crescimento econômico menor.
Campos Neto deu a declaração ao participar de um evento organizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A Ucrânia foi invadida pela Rússia há um mês, em 23 de fevereiro. Desde então, as incertezas mundiais causadas pela guerra fizeram, por exemplo, o preço do barril do petróleo disparar; e as bolsas de valores registrarem sucessivas quedas.
"[O efeito da guerra] significa para o mundo um período relativamente longo de menos crescimento e mais inflação", afirmou Campos Neto.
Durante o evento desta quarta, Campos Neto disse que a guerra tem gerado o "redesenho" das cadeias globais de produção, com empresas buscando sair da Rússia, se estabelecendo em outros países.
Internet
Ainda no evento desta quarta-feira, Campos Neto declarou que a guerra na Ucrânia é a primeira com a existência de mídias sociais, o que tem, para ele, pressionado as empresas a deixarem a Rússia.
"Foi a primeira guerra mundial onde as empresas tiveram um papel muito importante, centenas de empresas decidiram fechar negócios na Rússia. Quem não fez, sofreu boicote dos usuários e mudou de ideia", declarou.
Com a reorganização das chamadas cadeias globais de produção, ou seja, com a saída de empresas da Rússia e da China, ele avaliou que uma "oportunidade secular" para o Brasil se inserir nas cadeias globais de valor, ou seja, de atrair empresas que estão deixando esses países, aumentar sua produção e exportação.
"O mundo vai sair disso, independente do que vai acontecer, polarizado. Vai ter um mundo ocidental, com empresas fazendo negócio no mundo ocidental. A gente começa a ver através dos olhos das empresas privadas que essa divisão está acontecendo", declarou o presidente do BC.
Inflação no Brasil
Campos Neto também voltou a dizer nesta quarta que a inflação no Brasil deve atingir o pico no mês de abril.
"O Brasil tem se diferenciado no combate à inflação, tem sido mais atuante em uma inflação que entendemos ser mais persistente. A gente precisa endereçar esse problema com serenidade e firmeza", disse.
Para combater a alta de preços, o BC tem elevado a taxa básica de juros da economia, que atingiu 11,75% ao ano neste mês — o maior patamar em cinco anos. A instituição indicou, ainda, que deve continuar subindo o juro básico da economia nos próximos meses.
Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, acelerou para 1,01%. Foi a maior variação para um mês de fevereiro desde 2015, mesmo sem considerar o reajuste nos combustíveis anunciado recentemente pela Petrobras.
Alexandro Martello, G1, 23/mar